São Paulo, quinta-feira, 15 de julho de 2010

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Ao vencedor, as bananas

Projeto de produtor americano de filmar a vida de Carmen Miranda provoca controvérsias ; direito de levar história da cantora ao cinema é de Paula Lavigne, em uma operação que os herdeiros tentam desfazer

Silver Screen Collection/Hulton Archive/Getty Images
A cantora vestindo traje de baiana, com o qual é lembrada e que começou a usar no fim da década de 30

DENISE MENCHEN
DO RIO

FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES

Antes mesmo de sair do papel, o projeto de um produtor americano de levar a vida de Carmen Miranda aos cinemas provoca uma série de controvérsias.
Intitulada "Maracas: The Carmen Miranda Story" (Maracas: a história de Carmen Miranda), a produção é questionada por representantes dos herdeiros da cantora e gera desconfiança -a maraca, espécie de chocalho, raramente foi usada por Carmen, que tinha no movimento livre das mãos uma de suas características.
Responsável pelo projeto, Buddy Bregman, 80, busca financiamento. A movimentação está sendo feita à revelia dos herdeiros de Carmen, que, em 2009, criaram uma empresa para administrar seu legado.
O advogado Arnaldo Gonçalves Dias, da Carmen Miranda Administração e Licenciamento, diz que a empresa não foi procurada.
Mesmo se fosse, porém, a gravação provavelmente não seria autorizada: o direito de levar a vida da cantora às telas foi vendido em 1998 para a produtora Paula Lavigne, em uma operação que os herdeiros tentam desfazer.
O motivo alegado é a demora de Paula para dar início ao projeto. Ela diz que nada foi feito devido às incertezas jurídicas em torno do contrato -no passado, outra produtora chegou a começar um filme sobre a cantora, depois barrado na Justiça.
"Enquanto não houver uma decisão da Justiça ou um acordo entre as partes, infelizmente esse filme sobre a vida da Carmen não pode sair", lamenta Dias.
Bregman escreveu o roteiro de "Maracas" no ano passado, com base em artigos de jornal. A história aborda desde o nascimento de Carmen, em Portugal, até a morte em Los Angeles, em 1955. Muitos pontos divergem das informações que constam da biografia escrita por Ruy Castro.
Depois de pronto, o roteiro foi entregue à atriz brasileira Julia Melim, 27, radicada em Los Angeles. Ela ajudou na revisão das informações e dos diálogos e montou no Rio a produtora Kritério para tocar o filme com Bregman. Foi ainda escalada para interpretar Aurora, irmã de Carmen.
A atriz, porém, diz ter abandonado o projeto no primeiro semestre do ano. "Fizemos contato com a família [de Carmen], apresentamos o projeto, mas chegamos à conclusão de que não teríamos como seguir adiante por causa dos direitos."
Lavigne diz esperar que a situação seja resolvida sem sua interferência. "Vou consultar minha advogada, mas acho que a família, que me vendeu os direitos, deveria ir atrás disso."

MEDIDAS JUDICIAIS
O advogado Marcos Madeira, da Carmen Miranda Administração e Licenciamento, diz que o produtor será notificado e medidas judiciais não estão descartadas.
Na avaliação da advogada Deborah Sztajnberg, especialista em direitos autorais, o contrato com Lavigne deverá ser considerado caso a Justiça americana seja acionada. Se o documento não existisse, diz, seria difícil barrar a realização do filme. "A tradição americana é diferente. Lá, o filme sai e quem se sentir prejudicado entra com pedido de indenização", diz.
Ruy Castro vê o longa com apreensão. "Carmen será tratada como uma dançarina cubana ou mexicana, que falava espanhol e cantava rumbas. O próprio título, "Maracas", já mostra que, para eles, o Brasil é apenas um México ou uma Cuba mais ao sul."
Ele também teme o uso de informações reveladas por ele na biografia. "Se um outro veículo se apropria do que você levou cinco anos para descobrir, você está literalmente roubado", diz.


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