São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 2000

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Dez anos depois da estréia solo, a artista lança "Entidade Urbana", que inicia trilogia
Fernanda Abreu, a mãe dos anos 90, chega a 2000

Antônio Gaudério/Folha Imagem
A cantora carioca Fernanda Abreu, que lança seu novo disco solo "Entidade Urbana", com influência do funk e hip hop



Novo disco segue a cartilha do funk carioca, cruzado com o hip hop e marcado por "Rio 40 Graus" (92)


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A mãe do pop brasileiro dos anos 90 aporta nos 2000. Nem Fernanda Abreu sabia, mas, quando estreou carreira solo, em 1990, com "Sla Radical Dance Disco Club", estava dada a primeira senha para uma forte sacudida no cenário local, em que o rock abandonava a cena de frente e cedia lugar a samplers e a novas variáveis de soul, funk, hip hop, disco music e pop comercial.
Dez anos mais tarde, a artista carioca, hoje com 39 anos, lança "Entidade Urbana", fruto de uma correção de rota sedimentada por "Da Lata" (95), quando passou a assimilar elementos musicais de seu próprio país, já influenciada pela geração de que ela mesma fora primeira porta-bandeira.
"Entidade Urbana" segue a cartilha do funk carioca, fortalecido nos anos 70, cruzado nos 80 com o nascente hip hop e fortemente marcado nos 90 pelo hit "Rio 40 Graus" (92). Este ela própria compôs, em trio com os vanguardeiros cariocas Fausto Fawcett (que ajudou a revelá-la, em 86) e Laufer. Fernanda e Fausto, até hoje seu parceiro, falaram à Folha, no Rio natal, sobre passado, presente e futuro. Leia abaixo trechos da entrevista de Fernanda.

Folha - O que mudou no cenário nacional desde sua estréia solo?
Fernanda Abreu -
Na época do primeiro disco, o cenário musical era pop-rock, de influência internacional. Meu disco foi um marco, modéstia à parte, o primeiro disco que tinha sampler. Fábio Fonseca havia comprado o sampler duas semanas antes de a gente mixar o disco. Começamos a ilustrar o disco com sampler. Foi, para mim, o pontapé inicial de uma linguagem que eu estava começando e sentia que não ia abandonar. E os anos 90 foram maravilhosos. Acho que foi a afirmação da mistura.

Folha - Você dialogava diretamente com as novidades de fora -Soul 2 Soul, Neneh Cherry. Seguindo nesse passo, hoje você estaria fazendo tecno, não?
Fernanda -
Me incomodava uma base eletrônica e tecno que podia ser de qualquer lugar do mundo. Achei superlegal, mas depois já ficava achando que poderia ter alguma coisa que diferenciasse no som a minha música. Quando "Rio 40 Graus" (92) pintou no estúdio, senti que aquilo dava goma. Dali saiu o "Da Lata" (95).

Folha - Fale sobre seu encontro com Fausto Fawcett.
Fernanda -
A Blitz terminou em março de 86, em junho pintou o show com ele, que era meu amigo desde a PUC. E havia uma história enorme, uma ópera-rock, que era "Kátia Flávia". Até que Fausto resolveu fazer o primeiro disco, "Fausto Fawcett e Os Robôs Efêmeros" (87). Esse background influenciou minhas letras.

Folha - Onde você se insere na cena pop nacional de hoje?
Fernanda -
Ainda me considero totalmente pop. Só que comecei a ouvir coisas mais tecno e a me interessar por sonoridades e timbres diferentes. E em vez de tentar fazer uma coisa que imitasse ou copiasse, comecei a tentar entender a estrutura da linguagem, a utilização de efeitos. Minha base de groove ainda é a música black.

Folha - No seu começo, houve o paralelo com Madonna. Hoje, as duas, em suas músicas de trabalho, voltam chamando o "mr. DJ"...
Fernanda -
Graças a Deus saiu na mesma época. Foi sorte minha, se saísse dois meses depois eu realmente teria copiado ela, para as pessoas. Não sei, acho que Madonna tirou essa idéia de "hey, mr. DJ" do mesmo lugar que eu, aquela música dos anos 80 "Last Night a DJ Saved My Life".

Folha - O que você achou da postura das bandas que decidiram abandonar o festival?
Fernanda -
Achei um pouco ingênuo. O Rappa estava escalado para fazer às seis da tarde, o que era absurdo. Mas Medina já sabia que era absurdo e já ia trocar. Isso tudo é uma fofocada, mas pelo que sei eles fizeram várias reivindicações a Medina, e parece que ele estava atendendo a todas, quando um dia eles chegaram e disseram que queriam sair.

Folha - Você não faria isso?
Fernanda -
Faria, se fosse o caso. O que combinei em contrato é que a qualidade técnica será igual. Não posso duvidar antes. Pode ser que eu chegue à passagem de som e não seja isso. Mas até então não tenho por que sair do Rock in Rio. A não ser que fosse um movimento. Seria até bacana se fosse uma questão política.

Folha - Por que essa obsessão pela temática urbana, que aparece em todas as faixas do CD?
Fernanda -
É para mim o começo de uma trilogia, que é cidade, casa e quarto. Parou no tempo essa história de que a cidade oprime o ser humano e tudo é uma merda e infelizmente temos de viver nesse caos urbano. Quis, partindo daí, fazer umas crônicas, com um lado bem otimista, de não querer muitas respostas.


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