São Paulo, quinta-feira, 15 de agosto de 2002

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TRAGÉDIA

Professor da Universidade de São Paulo, de 45 anos, preparava biografia de Euclydes da Cunha há uma década

Acidente mata ensaísta Roberto Ventura

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

Um dos principais estudiosos da obra de Euclydes da Cunha no país, o professor da Universidade de São Paulo Roberto Ventura, morreu ontem em acidente de carro no interior do Estado.
O pesquisador, que tinha 45 anos, dirigia de São José do Rio Pardo, onde participara de uma série de conferências, para São Paulo quando seu carro colidiu com a traseira de um caminhão.
Ventura chegou morto ao Instituto Médico Legal de Mogi-Guaçu, cidade mais próxima do local do acidente, na altura do km 186 da rodovia Adhemar de Barros (SP-340). Segundo a Polícia Rodoviária e a Renovias, concessionária da estrada, a trajetória do carro indica que Ventura teria adormecido ao volante.
O professor de teoria literária da USP vinha de uma série de viagens de carro nos últimos dias. No final da semana passada ele estivera em São José do Rio Pardo para a abertura da Semana Euclidiana, evento tradicional da cidade onde viveu Euclydes da Cunha quando escreveu "Os Sertões".
Ventura cruzara os 266 km que separam a cidade de São Paulo para encontrar na capital Thomaz, seu único filho, no Dia dos Pais, domingo. Na manhã seguinte, dirigiu mais 95 km para Campinas, onde dava um curso, na Unicamp. Pela noite, Ventura voltou a São José do Rio Pardo para fotografar exemplares de traduções e da primeira edição de "Os Sertões" no Centro de Estudos e Pesquisas Euclidianos Dr. Oswaldo Galotti.
O professor participou novamente de debates da Semana Euclidiana na tarde de terça, jantou com amigos e deixou a cidade por volta das 23h, pois tinha compromissos pela manhã em São Paulo.

Centenário de "Os Sertões"
O ano de 2002 vinha sendo especialmente corrido para o pesquisador em virtude do centenário de publicação do livro "Os Sertões", de Euclydes da Cunha (nascido em 1866 e morto em um 15 de agosto, como hoje, de 1909).
Ventura havia terminado recentemente o trabalho "Folha Explica Os Sertões", que a Publifolha lançará em setembro (leia trecho inédito ao lado).
O pesquisador também coordenara recentemente uma parte do volume que será dedicado ao escritor na publicação "Cadernos de Literatura Brasileira", do Instituto Moreira Salles, que será lançada em novembro deste ano, e escrevera o artigo "Para ler (e gostar de) "Os Sertões'" para o primeiro número do caderno "Sinapse", da Folha, em julho.
Ventura também vinha finalizando o trabalho mais extenso de sua vida, uma biografia de Euclydes da Cunha que ele começara a fazer há dez anos e que deveria ser publicada no início de 2003 pela Companhia das Letras.
Não seriam os primeiros livros da carreira do professor nascido no Rio de Janeiro, que fez mestrado na PUC-RJ e doutorados na Universidade de Rühr, em Bochum, na Alemanha, e na USP, de onde era livre docente desde 1999.
"História e Dependência: Cultura e Sociedade em Manoel Bonfim", em parceria com Flora Süssekind, foi seu primeiro trabalho, em 1984. Três anos mais tarde, ele publicou "Escritores, Escravos e Mestiços em um País Tropical". Com temática semelhante, a formação da crítica literária no país e os principais debates intelectuais na virada do século 19 para o 20, "Estilo Tropical" saiu em 1991. A obra mais recente de Ventura era o livro "Folha Explica Casa-Grande & Senzala", de 2000.
O pesquisador, que foi articulista da Folha entre 1988 e 1990, também colaborava com diversas publicações acadêmicas.
Roberto Ventura foi velado na tarde de ontem no Salão Nobre da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e foi cremado no cemitério da Vila Alpina, na zona oeste da cidade.
Ele deixa mulher, a jornalista Márcia Zoladz, 47, e o filho Thomaz Zoladz Ventura, 14.


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