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LIVRO
"De Olhos Bem Abertos" traz comentários sobre filmes
Volume revela preferências cinematográficas do diretor
AMIR LABAKI
enviado especial a Nova York
A espera acaba amanhã, com
a estréia nos Estados Unidos de
"De Olhos Bem Fechados"
("Eyes Wide Shut"), o testamento fílmico de Stanley Kubrick (no Brasil, em 3 de setembro).
Tão misterioso quanto o filme
que todo mundo quer ver é tudo que o próprio Kubrick via.
Ou era.
Frederic Raphael desbrava
também o olhar de Kubrick sobre o cinema contemporâneo
no obrigatório "De Olhos Bem
Abertos" ("Eyes Wide Open"),
que ganha versão brasileira neste mês pela Geração Editorial.
Fragmentos de suas conversas
tratam de filmes que chamaram
a atenção de Kubrick na última
década.
Seus comentários raramente
são precisos. Ainda assim, permitem esboçar algo do quadro
de referências cinematográficas
recentes com que trabalhava o
cineasta.
Não surpreende que fábulas
sobre manipulação encabecem
sua lista de preferidos.
A primeira indicação que Kubrick dá a Raphael é o "Decálogo", de Kieslowski.
Para o escritor, o único ponto
em comum entre os diretores
seria "uma obsessão pelo desagradável".
Kubrick não desenvolve muito as causas de sua admiração.
Limita-se a considerar "extraordinário" Kieslowski "ter
realizado dez daqueles num
mesmo ano". "Acho que devemos levá-lo em conta", afirma,
enigmático, para Raphael.
A mesma frase foi usada por
Kubrick para destacar "Tempo
de Violência - Pulp Fiction", de
Quentin Tarantino.
Felizmente foi um pouco
mais além. "O jeito que a história foi contada" chamou-lhe a
atenção. Impressionou-o também "o ritmo".
Raphael se lembra ainda da
admiração de Kubrick por "Jogo de Emoções" (1987), de David Mamet, e "O Esquilo Vermelho" (1993), de Julio Medem.
Não nos dá nenhuma pista, limitando-se a discordar.
Não por coincidência, ambos
giram em torno de manipulações. No filme de Mamet, de
uma psicanalista por um obsessivo jogador. No de Medem, de
uma acidentada por um desconhecido que se faz passar por
seu amante.
Kubrick classifica "Maridos e
Amantes", de Woody Allen, como "um filme muito bom". Obcecado por detalhes, nota, porém, que o apartamento em que
vive o protagonista é grande demais para os ganhos do personagem.
Bastante original é sua leitura
de "A Lista de Schindler", de
Steven Spielberg. Kubrick não o
considera um filme sobre o Holocausto.
"Aquilo é sobre sucesso, não?
O Holocausto são 6 milhões de
pessoas sendo mortas. "A Lista
de Schindler" era sobre 600 pessoas não o sendo."
Kubrick diz a Raphael não
acreditar que já tenha havido algum filme sobre o Holocausto.
Ele mesmo tentou rodar um.
Depois de filmar "Nascido para
Matar", Kubrick dedicou-se a
uma adaptação do romance
"Wartime Lies" (Mentiras de
Guerra), de Louis Begley.
É a história de um garoto judeu polonês que se faz passar,
com sua tia, por católico para
sobreviver à perseguição em
Varsóvia.
Presos num trem enviado a
Auschwitz, conseguem escapar
e abrigam-se numa fazenda até
o fim do conflito.
Reentitulado "Aryan Papers",
o filme seria rodado por Kubrick na Dinamarca.
No final de 1993, as notícias
sobre o início das filmagens em
fevereiro de 1994 eram desmentidas pelo anúncio oficial de
"A.I." como o novo projeto de
Kubrick, logo substituído por
"De Olhos Bem Fechados".
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