São Paulo, Segunda-feira, 15 de Novembro de 1999
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MÚSICA
"Contaminação" marca a volta do percussionista depois de 26 anos sem gravar disco próprio no país
Naná é "contaminado" pela moda

Divulgação
O percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, que lança o disco 'Contaminação', que inaugura o selo Estúdio M. Officer


CARLOS CALADO
especial para a Folha

Um negão de saia quer invadir a passarela da música popular brasileira. Há 26 anos sem gravar um disco próprio no Brasil, Naná Vasconcelos toma uma nova direção musical no CD "Contaminação" -lançamento que inaugura o selo Estúdio M.Officer.
Após participar de três desfiles da grife do estilista Carlos Miele, nos quais produziu sons com os tecidos e até usou saias, o percussionista e compositor pernambucano diz ter sido "contaminado" por suas primeiras incursões no mundo da moda. Naná acha que a experiência lhe mostrou outro caminho musical.
"Os desfiles me inspiraram a fazer uma música que esses jovens, que não vão me ver tocando com orquestras sinfônicas ou improvisando com músicos de jazz, possam ouvir no rádio ou dançar. Estou decidido a renovar meu público", afirma.
Um dos músicos brasileiros mais cultuados no circuito internacional do jazz, Naná radicou-se nos EUA, no início dos anos 70. De lá para cá, já tocou e gravou com uma infinidade de astros de vários gêneros, como Miles Davis, B.B. King, Pat Metheny, Gato Barbieri, Peter Gabriel e Talking Heads, além de Milton Nascimento e Gal Costa.
"No Brasil, as pessoas me conhecem apenas como um músico improvisador. Não sabem do meu lado mais popular", observa Naná.
"Comecei tocando em bailes e acompanhando cantores, antes de ir embora para o mundo da música improvisada."
O percussionista define seu novo álbum (o primeiro gravado no país desde o mitológico "Amazonas", de 1973) como "um trabalho despretensioso, que nasceu de uma enorme vontade de fazer música popular brasileira".
"Esse disco me deu a oportunidade de gravar com músicos daqui do Recife. Foi muito bom poder sentir essa energia", diz o compositor, que fez parte das gravações em Nova York.
Segundo Roberto Ethel, diretor do Estúdio M.Officer, o selo foi criado "porque a M.Officer não gosta de limitar a moda à moda". "Queremos preencher lacunas. Apesar de Naná ser um dos percussionistas mais importantes do mundo, o público brasileiro ainda não o conhecia."
Os próximos lançamentos do selo ainda não estão definidos, mas poderão ter as assinaturas de Carlinhos Brown e Zeca Baleiro. "Queremos que eles trabalhem como produtores", diz Ethel.
O CD "Contaminação" marca também a estréia de Naná como letrista, em várias parcerias assinadas com o cantor e compositor Vinícius Cantuária, que atualmente vive nos EUA.
Com exceção das faixas "Lágrimas" e "Forró do Antero", todo o repertório do disco nasceu sob inspiração dos desfiles. "Foi muito interessante compor numa situação em que a música não era o centro da coisa. Eu tocava as roupas, e as roupas dançavam a música", diz Naná.
A faixa-título, que homenageia a top model brasileira Gisele Bundchen, foi a última a ser gravada. Naná a compôs pouco antes do desfile da M.Officer, do qual ambos participaram, em janeiro último.
"É uma canção bem popular e dançante que, sendo a última faixa do disco, diz, de certa forma, que estou indo nessa direção musical", sugere o compositor.

Próximo disco
Animado com a nova perspectiva, Naná revela que já está produzindo outro disco, para ser lançado no próximo ano. Com o título provável de "Brasil Curumim", trará novas parcerias com Vinicius Cantuária.
"Cada música terá um cantor diferente. Já gravei Lenine, Fagner, Zé Ramalho, Zeca Pagodinho, Gilberto Gil, Chico César, Zeca Baleiro e Fafá de Belém", diz o percussionista, que ainda não definiu por que selo ou gravadora lançará esse CD.
"Eu já disse ao Zeca Pagodinho que eu tenho de estar no próximo disco dele", conta Naná. "Quero botar meus batuques na música brasileira."


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