São Paulo, sábado, 15 de maio de 2010 |
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Passsagem para o Irã
Na semana em que Lula desembarca em Teerã, quadrinhos políticos do Irã ganham versão em português
FERNANDA MENA DA REPORTAGEM LOCAL Na semana em que o presidente Lula desembarca em Teerã, uma história em quadrinhos de temática política, que virou sensação na internet, ganha versão em português. "O Paraíso de Zahra" conta a história de uma mãe em busca do filho, Mehdi, desaparecido após um protesto contra as eleições de junho de 2009 que mantiveram o presidente Mahmoud Ahmadinejad no poder. A graphic novel é criada em tempo real, como uma novela na internet, e sua autoria é mantida sob anonimato. Isso porque o roteirista iraniano, identificado apenas como Amir, e o desenhista árabe, Khalil, têm medo de que seus familiares no Irã possam sofrer represálias do governo. Em entrevista à Folha, Amir reconhece que a ameaça nuclear do Irã desvia a atenção da comunidade internacional das violações de direitos humanos que ocorrem no país, e desconfia da aproximação de Lula com Ahmadinejad. "O Brasil quer ter relevância internacional. Mas é difícil entender por que Lula dá credibilidade diplomática para Ahmadinejad quando sua guarda revolucionária está massacrando o povo iraniano. Ele deveria saber que o presidente iraniano tem mais em comum com Pinochet do que com Allende", avalia ele, que é jornalista e ativista de direitos humanos. O enredo de "O Paraíso de Zahra" é inspirado na história da estudante Neda Soltan, morta com um tiro no peito durante um desses protestos, em junho de 2009. A cena foi toda filmada e correu o mundo via YouTube em poucas horas para depois chegar aos jornais e à TV como símbolo dos abusos do atual regime iraniano. A instantaneidade com que a internet revelou ao mundo o que os aiatolás tentam esconder deu a Amir e Khalil a ideia de criar uma história em quadrinhos que usasse o mesmo recurso para o mesmo fim. No site, eles misturam ficção ao desenrolar das questões sociais e políticas do Irã de hoje. "A internet e suas mídias sociais estão conectando pessoas do mundo todo a eventos ocorridos no Irã. Estamos vendo as primeiras marolas desse movimento surgirem agora. Mas há um tsunami a caminho. E queremos surfar nele!", diz. "É muito gratificante ver leitores do mundo inteiro postando comentários no site." A história é traduzida semanalmente para oito idiomas: do persa ao coreano. O português será o nono da lista, publicado a partir da semana que vem. Quando for finalizada, em agosto de 2011, a história ganha versão em papel. No Brasil, o livro será publicado pela editora Leya. "O Paraíso de Zahra" segue a trilha aberta por "Persépolis", quadrinhos de Marjane Satrapi que retratam de maneira autobiográfica os períodos pré e pós Revolução Islâmica de 1979. "Eu amo Marjane Satrapi. Ela deu início a uma nova tradição que dá voz a toda uma geração de iranianos", afirma o autor. "Ela apresentou um novo caminho para histórias do Irã e também revelou que os quadrinhos são grandes rompedores de barreiras de espaço, tempo e linguagem." Para Amir, o presidente Lula poderia usar sua vista ao Irã, que começa hoje, para romper outra barreira. "Lula deveria exigir a libertação de prisioneiros políticos, a liberdade de imprensa e as eleições livres." Como "O Paraíso de Zahra" incorpora na trama os eventos do período em que é produzida, Lula corre o risco de virar personagem, por bem ou por mal. Veja trechos de "O Paraíso de Zahra" em português www.folha.com.br/1013323 Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Frase Índice |
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