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GUILHERME WISNIK
Consumo ao quadrado
Para o arquiteto Rem Koolhaas, Dubai será o foco de convivência entre culturas diametralmente distintas
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IMPULSIONADA PELO dinheiro do
petróleo, a cidade de Dubai, nos
Emirados Árabes Unidos, cresce a um ritmo alucinante. Hoje,
aquilo que até 50 anos atrás era apenas um acampamento nômade vem
se tornando o maior pólo de turismo
de luxo do mundo, beneficiando-se
com o surgimento recente de multimilionários na Rússia e no Sudeste
Asiático.
Disposta a quebrar recordes, a cidade tem vários atrativos que ostentam a qualidade de serem o "número um" do mundo: o arranha-céu
mais alto, o hotel mais luxuoso, o
maior parque temático e o mais gigantesco centro de compras do planeta, incluindo imensa pista de esqui com neve artificial em pleno deserto. Ainda estão previstas a construção de uma série de outras torres
com mais de cem andares, um hotel
submarino em forma de medusa, e
um conjunto de ilhas artificiais imitando palmeiras, símbolo de uma
natureza ausente e estilizada, que se
tornou a logomarca da cidade.
Mas o que significa, de fato, o "fenômeno Dubai"? Será apenas um
caso isolado, uma ilha da fantasia extravagante no meio do deserto, como uma "Las Vegas na Arábia"? Ou
será a alavanca visível de um processo maior que ainda não compreendemos bem? A segunda hipótese é
defendida polemicamente pelo arquiteto holandês Rem Koolhaas, para quem Dubai está muito além de
representar um mero simulacro periférico. Por essa via, considera que a
própria situação geopolítica da cidade, no centro estratégico mundial da
circulação de capitais e de turistas,
entre o Ocidente e o Oriente, fará
necessariamente dela o foco de uma
convivência fusional entre culturas
diametralmente distintas.
Queiramos ou não, diz ele, o Golfo
está reconfigurando o mundo à sua
maneira, à medida que vai fundindo
modelos urbanos diversos e exportando suas fórmulas, agressivamente e em grande escala, para regiões
remotas que ainda se haviam mantido imunes às anteriores "missões da
modernidade". Essas cartas estão
em jogo agora, afirma. O que faz desse processo, na sua opinião, a "última" oportunidade (mesmo que ambígua), para os arquitetos, de se traçar um programa eficaz para o urbanismo futuro.
Koolhaas, como se vê, evita condenações ideológicas a priori, procurando entender os sintomas de vitalidade num mundo que engendra
sua transformação desprezando os
modelos teóricos do passado. No entanto, é difícil enxergar qualquer miragem de emancipação a partir de
um símbolo tão perfeito (e sinistro)
do caráter predatório da civilização
em seu estágio atual. Pois em Dubai,
a extração parasita das reservas fósseis subterrâneas (petróleo), que alimentam a combustão incessante
dos nossos motores, coincide com a
colonização do território por mastodontes que petrificam a efemeridade da sociedade de consumo em escala colossal, esterilizando qualquer
semente de urbanidade. Assim, ao
invés de apontar um caminho futuro, o gigantismo dessa cidade de
"torres de babel" parece ser o emblema de uma equação terminal: um
mundo que se autoconsome por cima e por baixo do solo, já que uma
"indústria" financia a outra.
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