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Laís Bodanzky filma os velhos jovens
Diretora de "Bicho de Sete Cabeças" volta ao set com "Chega de Saudade", longa ambientado em baile da terceira idade
Para cineasta, personagens de seu filme têm as marcas próprias da adolescência, "abertura para descobertas e para ter grandes emoções"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
São 11h de uma ensolarada
manhã de terça, na Barra Funda, zona Oeste de São Paulo.
Mas não na casa de shows que
ocupa a esquina das ruas Guaicurus e Faustolo. Lá dentro, é
noite. E noite sem luz.
Um pique de energia acaba
de calar a banda (capitaneada
pela cantora Elza Soares) e esvaziar a pista de dança que o casal Alice (Tônia Carrero) e Álvaro (Leonardo Villar), costuma "roubar", com seus passos.
O corte de luz é um dos muitos acontecimentos ao longo
desta noite de baile para a terceira idade que compõe a espinha dorsal de "Chega de Saudade", novo longa de ficção da diretora Laís Bodanzky.
Para afastar a luz do dia do
sobrado onde funciona a (real)
casa de shows União Fraterna,
endereço das filmagens, a equipe contorna as janelas do salão
com um andaime e o envolve
com tecido negro.
Na passarela entre as janelas
e o breu, o assistente de maquinaria Marcos Diógenes faz o
"papel" dos carros. Ele circula
para lá e para cá, carregando
um refletor nas mãos. Simula,
assim, o reflexo de faróis nas janelas. Trabalho pesado? "O
problema não é o peso. É que
esquenta", afirma.
O jato de luz que Diógenes
entorna no salão encontra Ernesto (Luiz Serra) sentado junto à janela. Ele é o rosto de um
homem em crise.
Assíduo ao baile, Ernesto é
conhecido de todos -e principalmente de todas- como sendo viúvo. Mas ele é casado e
acaba de ser informado de que
sua mulher está na chapelaria.
Essa é "a cena da virada" de
Ernesto no filme, como define
Bodanzky. Serra a interpreta
uma, duas, três vezes. Bodanzky pede a quarta tomada,
agora com a câmera mostrando
Ernesto em "close". Serra diz
tudo de novo. "Corta!", diz Bodanzky, reprovando o resultado: "Ficou sem ritmo. Quero a
cena completa outra vez".
Ernesto conta uma vez mais
para o garçom (Marcos Cesana)
a crônica de seu desencontro
conjugal. Findo o discurso, ele
veste o paletó, pesca no bolso a
aliança escondida, mete-a no
dedo, penteia os cabelos e parte
para enfrentar o problema.
Desta vez, a tomada não só
valeu, como ficou boa o bastante para que se pudesse contar
em minutos o tempo do emocionado abraço trocado em seguida entre a diretora e o ator.
"Minha grande aflição como
diretora neste filme é que não
posso escorregar com nenhum
ator", diz Bodanzky. Trama de
muitos personagens, construída pelo roteirista Luís Bolognesi, "Chega de Saudade" "é como
se fosse um hai-kai", diz ela.
A tendência é que cada personagem principal tenha sua
história contada brevemente,
com uma grande cena. Se essa
falhar, o personagem terá poucas chances de se redimir no filme. A de Serra não falhou.
"Segundo parto"
Saudada em sua estréia em
longas com "Bicho de Sete Cabeças" (2001), em que Rodrigo
Santoro vivia um adolescente
levado ao manicômio pelos pais
que o descobriram com um cigarro de maconha, Bodanzky
sabe que há grande expectativa
em torno de seu segundo longa.
"Incomoda-me que as pessoas
façam comparações", diz. Porém, uma aproximação entre o
novo filme e o anterior é ela
mesma quem faz.
"Ninguém imagina, mas esse
também é um universo adolescente. São pessoas [os freqüentadores dos bailes de terceira
idade] com uma atitude de deixar que a vida aconteça e um espírito aberto para descobertas
e para ter grandes emoções, como são os adolescentes", diz.
Entre um filme e outro, Bodanzky teve duas filhas, dirigiu
uma peça de teatro e coordenou um programa de exibição
itinerante de filmes.
Na volta ao set, a diretora
sentiu o mesmo "frio na barriga" de antes e reencontrou os
desafios das filmagens como
quem "sente a dor do segundo
parto". A estréia do novo longa
está prevista para 2007.
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