São Paulo, domingo, 15 de agosto de 2004

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VIDA NOTURNA

De fãs de black music a sadomasoquistas, clubes paulistanos atraem público segmentado com temática variada

Novos projetos dividem noite em "nichos"

ADRIANA FERREIRA
DO GUIA DA FOLHA

Por onde poderia circular um rapaz vestido de couro da cabeça aos pés, apenas com os olhos e os lábios à mostra, puxando uma garota presa por uma corrente no pescoço, usando os mesmos trajes? Até pouco tempo, eles só não seriam alvo de chacota se estivessem em uma festa à fantasia ou em um encontro de fetichistas.
Como o caso deles é o segundo -eles são adeptos do sadomasoquismo-, a dupla encontrou seu espaço no mauricinho Itaim Bibi, onde está instalado o clube Exxex, que abriga desde julho a festa mensal 69 Fetish for Fun.
Na pele de (nomes fictícios) Mestre Cyrus, 36, e Savana, 34, eles explicam que não são um casal, mas um "dominador" e uma "escrava". "Participamos de festas particulares em locais secretos", conta Savana, ajoelhada no chão, depois de receber permissão do mestre para responder à pergunta. "Freqüento a festa [Fetish] porque aqui posso circular tranqüilo", diz Cyrus.
Como a Fetish for Fun, que estreou em março, nos últimos quatro meses São Paulo ganhou outros dez novos projetos. Notícia desse tipo costuma acelerar o coração dos baladeiros, mas, antes de sair de casa, é bom avaliar qual a turma que estará na festa para não se transformar num deslocado, em vez de se sentir descolado.

Botequeiros
O fotógrafo Leonardo Soares, 21, não lembra qual foi a última vez em que esteve em uma casa noturna. Ele é dos que trocam qualquer top DJ por uma cerveja no boteco. Se tiver música ao vivo, melhor. "Estou aqui por causa da banda. Ouço música brasileira e rock", conta ele, que, no último domingo, assistia ao show do grupo DonaZica, no Avenida Club.
A noite quinzenal DonaZica Com-Vida foi lançada em julho, para atrair o público jovem. O lugar abriu há 20 anos, com programação dedicada aos roqueiros, mas acabou assumindo vocação para casa de dança de salão e é freqüentado por quarentões. "Aqui é o único local com essa mistura de idades", diz a historiadora Amanda Cardoso, 25.
Outro projeto é o Dois em Um, que recebe bandas independentes, como os grupos Numismata e Mombojó, que tocam hoje. "O bar Avenida já foi referência e está ressurgindo", acredita o economista Luis Fernando Novais, 43, que freqüenta o clube há dez anos.

Noites democráticas
Se a idéia é sair do gueto, então o destino são as noites de black music -um dos poucos gêneros em que o público de baixa e alta renda se misturam. O Exxex faz hoje a segunda edição da noite Fufi Funk di Fino, com DJ Hum e convidados, e o Mood Club, em Pinheiros, abandonou a música eletrônica para se dedicar à black. A novidade lá é a The Joint, às terças, com o MC Cabal e os DJs Will Robson e Marquinhos da Pesada.
O público do Mood é de jovens de 20 e poucos anos, e a discotecagem passa por hip hop e estilos como breakbeat e two-step, com participações de cantores e MCs. Na próxima terça, a Joint recebe o DJ inglês Pogo, que lança um mixtape com bases suas e freestyle (improvisação) do MC Cabal.
Noites como a Pista de Prata -às quintas, no restaurante Bop Bistrô Eletrônico-, na Vila Madalena, atraem gente de longe, como Marcos Souza, 22, que sai do Campo Limpo para ouvir a black retrô dos DJs Hum, KL Jay (Racionais MC's) e Rodrigo Audiolandro (Mamelo Sound System).
"Venho aqui desde que o DJ Hum começou a tocar. Acho o público legal, diferente", conta Souza, que acompanha o tio, Luiz Manuel de Oliveira, o DJ Bolinha.
Na mesma noite, circulavam as amigas Daniela Melo, 29, e Fernanda Purchio, 28, que fazem o circuito preferido das patricinhas e costumam avaliar a melhor relação "custo-benefício". "No [clube] Heaven se gasta R$ 70 de consumação, mas você bebe mais. Na Disco uma vodca com energético custa R$ 34 e para a gente, que toma cinco, não dá", conta Daniela.

Clima amigo
Para os descolados em geral, faz toda a diferença saber quem estará na festa antes de sair de casa. A noite perfeita deve ter clima de "reuniãozinha" e o DJ, de preferência, ser um amigo. A Platinum, que desde julho ocupa o ampgalaxy, às sextas, tem essa cara.
Na pista, o DJ Edu Corelli toca electro, house e flash house. No lounge, DJs amigos tocam para os amigos, que têm um microfone à disposição para mandar recados e falar bobagens.
Outro clube que tem tradição de colocar amigos nos pick-ups, o GLS Ultralounge, no Jardins, estreou em junho o projeto Total Glam. A decoração, incrementada com dezenas de bexigas cor de rosa, e o som -house, com Felipe Venâncio e Renato Cecin- caiu no gosto do povo da moda.
Em proporções maiores também há a Toy, festa GLS itinerante com edições mensais e discotecagem de house e tech-house.

Funkeiros modernos
De olho na onda que dominou o Rio, o clube Lov.e, na Vila Olímpia, inaugurou a primeira noite da cidade dedicada ao funk carioca, com o DJ Marlboro nos pick-ups. O Pancadão, nome do evento quinzenal, despertou a libido dos modernos, que rebolam ao som de hits como "Egüinha Pocotó".
Marlboro faz questão de trazer dançarinas cariocas para reproduzir o clima dos bailes funk do morro e divide a pista com convidados. Na próxima quarta, ele recebe o coletivo Apavoramento Sound System, também do Rio.
Na quarta seguinte (dia 25), o Lov.e recebe os clubbers que perderam a casa underground Susi in Transe, no centro, e seu principal DJ, Julião. Ele é o residente da noite Inter Breaks, de breakbeats, sempre com convidados.


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