São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2011

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"O presente não me interessa", diz Ellroy

Escritor americano, que lança agora o romance "Sangue Errante", comenta sua paixão pela história dos EUA

Novo livro fecha trilogia que cobre o período entre 1958 e 1972; em julho, autor participa da Flip, em Paraty

ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

"Como é Paraty? Parece que tem praias lindas, não? E eu adoro a natureza!", diz James Ellroy, por telefone, de Los Angeles (EUA).
Surpreendente. A julgar por seus livros -histórias urbanas e cinzas sobre homens violentos em tempos violentos-, Ellroy não parece o típico amante da natureza e da vida saudável.
Este é o homem, afinal, que batizou sua autobiografia, na qual relata a saga para descobrir o assassino da mãe, com o nome "Meus Lugares Escuros".
James Ellroy estará na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) no dia 9/7. Segundo a organização do evento, a mesa do autor já está com os ingressos esgotados.
Ellroy irá lançar no Brasil o livro "Sangue Errante", conclusão de sua "Trilogia Subterrânea dos EUA" ("USA Underworld").
"É a minha obra-prima", diz ele, conhecido por suas entrevistas bombásticas. "É um livro extremamente pessoal, com vários personagens inspirados em pessoas que conheci." O personagem Crutchfield, um detetive particular e assassino, é amigo de Ellroy. Ellroy é um apaixonado pela época abordada na trilogia. "Foi uma fase extremamente rica e terrível da história americana, com grandes personagens -J. Edgar Hoover, Howard Hughes, os Kennedy, Martin Luther King, Nixon."
"Mas na época eu era muito novo", completa. "Só estava interessado em usar drogas e espiar mulheres, não saquei tudo que estava acontecendo." Com a trilogia, Ellroy sacramentou um estilo quase telegráfico de escrever, com frases curtas e uma impressionante escassez de vírgulas e adjetivos.
Ele conta que levou anos aperfeiçoando a técnica: "Eu já havia começado isso em "Los Angeles - Cidade Proibida", mas levei ao extremo na trilogia. Minha intenção é passar para a página uma maneira de escrever tão forte, densa e obsessiva quanto os temas que abordo. Quero que meus leitores reajam intensamente ao que escrevo."
À primeira vista, parece fácil. Mas o segredo da genialidade de Ellroy está justamente em contar histórias complexas, com tramas múltiplas que se intercalam de forma quase orgânica, sem que isso interfira na fluidez de sua narrativa.
Ele diz que escreve todos os dias, por sete a 13 horas. "Não existe liberdade artística sem disciplina."
Seu próximo projeto é um quarteto de romances policiais passados em Los Angeles, nos anos 1940. Por que Ellroy insiste em voltar sempre ao passado? "Basicamente, porque não entendo o presente", diz.
"Não estou sendo irônico, é a verdade: o presente não me interessa. Eu ainda escrevo a caneta, não tenho computador, não vejo TV, e a máquina mais nova que tenho em casa é um fax. A cultura pop me deprime."

SANGUE ERRANTE

AUTOR James Ellroy
EDITORA Record
TRADUÇÃO Ivanir Alves Calado
QUANTO R$ 77,90 (960 págs.)


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