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Crítica/"Veias e Vinhos: Uma História Brasileira"
Exageros e didatismo tiram força de drama
CRÍTICO DA FOLHA
O contar histórias, no cinema e em outras formas de relato, costuma
se alimentar da história comum, aquela dos fatos e que se
registra nos livros escolares,
como suporte realista ou de verossimilhança. Voltar ao passado para rever nele a origem de
traumas ou de heroísmos também oferece não pouco material para quem busca interpretações alternativas às oficiais.
Na obra de João Batista de
Andrade, esses recuos dão força à ficção desde pelo menos
"Doramundo", de 78. Estratégia que ele retoma em "Veias e
Vinhos: Uma História Brasileira", no qual demonstra controle de seus recursos narrativos
em prol de uma visão moral e
social, digamos, pedagógica.
Em seu novo filme, Andrade,
atual secretário estadual da
Cultura, retrata uma família de
migrantes que chega a Goiânia
no fim dos anos 50 para montar
um armazém. Ali, defronta-se
com duas forças em crescente
confronto àquela altura: a dos
progressistas, que viam na ascensão de João Goulart uma
forma de satisfação de seus anseios; e a dos autoritários, que
opunham a força bruta a qualquer simpatia de justiça social.
Nesse entrelaçar dos dois significados de história, o cineasta
desenha um retrato correto das
mutações sociais da época por
meio de uma família de classe
média e expõe sua oposição à
atitude regressiva na figura de
um delegado de polícia.
A certa graça da visão gentil
que dá do homem comum, Andrade contrasta, sem muita felicidade, o abuso de poder na
imagem caricatural do policial,
uma metáfora de pernas curtas
que tenta abarcar os confrontos dos anos de chumbo.
Não fosse seu exagero em
acentuar a oposição entre caracteres como forma de tirar
daí uma lição moral, reiterada
nos letreiros finais do filme,
"Veias e Vinhos" seria um filme
mais interessante. Da forma
como avança, buscando uma
posição sem ambigüidades na
trincheira do didatismo, o filme
acaba tendo seu valor restrito à
lição que pretende ensinar.
(CÁSSIO STARLING CARLOS)
VEIAS E VINHOS: UMA HISTÓRIA BRASILEIRA
Direção: João Batista de Andrade
Produção: Brasil, 2006
Com: Leonardo Vieira, Simone Spoladore e Ailton Graça
Quando: em cartaz nos cines Frei Caneca Unibanco e Reserva Cultural
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