São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2010

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OPINIÃO

Alsop atua com vivacidade, talento e charme único

ALEX KLEIN
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Osesp traz ao Brasil uma espetacular atração em Marin Alsop. A primeira impressão que ela traz consigo é a de que é uma exímia maestrina, trabalha muito bem com a orquestra, sabe como e o que exigir dos músicos e o faz com um estilo próprio amadurecido em apresentações frente às melhores orquestras do mundo.
O segundo item que impressiona é que Alsop é uma mulher em um campo de trabalho normalmente visto como território masculino. Ali, demonstra credibilidade igual ou superior à grande maioria dos maestros no circuito de grandes orquestras.
O melhor de tudo, especialmente para quem observa a ascensão profissional feminina e mesmo de outras minorias, é que Marin Alsop o faz sem deixar de ser ela mesma, com charme único.
Marin Alsop está longe de exemplificar a famosa austeridade de maestros que mais revela sobre suas inseguranças pessoais do que sobre liderança em si e levam à caricatura tão conhecida do "poderoso chefão" da orquestra.
Ao contrário, estabelece exemplo por lembrar-nos de que a capacidade de um profissional está em seu trabalho, sua eficiência e, no caso de um maestro de orquestra, em como atrai a melhor performance dos músicos e os inspira a produzir a mais bela música. Não é fácil tarefa.
Quebrar tabus já é difícil e fazê-lo de forma a reavaliar e redesenhar os parâmetros usados para definir um posto de alta liderança, como o de maestro, é algo que requer grande perícia, autoestima e persistência. Marin Alsop tem tudo isso e mais.
Para ela, músicos são colegas, não súditos. Sua estratégia de trabalho é empresarial, os que criam o "produto" são valorizados e, como consequência, também a qualidade desse produto.
Com todo esse talento, experiência e inovação, não é de estranhar que ela seja hoje a diretora artística e regente titular de uma importante orquestra estadunidense, a Sinfônica de Baltimore, primeira mulher na posição.
Tive o privilégio de presenciar sua liderança no último concerto de que participei junto à Sinfônica de Chicago, quando apresentamos a segunda sinfonia de Schumann sob sua liderança.
Na ocasião, partindo de volta ao Brasil, aproveitei para dizer-lhe que um dia gostaria de vê-la em meu país, ao que ela, com malícia, respondeu: "É o que todos dizem...".
Esse bom humor na hora certa, aliado à também bem posicionada seriedade de seu trabalho, traz um enorme prazer aos músicos que trabalham com ela e é um exemplo a ser seguido por aqueles que ainda pensam que o bom maestro é aquele que oprime o artista sob sua liderança.
O público da Osesp poderá verificar de imediato a vivacidade da orquestra, a vontade de tocar e a parceria bem afinada com esta grande líder.
Bem-vinda ao Brasil, Marin! E volte sempre.
ALEX KLEIN é oboísta, regente, diretor do festival Oferenda Musical, em São Paulo, e solista internacional.


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