São Paulo, Terça-feira, 15 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Marinês enfrenta os novos

do enviado ao Rio

É caso de ver que às vezes artistas possuem importância bem maior que de apenas artistas. Não fosse a iniciativa de Elba Ramalho, este disco não existiria. E só existe porque Elba abdicou de seu ego artístico e não se avexou em tributar o (hoje quase esquecido) manancial central de seu trabalho. Bravo.
Anexa-se a isso valor político, pois, se muito se ouve falar de Marinês (artistas da linhagem agreste da MPB, hoje novamente em voga, não cansam de render agradecimentos à precursora), muito pouco se ouve de sua música hoje em dia. Dito isso, "50 Anos de Forró" é CD de forró para quem gosta de forró, produzido com todo o luxo.
Vários dos influenciados, e de várias gerações, estão aqui. Vão de Genival Lacerda e Antônio Barros & Cecéu, mais ou menos contemporâneos de Marinês, aos mais ou menos jovens Lenine e Chico César, passando por Ney Matogrosso -que fez, em 1982, com "Por Debaixo dos Panos" (de Cecéu), todo o sucesso que Marinês não fizera com sua versão, de 1978.
O repertório (mais um sinal de inteligência do projeto) equilibra temas bem conhecidos -"Por Debaixo dos Panos", "Lamento Sertanejo" (de Dominguinhos e Gilberto Gil), "Bate Coração" (popularizada por Elba) com outros inéditos, alguns de "novos" artistas.
Do primeiro grupo, destaca-se "Meu Cariri", clássico agreste de Rosil Cavalcante ("só deixo meu Cariri/ no último pau-de-arara"), num dueto com Zé Ramalho, trovejante e messiânico como nunca.
Do segundo, aparece "Coco da Mãe do Mar", de Lenine e Siba (do Mestre Ambrósio), cantada com Lenine. Sob arranjo moderníssimo de forró tecnológico, árido e ácido, deslizam versos engenhosos de neoforró -"é uma roda de jamanta na banguela/ é mais ou menos assim o meu amor por ela".
Temas como esse ou "Fulutiado", de Chico César, evidenciam que um projeto de tal natureza, ainda que óbvio (parece ser lei que todo artista semi-esquecido e resgatado terá necessariamente que engolir um disco cheio de convidados e "sucessos"), pode perfeitamente pouco ou nada guardar de indulgente e/ou saudosista.
O breve passeio de Marinês pela nova música nordestina (e também pela velha, mas aí é questão de cátedra da forrozeira e de produção arretada) prova que, bem acalentada, velhice é coisa que não existe. (PAS)


Avaliação:    


Disco: 50 Anos de Forró Com: Marinês & Sua Gente Lançamento: BMG Quanto: R$ 18, em média

Texto Anterior: Disco - Lançamento: "Luiz Gonzaga de saias" volta ao forró
Próximo Texto: Outros lançamentos
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.