São Paulo, Segunda-feira, 15 de Novembro de 1999
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FESTIVAL DE ACAPULCO
"La Ley de Herodes" faz crítica satírica
Produção mexicana é liberada após pressão

FRANCESCA ANGIOLILLO
enviada especial a Acapulco

O teatro Juan Ruiz de Alarcón, que abrigou, até ontem, as sessões do 4º Festival de Cinema Francês de Acapulco, experimentou, na sexta passada, sua primeira superlotação no evento.
Cerca de 1.500 pessoas, 300 a mais do que a capacidade do auditório, assistiram ao filme "La Ley de Herodes" (A Lei de Herodes), de Luís Estrada, um dos quatro longas mexicanos selecionados para a mostra.
Grande parte do sucesso da exibição se deve, sem dúvida, a um fato que deu ao festival, entre quinta e sexta, um gosto de anacronismo: o filme havia sido censurado e só foi liberado algumas horas antes da sessão programada, após pressão do público, artistas e da imprensa -o jornal mexicano "Reforma" pôs o caso na primeira página na quinta e na sexta.
Na véspera da exibição, um aviso chegou até os organizadores: a projeção estava suspensa. Segundo o Imcine (Instituto Mexicano de Cinema), que, entre outras atividades, regulamenta a exibição de filmes, "por motivos técnicos".
Durante a cerimônia oficial de abertura, na mesma quinta, os protagonistas do filme, Damián Alcázar e Leticia Huijara, leram uma carta na qual diziam que não esperavam explicações, mas sim a liberação da exibição.
O apoio do público e da delegação artística veio em seguida. A atriz Victoria Abril -protagonista do filme de Charlotte de Turckheim "Mon Pére, Ma Mére, Mes Fréres et Mas Soeurs" (Meu Pai, Minha Mãe, Meus Irmãos e Minhas Irmãs)- tomou a dianteira dos protestos franceses.
Abril organizou os franceses, que escreveram uma carta pedindo a liberação do filme, que não chegou a ser enviada, uma vez que o Imcine liberou a exibição antes disso.
O filme é uma sátira, que se passa no fim dos anos 40 e conta a ascensão política de Juan, militante do PRI -Partido Revolucionário Institucional.
Juan é designado prefeito interino de um "pueblo" minúsculo e miserável; o anterior, inescrupuloso, fora assassinado pelos índios, e Juan é escolhido pelo governador porque, supostamente, é um pobre coitado, sem maiores ambições.
Ocorre que Juan, inicialmente bem-intencionado, sucumbe à corrupção, estimulado pelas atitudes de seu superior, tornando-se ainda pior que o prefeito anterior. No fim, torna-se governador, em vez de ser castigado, como previa o roteiro aprovado -no México os roteiros têm de ser aprovados, não para obtenção de incentivos, como no Brasil, mas para sua simples realização.
A fita vem a público num momento delicado para a política mexicana. O presidente Ernesto Zedillo pediu a seu partido, em março, que fossem realizadas primárias para a escolha do próximo candidato do PRI à presidência, para as eleições que acontecem em julho do ano que vem.
Até as primárias, que ocorreram no início do mês, os candidatos eram escolhidos pelo presidente.
Os protagonistas da produção, em entrevista à Folha, disseram que não pretendem negar a intenção crítica do roteiro. "Mas é só um conto", diz Leticia Uhijara, que faz Gloria, a mulher de Juan.


A jornalista Francesca Angiolillo viajou a convite da organização do festival

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