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OPINIÃO
Alsop atua com vivacidade, talento e charme único
ALEX KLEIN
ESPECIAL PARA A FOLHA
A Osesp traz ao Brasil uma
espetacular atração em Marin Alsop. A primeira impressão que ela traz consigo é a
de que é uma exímia maestrina, trabalha muito bem com
a orquestra, sabe como e o
que exigir dos músicos e o faz
com um estilo próprio amadurecido em apresentações
frente às melhores orquestras do mundo.
O segundo item que impressiona é que Alsop é uma
mulher em um campo de trabalho normalmente visto como território masculino. Ali,
demonstra credibilidade
igual ou superior à grande
maioria dos maestros no circuito de grandes orquestras.
O melhor de tudo, especialmente para quem observa a ascensão profissional feminina e mesmo de outras
minorias, é que Marin Alsop
o faz sem deixar de ser ela
mesma, com charme único.
Marin Alsop está longe de
exemplificar a famosa austeridade de maestros que mais
revela sobre suas inseguranças pessoais do que sobre liderança em si e levam à caricatura tão conhecida do "poderoso chefão" da orquestra.
Ao contrário, estabelece
exemplo por lembrar-nos de
que a capacidade de um profissional está em seu trabalho, sua eficiência e, no caso
de um maestro de orquestra,
em como atrai a melhor performance dos músicos e os
inspira a produzir a mais bela
música. Não é fácil tarefa.
Quebrar tabus já é difícil e
fazê-lo de forma a reavaliar e
redesenhar os parâmetros
usados para definir um posto
de alta liderança, como o de
maestro, é algo que requer
grande perícia, autoestima e
persistência. Marin Alsop
tem tudo isso e mais.
Para ela, músicos são colegas, não súditos. Sua estratégia de trabalho é empresarial, os que criam o "produto" são valorizados e, como
consequência, também a
qualidade desse produto.
Com todo esse talento, experiência e inovação, não é
de estranhar que ela seja hoje
a diretora artística e regente
titular de uma importante orquestra estadunidense, a
Sinfônica de Baltimore, primeira mulher na posição.
Tive o privilégio de presenciar sua liderança no último
concerto de que participei
junto à Sinfônica de Chicago,
quando apresentamos a segunda sinfonia de Schumann sob sua liderança.
Na ocasião, partindo de
volta ao Brasil, aproveitei para dizer-lhe que um dia gostaria de vê-la em meu país, ao
que ela, com malícia, respondeu: "É o que todos dizem...".
Esse bom humor na hora
certa, aliado à também bem
posicionada seriedade de
seu trabalho, traz um enorme
prazer aos músicos que trabalham com ela e é um exemplo a ser seguido por aqueles
que ainda pensam que o bom
maestro é aquele que oprime
o artista sob sua liderança.
O público da Osesp poderá
verificar de imediato a vivacidade da orquestra, a vontade
de tocar e a parceria bem afinada com esta grande líder.
Bem-vinda ao Brasil, Marin! E volte sempre.
ALEX KLEIN é oboísta, regente, diretor do
festival Oferenda Musical, em São Paulo, e
solista internacional.
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