São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2004

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Dos pés à cabeça

Rogerio Cassimiro/Folha Imagem
Juliana Ferreira, que se apresenta em "Bem-Vindo"


A marginalizada arte da performance ganha tapete vermelho com mostra "Bem-Vindo"

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Praticamente sem-teto na cena contemporânea, as performances ganham guarida às vésperas do principal evento das artes no país, a Bienal de São Paulo (25/9 a 19/ 12), na qual aparecerá pouco.
A galeria Vermelho abre hoje a exposição "Bem-Vindo", com obras e ações de criadores das artes plásticas, dança, teatro, música, vídeo, fotografia etc.
O título expressa também a recepção aos artistas estrangeiros que desembarcam na cidade para montar seus trabalhos na 26ª Bienal e, eventualmente, dão uma canja e estabelecem trocas.
Jogam nesse time o irlandês Dennis McNulty, com suas instalações sonoras e outras variações eletrônicas (no dia 20/9), e a dançarina portuguesa Vera Mantero (dia 23/9).
A lista internacional permanecerá aberta a outros convidados durante os nove dias da exposição. Mas o ambiente de "Bem-Vindo" será dominado mesmo por performances de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Abertura
Carioca radicado há 11 anos em Uberlândia, na região do Triângulo Mineiro, o dançarino Wagner Schwartz é um dos protagonistas da abertura, hoje, com "Transobjeto" (2003), um dos destaques do ano passado no projeto Rumos do Itaú Cultural.
A coreografia é inspirada na obra homônima do artista plástico Hélio Oiticica (1937-80). "São movimentos que dão novos significados aos objetos, exercício de antropofagia que discute identidade e colonialismo cultural", diz Schwartz, 31.
Quem divide a noite com ele é Marcelo Cidade, 25, que condensa resíduos de sete trabalhos anteriores em "Neutrologia". Entre as performances de bolso, como define Cidade, "nome de RG", há aquela do "Homem-Chocalho" que carrega latas de spray amarradas às costas, daí o barulho.
Em "Corpo de Baile" (dias 17, 18 e 19/9), ocorre a fusão da dança com vídeo, música, artes plásticas etc., com 16 pessoas ocupando áreas externas e internas, entre as paredes pretas e brancas da Vermelho, cada uma como que seguindo um roteiro que irradia do corpo. Um dos coordenadores da performance, que estreou em 2003, Marcos Gallon, 38, diz que a desarmonia "é uma forma de ironizar a ditadura dos corpos de baile nas companhias estáveis".
Em "Tanque" (amanhã e sexta), performance teatral concebida no ano passado, os mineiros Marco Paulo Rolla e Dudude Herrmann vivem tipos que reduzem suas vidas a trabalhar e se refestelar diante da televisão.
"É uma leitura metafórica da vida de uma pessoa comum numa metrópole brasileira, que padece da degradação cultural e tem dificuldades em se comunicar com o outro", diz Rolla, 37.
No dia 22/9, Rosângela Rennó, do Rio, mostra experiência de cinema com projeções de fotografias. "É um trabalho novo, com imagens antigas projetadas em uma tela etérea, mutante, existente por apenas alguns segundos. Não posso dizer mais senão o mistério desaparece numa nuvem", diz Rennó.
Na "paisagem sonora", o músico Carlos Issa (Objeto Amarelo) junta-se aos artistas plásticos Angela Detanico e Rafael Lain em "Dia em Osaka" (18/9).
O último dia da "Bem-Vindo" terá performance e lançamento do site e do segundo CD da banda Chelpa Ferro (23/9).
A programação inclui ainda Roberto e Gustavo Ramos e Catalina Cappeletti ("Vetores" e "Satélites", performances), Mínima (performance sonora), Dias & Riedweg (vídeo) e Daniel Belleza (música). Enfim, cada um em sua odisséia no espaço.

BEM-VINDO. Exposição de performances. Onde: galeria Vermelho (r. Minas Gerais, 350, Higienópolis, SP, tel. 0/xx/11/3257-2033). Quando: de hoje a 23/9, com apresentações a partir das 20h (exceto dom., às 18h). No período, a galeria funcionará normalmente (de seg. a sáb., das 10h às 23h; dom., das 18h às 22h) e vai expor obras de Fabio Morais, Giselle Beiguelman, Grupo de Arte e Moda, Gisela Motta e Leandro Lima. Quanto: entrada franca.


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