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"Bit" homenageia Mundo Livre S/A
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Deu a louca no sistema fonográfico. O Mundo Livre S/A, uma das
mais importantes bandas da música impopular brasileira, dá pausa em suas desavenças com as
gravadoras para receber caprichada homenagem a seus dez
anos de trajetória discográfica.
Trata-se da caixa de CDs "Bit",
que agrega os quatro primeiros
álbuns da banda (só fica de fora o
independente "O Outro Mundo
de Manuela Rosário", de 2003),
mais um DVD com dez videoclipes e/ou apresentações ao vivo.
A estranheza começa quando se
assiste ao clipe de "Melô das Musas" (2000). Era uma sátira direta
e nada sutil aos desmandos dos
chefões de gravadoras, que, insatisfeitos com a "feiúra" de Fred
Zero Quatro, 42, e cia. os substituíam por atores e atrizes estilosos
-e comemoravam ter se livrado
"daqueles malas".
Pois bem, chefões do Mundo Livre à época eram os homens da
hoje extinta Abril Music. Um desses era João Augusto, 47, hoje diretor da independente Deckdisc,
a gravadora que resolveu bancar a
edição de luxo de "Bit".
Após várias viravoltas da indústria musical, o rebelde de carteirinha Zero Quatro não esconde felicidade e surpresa com o reconhecimento. "Não me lembro de nenhum lançamento de Pernambuco que historicamente tenha tido
um tratamento tão respeitoso e
perfeccionista de uma gravadora.
Talvez Luiz Gonzaga", diz, lembrando que toda a discografia do
grupo estava fora de catálogo.
Para justificar sua iniciativa,
João Augusto também é todo elogios. "O Mundo Livre pode não
ter tido um grande sucesso comercial, mas construiu uma forte
reputação e tem ao seu redor uma
turma de admiradores que mantém a banda firme na estrada",
afirma, dizendo que espera vender 10 mil caixas "Bit" (a tiragem
inicial é de 3.000).
Banda intransigente e gravadora comercial fazendo concessões
de parte a parte em prol de "Bit",
até parece que um outro mundo
musical é possível. É mesmo, mas
não pense que os notórios brigões
abrem mão de suas divergências.
Zero Quatro ainda se lembra da
dificuldade de encontrar para o
CD "Por Pouco" um produtor
que fosse consenso entre banda e
gravadora. "Durante meses o negócio não andava, até que João
veio propor Mario Caldato, um
nome que tínhamos sugerido lá
no início. Topamos na hora", relembra. "Não me reconheço reapresentando idéias dos outros. E
nem preciso", reage o executivo.
Fred cita outro pomo da discórdia na passagem conflituosa pela
Abril, quando a gravadora recusou a mixagem de "Por Pouco"
porque sua voz estaria muito baixa. "Bancaram nossa ida a Los
Angeles, João Augusto entrou no
estúdio com a gente. Achamos esquisito ele estar lá no meio da mixagem."
O ex-chefe não poupa palavras
no contra-ataque: "Paralamas do
Sucesso, Legião Urbana, Marisa
Monte, Titãs, Fernanda Abreu e
uma infinidade de outros grandes
artistas com quem trabalhei sempre pediram minha presença no
estúdio, porque, modéstia à parte,
agrego muito quando trabalho no
estúdio". E completa: "Esse tipo
de comentário feito agora cheira a
"não posso aceitar que existam
pessoas competentes em gravadoras". Pura tolice".
"Tolices" à parte, a existência de
"Bit" atesta a tolerância mútua
crescente entre os dois lados do
ringue. E a batalha de confetes
conduz à consagração de um vencedor extra no final: quem gosta
de música.
BIT. Caixa com quatro CDs e um DVD do
Mundo Livre S/A. Lançamento: Deckdisc.
Quanto: R$ 115, em média.
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