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Livros
Afeganistão vira "cebola" em mesa da Bienal do Rio
Autora de "O Salão de Beleza de Cabul" diz que o país, como o bulbo, tem muitas camadas
Afegão Muhammad Rais ataca autora do best-seller "O Livreiro de Cabul" em debate; escritor argelino critica política dos EUA
SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
"O Afeganistão é como uma
cebola, cada vez que descascamos uma fatia, descobrimos
outra." Foi desse modo bastante didático que a norte-americana Deborah Rodriguez definiu o país onde viveu por cinco
anos e no qual ambientou seu
romance "O Salão de Beleza de
Cabul".
A ex-cabelereira, hoje celebridade literária, debateu as dificuldades de comunicação entre Ocidente e Oriente com o
afegão Shah Muhammad Rais
("Eu Sou o Livreiro de Cabul")
e o argelino Yasmina Khadra
("As Andorinhas de Cabul"),
anteontem, no primeiro dia da
13ª Bienal do Livro do Rio.
O encontro foi marcado por
diferenças entre os autores
com relação a vários temas, violência, direitos humanos, pobreza e fanatismo religioso.
Mas, apesar das divergências, o
debate não decolou. O formato
não permitiu discussão entre
os participantes, pois os temas
eram lançados a cada um separadamente, sem réplicas.
Muhammad Rais atacou a
norueguesa Asne Seierstad,
que publicou "O Livreiro de Cabul", baseada em sua experiência depois de viver com sua família, no Afeganistão. "Fiquei
com a impressão de que ela entrou numa dessas lojas de tecido indianas, onde tudo é muito
colorido e muito fácil de se confundir. Ela não entendeu nada
do que viu", disse.
Yasmina Khadra foi agressivo o tempo todo, deixando claro que não quer ser misturado
ao filão literário dos "autores
de conflito". "Escrevo há 25
anos, tenho 19 livros. Sempre
avisei o Ocidente, mostrando
que sua maneira de impor a
verdade nos levaria a uma crise
de enfrentamento. Não me ouviram, aí está o resultado."
Choque
Mais humilde, porém mais
lúcida, Rodriguez confessou
que, até o 11 de Setembro, nunca tinha ouvido falar no Taleban nem sabia achar o Afeganistão no mapa. E, quando foi
para o país, em missão humanitária, teve um choque, pensou
que tinha voltado 2.000 anos
no tempo. "Como mulher ocidental, devo ter feito tantas coisas consideradas ofensivas que
nem posso imaginar. Mas o
choque foi dando lugar à curiosidade e ao respeito. Não tenho
o direito de julgá-los."
A questão dos direitos humanos foi mais controversa. Rodriguez disse que não concorda
com a prisão de mulheres que
fogem dos maridos. Mas acha
que a sociedade está mudando
por meio da educação.
Já o radical Khadra voltou à
carga contra o Ocidente. "Há
mais mulheres exploradas nos
EUA e na Europa do que no
mundo islâmico. Os EUA vivem
sob um regime stalinista, onde
a barbárie atingiu seu ápice.
Chamo os intelectuais para ajudar a derrubar toda a hipocrisia
ocidental e os estereótipos que
se fazem de nós."
A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a convite
da organização do evento
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