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Cinema/estréias
Crítica/"Depois do Casamento"
Drama multicultural evita facilidades
Longa é eficiente cartão de visitas para as tramas de fundo emocional da dinamarquesa Susanne Bier, vinda do Dogma 95
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
A ciranda dos amores de
"Corações Livres"
(2002) e as diferenças
entre os irmãos adultos de
"Brothers" (2004) já haviam
manifestado a predileção da dinamarquesa Susanne Bier pelas chaves dramáticas do melodrama, bem como a habilidade
para conduzi-las de acordo com
os procedimentos de câmera e
montagem comuns aos filmes
do Dogma 95 (do qual "Corações" era legítimo representante). O Dogma 95 foi uma proposta de realização de filmes
com base na economia de
meios (câmera na mão, iluminação natural etc).
Não causa surpresa que o
próximo projeto de Bier,
"Things We Lost in the Fire",
sobre uma viúva que convida o
melhor amigo do marido a viver com ela e os filhos do morto, seja uma produção da
DreamWorks com elenco de
ponta (Halle Berry, Benicio Del
Toro e David Duchovny): ela
conhece as regras de dramaturgia dominantes na indústria
norte-americana e tende a se
dar melhor ali do que o conterrâneo Thomas Vinterberg (cujo êxito em "Festa de Família",
que inaugurou o Dogma 95,
abriu as portas nos EUA para o
fracasso de "Dogma do Amor").
Indicado ao Oscar 2007 de
melhor filme estrangeiro, "Depois do Casamento" funciona
como um eficiente cartão de visitas para as engenhosas tramas de fundo emocional costuradas por Bier e por seu habitual co-roteirista, Anders Thomas Jensen (que escreveu também, no âmbito do Dogma 95,
"Mifune" e "O Rei Está Vivo",
além de assinar o roteiro de
"Meu Irmão Quer se Matar" e a
direção de "Adam 's Apples").
O pano de fundo é multicultural: começamos pela Índia,
onde um dinamarquês (Mads
Mikkelsen, de "Corações Livres", "Meu Irmão Quer se Matar" e "Cassino Royale") trabalha como voluntário em uma
ONG para crianças, e logo vislumbramos que sua trajetória
vai em breve se encontrar em
Copenhague com a de um empresário (Rolf Lassgard) disposto a financiar alguns de seus
projetos socioeducativos.
Alguns dos contrastes que
alimentam o filme já estão
apresentados desde então: a
pobreza do Terceiro Mundo. A
dedicação de um homem abnegado em relação ao egocentrismo de um capitalista selvagem
que parece interessado em apaziguar sua consciência burguesa com alguns trocados para
crianças famélicas. E os espaços amplos de Copenhague em
relação aos apertados cortiços
de Bombaim.
A filha mais velha do empresário, no entanto, vai se casar
no dia seguinte à primeira reunião entre os dois -e, a partir
do que ocorre ali, tudo será bem
diferente. E o que ocorre? Uma
torrente de revelações e de surpresas que faz "Depois do Casamento" parecer, muitas vezes,
uma telenovela latino-americana dublada em dinamarquês.
Longe de se constranger com o
formato, Bier o explora com
domínio, sobretudo, do jogo
entre os atores. E, no fim, consegue evitar a solução fácil e demagógica que se insinuava para
o dilema insolúvel entre os ricos e os pobres do planeta.
DEPOIS DO CASAMENTO
Direção: Susanne Bier
Produção: Dinamarca/Suécia, 2006
Com: Mads Mikkelsen, Rolf Lassgard
Quando: em cartaz nos cines Bombril,
Reserva Cultura e circuito
Avaliação: bom
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