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Ao vencedor, as bananas
Projeto de produtor americano de filmar a vida de Carmen Miranda provoca controvérsias ; direito de levar história da cantora ao cinema é de Paula Lavigne, em uma operação que os herdeiros tentam desfazer
Silver Screen Collection/Hulton Archive/Getty Images
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A cantora vestindo traje de baiana, com o qual é lembrada e que começou a usar no fim da década de 30
DENISE MENCHEN
DO RIO
FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES
Antes mesmo de sair do
papel, o projeto de um produtor americano de levar a
vida de Carmen Miranda aos
cinemas provoca uma série
de controvérsias.
Intitulada "Maracas: The
Carmen Miranda Story" (Maracas: a história de Carmen
Miranda), a produção é questionada por representantes
dos herdeiros da cantora e
gera desconfiança -a maraca, espécie de chocalho, raramente foi usada por Carmen,
que tinha no movimento livre das mãos uma de suas características.
Responsável pelo projeto,
Buddy Bregman, 80, busca
financiamento. A movimentação está sendo feita à revelia dos herdeiros de Carmen,
que, em 2009, criaram uma
empresa para administrar
seu legado.
O advogado Arnaldo Gonçalves Dias, da Carmen Miranda Administração e Licenciamento, diz que a empresa não foi procurada.
Mesmo se fosse, porém, a
gravação provavelmente não
seria autorizada: o direito de
levar a vida da cantora às telas foi vendido em 1998 para
a produtora Paula Lavigne,
em uma operação que os herdeiros tentam desfazer.
O motivo alegado é a demora de Paula para dar início
ao projeto. Ela diz que nada
foi feito devido às incertezas
jurídicas em torno do contrato -no passado, outra produtora chegou a começar um
filme sobre a cantora, depois
barrado na Justiça.
"Enquanto não houver
uma decisão da Justiça ou
um acordo entre as partes,
infelizmente esse filme sobre
a vida da Carmen não pode
sair", lamenta Dias.
Bregman escreveu o roteiro de "Maracas" no ano passado, com base em artigos de
jornal. A história aborda desde o nascimento de Carmen,
em Portugal, até a morte em
Los Angeles, em 1955. Muitos
pontos divergem das informações que constam da biografia escrita por Ruy Castro.
Depois de pronto, o roteiro
foi entregue à atriz brasileira
Julia Melim, 27, radicada em
Los Angeles. Ela ajudou na
revisão das informações e
dos diálogos e montou no Rio
a produtora Kritério para tocar o filme com Bregman. Foi
ainda escalada para interpretar Aurora, irmã de Carmen.
A atriz, porém, diz ter
abandonado o projeto no primeiro semestre do ano. "Fizemos contato com a família
[de Carmen], apresentamos o
projeto, mas chegamos à
conclusão de que não teríamos como seguir adiante por
causa dos direitos."
Lavigne diz esperar que a
situação seja resolvida sem
sua interferência. "Vou consultar minha advogada, mas
acho que a família, que me
vendeu os direitos, deveria ir
atrás disso."
MEDIDAS JUDICIAIS
O advogado Marcos Madeira, da Carmen Miranda
Administração e Licenciamento, diz que o produtor será notificado e medidas judiciais não estão descartadas.
Na avaliação da advogada
Deborah Sztajnberg, especialista em direitos autorais, o
contrato com Lavigne deverá
ser considerado caso a Justiça americana seja acionada.
Se o documento não existisse, diz, seria difícil barrar a
realização do filme. "A tradição americana é diferente.
Lá, o filme sai e quem se sentir prejudicado entra com pedido de indenização", diz.
Ruy Castro vê o longa com
apreensão. "Carmen será tratada como uma dançarina
cubana ou mexicana, que falava espanhol e cantava rumbas. O próprio título, "Maracas", já mostra que, para eles,
o Brasil é apenas um México
ou uma Cuba mais ao sul."
Ele também teme o uso de
informações reveladas por
ele na biografia. "Se um outro veículo se apropria do que
você levou cinco anos para
descobrir, você está literalmente roubado", diz.
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