Ao lado de Paulo Braga, compositor grava novas versões de principais temas executados pela Banda Sabor de Veneno

Compositor, que prepara trilha sonora para o filme "Família Vende Tudo", de Alain Fresnot, diz que quer relançar toda a sua obra

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Marco da chamada vanguarda paulistana na década de 80, "Clara Crocodilo" ganhou uma versão pianística. Ao lado de Paulo Braga, seu parceiro musical desde 1988, o compositor Arrigo Barnabé lança o CD "Ao Vivo, em Porto", em que os principais temas que eram executados pela Banda Sabor de Veneno aparecem como uma suíte para dois pianos.
"Acho que o compositor não pode ficar só escrevendo, tem que tocar também", afirma Barnabé. "Claro que o Paulo fica com as passagens mais virtuosísticas e os improvisos; não sou pianista, mas me viro legal no piano", diz o compositor, que está escrevendo a trilha sonora do filme "Família Vende Tudo", de Alain Fresnot.
Apresentado em cidades como Córdoba (Argentina), Buenos Aires e Paris, o espetáculo traz, entre outras, "Office Boy", "Antro Sujo" e até "Cidade Oculta", canção feita para a trilha sonora do filme homônimo de Chico Botelho (1986). E, para encerrar, "Clara Crocodilo", que ficou célebre pela junção de elementos teatrais jocosos a uma linguagem musical complexa e agressiva, marcada por assimetrias, polirritmia e até práticas dodecafônicas.
O que surpreende na versão para duo pianístico é a conservação não só dos aspectos musicais mais ásperos mas também da teatralidade, com Arrigo e Braga se arriscando em intervenções vocais que oscilam entre o canto, o grito e a fala.
Barnabé diz que a opção foi feita como homenagem a Ricardo Pais, diretor do Teatro Nacional São João, da cidade lusa de Porto, onde o disco foi gravado, em 2004.
"O Ricardo conheceu o nosso trabalho nos anos 80, em São Paulo, e foi quem nos convidou para tocar em Portugal", conta. "Então, quisemos fazer um espetáculo que lembrasse um pouco o que ele tinha visto aqui, na Funarte."

Obra completa
O disco chega ao mercado pela Atração Fonográfica, gravadora pela qual o compositor pretende relançar todos os seus álbuns. "Primeiro, vamos de "Cidade Oculta" e "Suspeito", que ainda não saíram em CD", diz. "Mas a idéia é reeditar tudo, incluindo "Tubarões Voadores", "Clara Crocodilo 1 & 2" e as missas para Itamar Assumpção e Arthur Bispo do Rosário."
Tem forte carga simbólica o fato de os discos serem editados pela Atração, gravadora de Wilson Souto Jr., que foi um dos sócios do teatro que abriu espaço para os grupos que impulsionaram a vanguarda paulista dos anos 80, o Lira Paulistana. "Curiosamente, como a Banda Sabor de Veneno era muito grande, a gente nunca tocou no Lira", conta Arrigo.


Texto Anterior: Obra-prima de Fassbinder volta após 23 anos
Próximo Texto: Crítica/CD/"Ao Vivo, em Porto": Humor performático de "Clara Crocodilo" volta desconcertante e pode incomodar
Índice