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"Vi pouco a Cultura", diz presidente da TV
Recém-eleito para o cargo, João Sayad confunde o "Cocoricó" com o "Vila Sésamo", principais programas da emissora
Ex-secretário da Cultura
diz que saber pouco da programação e de TV "pode ser uma vantagem': "Estou mais aberto à criatividade"
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Esse é o Vila Sésamo", disse
à Folha João Sayad, 64, novo
presidente da TV Cultura, ao
ver foto do "Cocoricó", principal programa da emissora.
Para quem não sabe, "Vila
Sésamo" tem também uma
versão produzida pela Cultura.
Diante da confusão, Sayad,
que antes de ver a foto não sabia se "Cocoricó" era desenho
ou programa de bonecos, admitiu pouco ver a TV Cultura.
"Não fiz a lição de casa. Preciso ver mais." Argumentou
que "isso pode ser uma vantagem". "Posso ser mais aberto."
Por enquanto, o único plano
mais concreto que tem para
programação é uma premiação
dos piores da TV aberta. "Podemos eleger a pior novela, o pior
programa de auditório. É uma
forma de discutir televisão."
Ex-secretário de Estado da
Cultura de São Paulo, Sayad
afirmou que irá se concentrar
em problemas jurídicos e financeiros da instituição.
Após a entrevista com a Folha, na quinta-feira, ele se despediu do prédio da secretaria.
Em junho, assume a emissora.
Leia trechos da entrevista.
FOLHA - O que houve na eleição da
Cultura? Soube que o sr. havia ligado para Paulo Markun [então presidente] dizendo que ele seria candidato único, mas, após uma semana,
anunciou que o sr. iria concorrer.
JOÃO SAYAD - Foi muito desgastante. Fiquei chateado de ter
criado esse desgaste ou ser parte desse processo. Sou amigo do
Markun, é um profissional respeitado, prefiro não tocar nisso.
Já passou. As coisas em política, a nível pessoal, podem ser
muito tensionantes. O ideal para mim é passar para frente.
FOLHA - O que o sr. acha de o presidente da TV Cultura ser sempre alguém indicado pelo governador?
SAYAD - É contradição de toda
organização autônoma que depende de verba do governo.
FOLHA - A contradição seria atenuada se o repasse estatal caísse?
SAYAD - Imagina se o presidente da Cultura vai querer que o
repasse diminua! A fundação
tem uma receita de R$ 200 milhões, e vem do Estado R$ 85
milhões. É muito importante.
Se o conselho quer mais autonomia, isso precisa ser tratado juridicamente. É uma fundação pública de direito privado, ambiguidade com custos altos na Justiça trabalhista.
FOLHA - O sr. acha que a TV deveria
ser mais independente do Estado?
SAYAD - Deveria ter autonomia
maior, mas não consentida, e
sim definida na organização jurídica e financeira.
Discutirei com juristas e conselho a organização jurídica,
que cria dificuldades nas relações trabalhistas. Dissídios são
fixados, mas têm de ser aceitos
pelo Codec [Conselho de Defesa dos Capitais], que fixa a política salarial do governo.
Se não forem, a Cultura não
pode pagar, isso vai para a Justiça. É um passivo trabalhista
que cresce e atrapalha.
FOLHA - Há medo de demissões.
SAYAD - É uma preocupação
que tem todo o meu respeito.
Falam em números entre 1.700
e 2.100 funcionários.
Os representantes dos sindicatos acham que há inchaço, o
que é surpreendente. É um
problema a ser analisado.
FOLHA - Quando estava no governo, o sr. criou o contrato de controle
à TV Cultura. Como vê isso agora?
SAYAD - A Cultura precisa se
comprometer com o conselho e
com um dos maiores financiadores dela [o governo] com um
programa de trabalho.
FOLHA - O sr. critica o jornalismo.
SAYAD - O jornalismo tem que
ser bom. A Cultura persegue a
ideia mítica de jornalismo público. Há jornalismo privado?
FOLHA - O sr. diz que discursos de
sustentabilidade e cidadania são vazios. Afastará isso da emissora? Acabará, por exemplo, com programas
como "Repórter Eco", "Ecoprático"?
SAYAD - Palavras na moda perdem o significado. Não quer dizer que farei programa poluidor. Não conheço esses programas profundamente.
Para julgar um programa, antes do estilo ou formato, se trata de ecologia ou não, tem de saber se é bom, tornar claro o critério de avaliação, com atributos como audiência, repercussão, pioneirismo, custo.
Dizem que uma das forças da
TV é estabilidade da programação. Não pode ser manipulada
com urgência e subjetividade.
FOLHA - O sr. assiste à Cultura?
SAYAD - Tenho agora assistido.
FOLHA - O que tem visto?
SAYAD - Uns documentários. Vi
pouco. Ainda não fiz a lição de
casa, vou ver mais.
FOLHA - E a programação infantil?
SAYAD - A Cultura tem tradição
e talento especial para isso e devemos prosseguir.
FOLHA - Como fica a questão do
"Cocoricó", que, apesar de ser o
principal programa, tem uma equipe sem vínculos com a emissora?
SAYAD - O "Cocoricó" é desenho ou de bonecos?
FOLHA - Bonecos, é esse aqui [repórter mostra foto do "Cocoricó"].
SAYAD - Esse é "Vila Sésamo".
FOLHA - Não, é "Cocoricó".
SAYAD - É a mesma cara. Acho
que foi copiado do "Vila Sésamo" [risos]. Bom, sobre a equipe, não posso dar resposta. É
um problema que espero começar a entender.
FOLHA - O fato de o sr. não ser de
TV, de não saber se é "Cocoricó" ou
"Vila Sésamo", não é um problema?
SAYAD - Pode ser vantagem.
Espero reunir bons profissionais. Posso ouvir a todos e ser
mais aberto à criatividade.
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