São Paulo, segunda-feira, 15 de outubro de 2007

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Mestre francês do improviso ao piano toca em SP

O trio de Jacques Loussier apresenta Bach, Vivaldi e Satie hoje e amanhã em temporada do teatro Cultura Artística

O músico já incursionou pela música eletroacústica, escreveu uma missa, uma sinfonia e concertos para vozes e instrumentos solos

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A música curiosamente cria fortes tabus para si mesma. Nos últimos 30 anos, ela desqualificou as transcrições de peças barrocas para grandes formações sinfônicas ou arranjos para instrumentos modernos. Sobreviveram exceções: interpretar ao piano as peças de Johann Sebastian Bach para cravo ou então tomar os temas de Bach para a improvisação de jazz.
Nesse último caso, há os vocalistas do "Swingle Singers" (1962) e um único expoente mundial ao piano: o francês Jacques Loussier, 72, um músico de superlativo bom gosto que improvisa desde 1959, já vendeu 7 milhões de exemplares de seus 44 LPs e CDs.
Ele se apresenta hoje e amanhã, em São Paulo, na temporada do teatro Cultura Artística. Em companhia do contrabaixista Benoit Dunoyer de Ségonzac e do baterista André Arpino, ele fará quatro peças de Bach -como o "Concerto de Brandenburgo nš 5"-, o "Verão", das "Quatro Estações", de Vivaldi, e, na segunda parte, a primeira das "Gymnopédie", de Satie, e o "Bolero", de Ravel.
Loussier já incursionou pela música eletroacústica, escreveu uma missa, uma sinfonia e concertos para vozes e instrumentos solos. Em entrevista à Folha, diz não se preocupar com o que é politicamente correto. "Há quase 50 anos as pessoas me ouvem e aparentemente gostam do que eu faço", diz ele.
Não considera estranho o fato de a improvisação, tal qual a prática, não ser objeto de ensino nos conservatórios, o que daria brasão acadêmico e pedigree a sua corrente musical.
"Creio que o princípio da improvisação não é algo que se aprenda. Pode-se determinar linhas a serem seguidas, com base, por exemplo, no contraponto. Mas não existe uma escola de improvisação, porque a inspiração depende exclusivamente de cada intérprete."
Embora já tenha gravado com material de Beethoven e Chopin, o século 19 não o atrai do mesmo modo. Mesmo com relação a Hector Berlioz, o maior compositor do romantismo francês, ele responde que "seria um pouco mais difícil" obter células musicais com que fazer sua própria música.

Inclassificável
Loussier gosta da etiqueta "inclassificável" para designá-lo. Ela aparece um par de vezes em seu site pessoal. Ex-aluno do prestigioso Conservatório de Paris, sua formação é heterodoxa, tendo sido nos anos 50 acompanhante de cantores populares como Charles Aznavour e viajado para o Oriente e morado em Cuba numa espécie de turismo destinado à captação de ritmos e sons.
Em 1978, com a dissolução do primeiro trio Play Bach que formou, montou um estúdio de gravação no sul da França, quando trabalhou com Pink Floyd, Elton John e Sting. Seu trio foi reconstituído em 1985, quando do tricentenário do nascimento de Bach. E vieram novas excursões e mais 30 CDs em sua discografia.
Loussier teve seu nome associado ao noticiário judicial quando, em 2002, processou Eminem pelo plágio de uma de suas composições, "Pulsion". O processo durou quatro anos e ele obteve ganho de causa.


JACQUES LOUSSIER TRIO E QUARTETO HAGEN
Quando:
hoje e amanhã, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana , 196, SP, tel. 0/xx/11/ 3258-3344)
Quanto: d e R$ 60 a R$ 150


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