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MÚSICA
"Contaminação" marca a volta do percussionista depois de 26 anos sem gravar disco próprio no país
Naná é "contaminado" pela moda
Divulgação
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O percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, que lança o disco 'Contaminação', que inaugura o selo Estúdio M. Officer |
CARLOS CALADO
especial para a Folha
Um negão de saia quer invadir a
passarela da música popular brasileira. Há 26 anos sem gravar um
disco próprio no Brasil, Naná
Vasconcelos toma uma nova direção musical no CD "Contaminação" -lançamento que inaugura o selo Estúdio M.Officer.
Após participar de três desfiles
da grife do estilista Carlos Miele,
nos quais produziu sons com os
tecidos e até usou saias, o percussionista e compositor pernambucano diz ter sido "contaminado"
por suas primeiras incursões no
mundo da moda. Naná acha que a
experiência lhe mostrou outro caminho musical.
"Os desfiles me inspiraram a fazer uma música que esses jovens,
que não vão me ver tocando com
orquestras sinfônicas ou improvisando com músicos de jazz, possam ouvir no rádio ou dançar. Estou decidido a renovar meu público", afirma.
Um dos músicos brasileiros
mais cultuados no circuito internacional do jazz, Naná radicou-se
nos EUA, no início dos anos 70.
De lá para cá, já tocou e gravou
com uma infinidade de astros de
vários gêneros, como Miles Davis,
B.B. King, Pat Metheny, Gato Barbieri, Peter Gabriel e Talking
Heads, além de Milton Nascimento e Gal Costa.
"No Brasil, as pessoas me conhecem apenas como um músico
improvisador. Não sabem do
meu lado mais popular", observa
Naná.
"Comecei tocando em bailes e
acompanhando cantores, antes
de ir embora para o mundo da
música improvisada."
O percussionista define seu novo álbum (o primeiro gravado no
país desde o mitológico "Amazonas", de 1973) como "um trabalho
despretensioso, que nasceu de
uma enorme vontade de fazer
música popular brasileira".
"Esse disco me deu a oportunidade de gravar com músicos daqui do Recife. Foi muito bom poder sentir essa energia", diz o
compositor, que fez parte das gravações em Nova York.
Segundo Roberto Ethel, diretor
do Estúdio M.Officer, o selo foi
criado "porque a M.Officer não
gosta de limitar a moda à moda".
"Queremos preencher lacunas.
Apesar de Naná ser um dos percussionistas mais importantes do
mundo, o público brasileiro ainda
não o conhecia."
Os próximos lançamentos do
selo ainda não estão definidos,
mas poderão ter as assinaturas de
Carlinhos Brown e Zeca Baleiro.
"Queremos que eles trabalhem
como produtores", diz Ethel.
O CD "Contaminação" marca
também a estréia de Naná como
letrista, em várias parcerias assinadas com o cantor e compositor
Vinícius Cantuária, que atualmente vive nos EUA.
Com exceção das faixas "Lágrimas" e "Forró do Antero", todo o
repertório do disco nasceu sob
inspiração dos desfiles. "Foi muito interessante compor numa situação em que a música não era o
centro da coisa. Eu tocava as roupas, e as roupas dançavam a música", diz Naná.
A faixa-título, que homenageia
a top model brasileira Gisele
Bundchen, foi a última a ser gravada. Naná a compôs pouco antes
do desfile da M.Officer, do qual
ambos participaram, em janeiro
último.
"É uma canção bem popular e
dançante que, sendo a última faixa do disco, diz, de certa forma,
que estou indo nessa direção musical", sugere o compositor.
Próximo disco
Animado com a nova perspectiva, Naná revela que já está produzindo outro disco, para ser lançado no próximo ano. Com o título
provável de "Brasil Curumim",
trará novas parcerias com Vinicius Cantuária.
"Cada música terá um cantor
diferente. Já gravei Lenine, Fagner, Zé Ramalho, Zeca Pagodinho, Gilberto Gil, Chico César,
Zeca Baleiro e Fafá de Belém", diz
o percussionista, que ainda não
definiu por que selo ou gravadora
lançará esse CD.
"Eu já disse ao Zeca Pagodinho
que eu tenho de estar no próximo
disco dele", conta Naná. "Quero
botar meus batuques na música
brasileira."
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