São Paulo, sábado, 15 de agosto de 1998

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CINEMA - FESTIVAL
Gramado anuncia seus vencedores hoje

INÁCIO ARAUJO
enviado especial a Gramado

A exibição de "Reunião dos Demônios", filme de estréia de A.S. Cecilio Neto, encerrou a sessão latino-americana do 26º Festival de Gramado anteontem com uma nota positiva, arrancando aplausos entusiasmados da platéia.
Nessa altura, já se espera com certa ansiedade a divulgação dos ganhadores dos kikitos -o que acontece hoje à noite, na sessão de encerramento.
Para um festival que começou lá em baixo, até que se pode chamar o final de feliz.
A aposta latina de Gramado não chegou a se impor (o interesse pelos filmes brasileiros é bem maior), mas alguns deles chamaram a atenção e mereceriam estar na premiação (o argentino "Pizza, Birra, Faso", em particular).
Na representação brasileira, o filme mais apontado como favorito é "Amores", de Domingos de Oliveira e Priscilla Rozenbaum, que retoma a saga de relações familiares da série de TV "Confissões de Adolescente".
Filme modesto, rodado em três semanas, "Amores" conseguiu, ao menos aqui (um ambiente meio viciado, é bom lembrar), forte empatia com o público, apesar da postura não raro teatral dos diálogos.
Os dois primeiros filmes brasileiros exibidos foram massacrados. "O Toque do Oboé", de Claudio Mac Dowell, foi visto num dia tumultuado, o da abertura, com os espectadores esgotados devido à viagem.
É possível, evidentemente, apontar uma pilha de defeitos em "Um Sonho no Caroço do Abacate", de Lucas Amberg. Trata-se de uma estréia um tanto prematura.
Mas seria justo lembrar que Amberg tocou em um aspecto tão rico quanto virginal no cinema brasileiro (a imigração judaica) e em um tema ainda muito atual, o do racismo.
A exibição de "Reunião dos Demônios" começou com o diretor colocando seu trabalho sob o signo de dois vultos de primeira linha: Humberto Mauro e Monteiro Lobato.
No escritor, o filme parece ter buscado um espaço de liberdade, em que as fantasias realizam-se plenamente, permitindo a circulação do imaginário infantil. A história pode ser resumida como a de três meninos que, de tanto serem chamados de demônios, acabam acreditando que são mesmo e passam a agir em função disso.
De Humberto Mauro, o maior cineasta clássico brasileiro, vem a leveza gaiata do estilo, a filmagem franca, sem exibicionismos, a simplicidade ostensiva.
Trata-se de um filme realizado com recursos limitados, o que talvez explique parte de seus desequilíbrios, como a direção muito fraca dos adultos, em oposição aos três garotos -primorosos.
Também se pode dizer que o filme é maior do que a história contada, o que produz certos vazios dramáticos do meio para o fim. De todo modo, o balanço da passagem ao longa de Cecilio Neto é mais que animador.
Ontem, restava saber que impressão deixariam o espanhol "Perdita Durango", de Alex de la Iglesia, e o português "Rio do Ouro", de Paulo Rocha (nome capital do cinema de seu país), que seriam exibidos na sessão noturna, para ter um quadro completo do que foi Gramado 98.



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