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China inaugura biblioteca monumental
Instituição mantém censura em prédio de R$ 350 milhões; não há revistas estrangeiras nem livros em inglês
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Uma longo retângulo suspenso de 120 metros de comprimento em aço escovado e vidro é a marca do novo prédio da
Biblioteca Nacional da China.
Inaugurado nesta semana, o
anexo que custou o equivalente
a R$ 350 milhões demonstra
que obras de impacto continuam a mudar a paisagem mesmo após a Olimpíada.
A Biblioteca virou a terceira
maior do mundo com a nova
construção. O antigo prédio,
que não pode sofrer reformas
por ser patrimônio nacional,
guarda os tesouros da instituição e só pode receber visitas de
acadêmicos e pesquisadores.
O anexo é para o público geral -e feito para impressionar.
Com 80 mil metros quadrados,
tem 2.900 assentos, 460 computadores e oferece acesso à internet sem fio (wi-fi).
Os usuários podem usar leitores de livros digitais em
palmtops para acessar os mais
de 200 mil gigabytes de arquivo
digital da instituição.
O teto do retângulo que abriga a Biblioteca Digital é de vidro, o que permite o uso de luz
natural na maior parte do tempo. A base do prédio é em pedra
-mas o revestimento interno
da principal sala de leitura, de
três andares, é de madeira, como nas antigas bibliotecas.
O escritório de arquitetura
alemão Engel e Zimmermann,
que desenhou a obra após vencer um concurso internacional,
projetou um prédio para 12 milhões de livros, ainda que a biblioteca tenha sido aberta com
600 mil. "A obra tem a capacidade para o crescimento da biblioteca nas próximas três décadas", diz o bibliotecário-chefe, Zhan Furui.
Literatura controlada
No último andar, que possui
centenas de jornais e revistas
para consulta, não há uma única publicação estrangeira.
Também não há nenhum livro
em inglês na nova biblioteca.
"Os livros em inglês ficam no
velho prédio, onde o acesso é
restrito. Aqui, só em chinês",
diz o bibliotecário Li Bin. Apesar da modernidade, a nova biblioteca mantém a política de
controle de informação cara ao
Partido Comunista.
São raros os locais de Pequim
onde se encontram revistas estrangeiras. Quando há alguma
reportagem crítica à China, os
exemplares são recolhidos.
Encomendas feitas à Amazon podem levar meses. Os pacotes são abertos pelo correio,
que apreende livros sensíveis.
A censura proíbe livros que falem sobre a repressão na Praça
da Paz Celestial ou no Tibete,
sobre a seita Falun Gong ou sobre direitos humanos.
Livros que tratem de sexo e
erotismo são proibidos e chamados de "poluição espiritual".
São os casos de obras que narram as aventuras sexuais de jovens chinesas, como "Shanghai
Baby", "Beijing Doll" ou
"Candy", e que viraram best-sellers no exterior.
No ano passado, a autora
Zhang Yihe liderou uma campanha pela internet, sem sucesso, pelo fim à censura. Seus três
livros, que contam o drama dos
chineses durante a Revolução
Cultural, são proibidos no país.
O Escritório Geral de Imprensa e Publicações é responsável pela censura. A saída é a
produção e distribuição clandestina de livros - estima-se
que 60% dos livros que circulam na China sejam piratas.
Calcula-se que haja cerca de
4.000 editoras clandestinas.
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