São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2011

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CRÍTICA MPB

'Sexo', novo CD de Erasmo Carlos, vai do pornô ao poético

Disco tem atitude rock e parcerias com Arnaldo Antunes e Calcanhotto

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

O título do álbum é "Sexo". O desenho da capa é um coração com uma fenda vermelha, uma gruta, uma vulva.
Tudo leva o ouvinte a imaginar que, quando botar o novo Erasmo Carlos para tocar, ouvirá uma espécie de primo mais novo (mais velho?) de "Sexo!!", álbum de 1987 da banda Ultraje a Rigor.
Seria um tratado sexual. Fálico e adolescente.
Outra pista nesse sentido já estava no ar há alguns dias: o clipe de "Kamasutra", uma das faixas do novo disco.
Trata-se de uma parceria com Arnaldo Antunes que faz a lista: "Coqueirinho ou ajoelhado? Trapézio ou carrinho de mão? Gangorra ou de cabeça a baixo?".
Quase pornô? Talvez. Mas isso não o torna menos amoroso. Ao contrário, o que ele descreve nas canções de "Sexo" são histórias de amor.
Começa do Gênesis bíblico (em "Amorticídio"): "Primeiro foi o sexo". E chega a seu princípio em "Sexo É Vida": "Se não fosse o sexo eu não tava aqui/ Obrigado, mãe/ Obrigado, pai/ O gozo do sexo de vocês de mim não sai".
Fala sobre relações que nunca se concretizam de novo, sobre ciúme, chora.
"Roupa Suja" (outra com Arnaldo) tem isso tudo: "Foi para a cama com todos os meus inimigos/ Se apaixonava e depois nem sabia por quem/ Quer gozar/ Quer sofrer/ E amar/ E foder".
Em outros momentos, Erasmo troca essas palavras diretas demais ("gozar", "foder") por linguagem mais poética. E, nisso, lembra a fase "Mania de Você", de Rita Lee.

REI
Fica mais fácil associar o "Sexo" de Erasmo a Caetano Veloso, que fez recentemente um álbum sobre o tema ("Cê", de 2006), do que a Roberto Carlos.
E a distância colossal que separa hoje os dois parceiros é lembrada em dois momentos do álbum.
Com letra de Adriana Calcanhotto, "Seu Homem Mulher" trata Erasmo como "o sujeito que (...) não manda rosas, que não ouve as rosas, não crê". Ou seja: qualquer um, menos o Roberto de 2011.
Escrita por Erasmo e Liminha (produtor do disco), "O Rosto do Rei" segue rumo semelhante.
"Sou meu rei/ Mas não mando em mim/ Só o conceito da vida real que me quer assim/ E me faz, em qualquer canção,/ Cantar a incerteza do sonho em meu reino de ilusão."
O rei Erasmo está nu.

SEXO
ARTISTA Erasmo Carlos
LANÇAMENTO Coqueiro Verde
QUANTO R$ 25, em média
AVALIAÇÃO ótimo



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