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OPINIÃO
Que fim levou o bom e velho sexo?
SÉRGIO DÁVILA
Editor da Ilustrada
"De Olhos Bem Abertos" chega
às telas dos EUA com 65 segundos
de sexo "maquiados" para não assustar o espectador norte-americano médio, também conhecido
(e tratado) como portador de dois
neurônios, debi & lóide.
A primeira pergunta: se Stanley
Kubrick estivesse vivo, permitiria
mesmo isso, como alardeou o estúdio Warner? (Ele não permitiu
em "Laranja Mecânica", de 1971,
ainda hoje um dos mais violentos
filmes da história.)
Mas a verdadeira questão é: que
fim levou o bom e velho sexo? Segundo escreveu Richard Corliss
em artigo recente na revista "Time", sexo e violência estão tão intimamente ligados nos sermões
dos puritanos gringos como Sodoma e Gomorra -mas só da boca para fora.
Na hora de influenciar a mais
poderosa indústria de cinema do
mundo, a liga das senhoras católicas, que é a MPAA, retalha furibunda tudo o que for nudez, transa, fuque-fuque e nheco-nheco e
deixa passar incólumes assassinato, mutilação, extermínio.
Quer dizer, pode-se assistir sem
problemas a Keanu Reeves matar
cem pessoas de diversas maneiras
no ótimo "Matrix" -o mesmo
não seria verdade se ele transasse
com cem mulheres (ou homens)
no mesmo filme. É mole?
Não fosse por recentes e isolados europeus (o francês "Romance", o dinamarquês "Os Idiotas"),
que lançaram mão de sexo explícito como forma de arte, ou o brazuca "Um Copo de Cólera", o espectador adulto estaria na mão.
Última pergunta, aquela que
não quer calar: se pudesse escolher, você, caro leitor, preferiria
assistir a 65 segundos de sexo filmados por um dos maiores talentos do cinema mundial ou ouvir
com riqueza de detalhes como o
presidente Bill Clinton usava seu
charuto no Salão Oval?
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