São Paulo, segunda-feira, 15 de outubro de 2007

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Pinacoteca faz tributo a pioneiro das instalações

Com início amanhã em SP, exposição reúne 125 obras de Kurt Schwitters

Réplica da obra "Merzbau", uma das mais importantes do século 20, é destaque da mostra; original foi alvo de bombardeio na 2ª Guerra

Leandro Moraes/Folha Imagem
Réplica da instalação "Merzbau', que pode ser vista na Pinacoteca do Estado; obra era parte do estúdio do alemão, em Hannover


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando o artista Hélio Oiticica (1937-1980) utilizou a palavra parangolé para definir uma nova etapa de sua produção, em 1964, um dos modelos que o artista utilizou foi a "Merzbau", de Kurt Schwitters (1887-1948), um dos nomes centrais do dadaísmo na Alemanha.
A "Merzbau", para Oiticica, era uma "definição de uma posição experimental específica, fundamental à compreensão teorética e vivencial de toda sua obra [de Schwitters]".
A partir de amanhã, a "Merzbau", uma das mais importantes obras de arte do século 20, que chegou a inspirar Oiticica em suas proposições, poderá ser vista na Pinacoteca do Estado, em SP, na mostra "Kurt Schwitters: O Artista Merz".
Atualmente, a definição de instalação ou "site specific" é corrente na arte contemporânea -significa espaços imersivos, em muitos casos criados apenas para um local específico-, e a importância de Schwitters está em ter sido o pioneiro na construção desse tipo de ambiente.
A "Merzbau" que será vista na Pinacoteca é uma reprodução para mostras, pois a original foi bombardeada durante a Segunda Guerra Mundial.
A obra era uma parte do estúdio do artista, que ficava em sua residência, em Hannover, na Alemanha. "Lá, ele incorporava tudo o que achava importante, de elementos dadaístas a referências literárias, além de possuir espaços para dormir e para ler", conta Karin Orchad, uma das curadoras da exposição. Para Hélio Oiticica, a "Merzbau" representava o "prazer de viver esteticamente".
O cognome "merz" surgiu a partir de uma das obras de Schwitters dos anos 20, na qual, em uma colagem, "merz" era vista num destaque do nome do banco Commerz Bank. A partir de então, o artista passou a usar "merz" como parte de muitas de suas obras, tornando-se sua marca registrada.
"Há muitos artistas jovens que ficam surpresos quando vêem como Schwitters foi arrojado", afirmou Karin Orchad, durante a montagem da exposição, anteontem.
A "Merzbau" parece parte de um cenário de um filme expressionista alemão, como "O Gabinete do Dr. Caligari", realizado em 1920. Cheia de reentrâncias e colagens, é uma obra abstrata tridimensional, que começou a ser construída por Schwitters, em 1923, até sua saída da Alemanha, para escapar dos nazistas, em 1937.
Nos outros dois locais onde viveu, Noruega e Londres, o artista seguiu construindo "Merzbaus". A versão vista em São Paulo, uma das únicas duas existentes, foi remontada a partir de fotos de 1933.
Outras obras
No entanto, a "Merzbau", mesmo que a mais significativa, é apenas uma das 125 obras que compõem mostra. A exposição foi organizada a partir do acervo do Museu Sprengel, de Hannover, e da Fundação Kurt e Ernst Schwitters, sediada no mesmo instituto.
Organizada em ordem cronológica, a mostra reúne desde pinturas figurativas da segunda década do século 20 até sua produção dos anos 40. No percurso, a colagem surge como sua marca fundamental.
"Após a Primeira Guerra, ele resolveu que não podia mais pintar como antes, mas tinha que realizar algo totalmente diferente, e a colagem seria essa nova forma", explica Orchad.
Em parte, a importância de Schwitters na história da arte ganhou impulso em São Paulo graças à presença de um conjunto significativo de sua obra na 6ª Bienal de São Paulo, em 1961, que teve Mario Pedrosa com diretor-geral.
"A partir daqui, os trabalhos de Schwitters passaram a circular por várias outras exposições", diz Marcelo Araujo, diretor da Pinacoteca.
Após o fim daquela bienal, um grupo de empresários alemães doou uma obra de Schwitters ao Museu de Arte Contemporânea da USP, única instituição brasileira que tem uma trabalho do artista em seu acervo -mas que não estará na retrospectiva que entra em cartaz na Pinacoteca.

KURT SCHWITTERS: O ARTISTA MERZ
Onde:
Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, São Paulo, tel. 0/xx/11/3224-1000)
Quando: abertura amanhã (para convidados); de ter. a dom., das 10h às 18h. Até 2/12
Quanto: R$ 4 (entrada franca aos sábados)


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