São Paulo, quinta, 15 de maio de 1997.



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Tio Dave, o repórter em quem você confia

DAVID DREW ZINGG
Em Sampa

Um leitor amigável acaba de me escrever, dizendo: "Tio Dave, você é o repórter em quem eu mais confio. Você não quer me pôr a par das últimas notícias, as mais importantes -aquelas que costumam cair nas frestas do assoalho da Redação de um grande jornal como a Folha?".
Tio Dave responde: "É claro, meu chapa. Você tirou a sorte grande: todo dia, depois que esse grande jornal completa o ritual assombroso e totalmente estressante conhecido como 'fechamento', eu, pessoalmente, varro o chão da Redação. Cato (e guardo) as notícias que, por falta de espaço, deixaram de ser publicadas".
Esses itens que acabam sendo descartados, mas que costumam ser de interesse vital, são cuidadosamente arquivados para constarem do best seller que pretendo escrever futuramente, "As Notícias que (Quase) Escaparam (E o Teriam Feito, Não Fosse pelos Esforços Dedicados de Tio Dave, o Repórter em Quem Você Adora Confiar)".
Aprendi esse hábito de recuperar as notas de rodapé da história humana depois do horário comercial com um casalzinho de baratas que vivia na Redação de um célebre jornal da Gringolândia, o velho "The New York Times".
Seus nomes eram archie e mehitable, em caixa baixa. Foram criados por outro escritor que é meu herói, Don Marquis. O casal de baratas apaixonadas será tema de uma história que pretendo contar em outra coluna.
Eis, então, algumas vinhetas escolhidas a esmo e que você não teria tido a oportunidade de acompanhar, não fosse pelos esforços dedicados do REQVAC.
* EUA: A revista "Fortune" comenta a visão de longo alcance demonstrada pela empresa Proctor & Gamble, ao registrar nomes para batizar potenciais endereços exclusivos da empresa na Internet. A P&G garantiu o direito de usar, entre outros nomes: toiletpaper com (papelhigiênico.com), pimples.com (espinhas.com), germs.com (micróbios.com), bacteria.com, dandruff.com (caspa.com), underarm.com (axila.com), badbreath.com (mauhálito.com) e diarrhea.com.
* Austrália: A agência de notícias Associated Press informa que os deputados australianos têm por hábito dirigir-se uns aos outros usando epítetos muito mais agressivos do que os empregados pelos congressistas brasileiros.
Entre os termos carinhosos ouvidos recentemente no Congresso do país, figuravam: asqueroso, saco de imundície, gigolô perfumadinho, doente mental de cérebro prejudicado, prostituto e vômito de cachorro.
* EUA: Uma companhia de processamento de alimentos, a Butterball, reportou o mais dramático incidente de Dia de Ação de Graças envolvendo um produto da empresa. A linha de atendimento de emergências da Butterball recebeu uma ligação de uma mulher informando que seu cãozinho de estimação pulou dentro da cavidade abdominal do peru de almoço da família e não conseguiu mais sair.
* ONU: Uma foto publicada na nova revista "Oneworld" mostra os seios da modelo européia Julienne ocultos por barras pretas, enquanto, em outra, a modelo asiática Zhing aparece de topless, sem barras pretas. Um porta-voz da organização explicou que os seios de Zhing foram considerados pequenos demais para ofender a moral e os bons costumes.
* Austrália: Robert Minahan é um "chef" especializado no preparo de crocodilos, no Parque Nacional Kakadu. Enquanto nadava no Barramundi George, foi atacado por um crocodilo de dois metros de comprimento. Disse Minahan, demonstrando possuir postura filosófica: "É uma sensação estranha saber que se está na outra extremidade da cadeia alimentar".
* EUA: A Filadélfia é uma cidade que a maioria de seus habitantes quer deixar. É famosa pelo epitáfio composto pelo comediante W.C. Fields para seu próprio túmulo: "Pensando bem, eu preferiria estar na Filadélfia".
O ex-chefe de polícia e prefeito da cidade, Frank Rizzo, recentemente defendeu sua cidade com rasgos de eloquência: "As ruas da Filadélfia são seguras", disse ele, lealmente. "São as pessoas que as tornam perigosas."
Barbie - Últimas Notícias
Uma das notícias sociológicas mais significativas deste final de milênio é a saga ainda incompleta de Barb, a boneca. Barb é um dos ícones deste nosso século plástico.
Barb parece ser a metáfora de todos nós, brancos e negros, que estamos sendo transformados em bonecos e bonecas humanóides plásticos pelo mágico regime capitalista no qual vivemos.
A questão não demora a se colocar: quem é mais vazio -Barbie, tu ou eu. Uma comparação séria traçada entre qualquer um de nós e a boneca Barbie revela falhas graves no lado dos humanos.
Uma das notícias perdidas que resgatei do chão da Folha dá o que pensar seriamente:
* New Haven, Connecticut: Um cientista da Universidade Yale, escrevendo no "International Jornal of Eating Disorders" (Jornal Internacional de Problemas Alimentares), diz que uma Barbie em carne e osso, cujas medidas fossem baseadas na escala da boneca, teria 2,10 m de altura, com uma cintura 15 cm menor do que a de uma mulher normal.
Para inalar uma dose realmente poderosa de inferioridade, Joãozinho, reflita um pouco sobre o fato de que, para equiparar-se às medidas de Ken, o homem médio teria que elevar-se a 2,30 m de altura -e acrescentar outros 17,5 cm a seus músculos peitorais.
Lembre-se disso...
Enquanto você engole hormônios de crescimento aos punhados, na corajosa tentativa de equiparar-se ao layout físico avantajado de Barbie e Ken, divirta-se lendo algumas reflexões escolhidas entre os dizeres de alguns dos mais eminentes pensadores mundiais.
* "Não temos censura. O que temos são restrições ao que os jornais podem publicar." (Louis Nel, ex-vice ministro da Informação da África do Sul)
* "Dou meu apoio aos esforços feitos no sentido de limitar os mandatos dos congressistas, especialmente o dos deputados e senadores." (Dan Quayle, ex-vice presidente norte-americano)
* "Um contrato verbal não vale o papel no qual está escrito." (Samuel Goldwyn, magnata de Hollywood)
* "Eu não estava mentindo. Apenas disse coisas que, mais tarde, pareceram ser inverdades." (Richard Nixon, falando sobre Watergate)
* "Os perigos inesperados são uma das principais causas de acidentes." (Livreto da Administração de Saúde e Segurança dos EUA)


Tradução Clara Allain




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