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Dez anos depois da estréia solo, a artista lança "Entidade Urbana", que inicia trilogia
Fernanda Abreu, a mãe dos anos 90, chega a 2000
Antônio Gaudério/Folha Imagem
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A cantora carioca Fernanda Abreu, que lança seu novo disco solo "Entidade Urbana", com influência do funk e hip hop |
Novo disco segue a cartilha do funk carioca, cruzado com o hip hop e marcado por "Rio 40 Graus" (92)
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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
A mãe do pop brasileiro dos
anos 90 aporta nos 2000. Nem
Fernanda Abreu sabia, mas,
quando estreou carreira solo, em
1990, com "Sla Radical Dance Disco Club", estava dada a primeira
senha para uma forte sacudida no
cenário local, em que o rock abandonava a cena de frente e cedia lugar a samplers e a novas variáveis
de soul, funk, hip hop, disco music e pop comercial.
Dez anos mais tarde, a artista
carioca, hoje com 39 anos, lança
"Entidade Urbana", fruto de uma
correção de rota sedimentada por
"Da Lata" (95), quando passou a
assimilar elementos musicais de
seu próprio país, já influenciada
pela geração de que ela mesma fora primeira porta-bandeira.
"Entidade Urbana" segue a cartilha do funk carioca, fortalecido
nos anos 70, cruzado nos 80 com
o nascente hip hop e fortemente
marcado nos 90 pelo hit "Rio 40
Graus" (92). Este ela própria compôs, em trio com os vanguardeiros cariocas Fausto Fawcett (que
ajudou a revelá-la, em 86) e Laufer. Fernanda e Fausto, até hoje
seu parceiro, falaram à Folha, no
Rio natal, sobre passado, presente
e futuro. Leia abaixo trechos da
entrevista de Fernanda.
Folha - O que mudou no cenário
nacional desde sua estréia solo?
Fernanda Abreu - Na época do
primeiro disco, o cenário musical
era pop-rock, de influência internacional. Meu disco foi um marco, modéstia à parte, o primeiro
disco que tinha sampler. Fábio
Fonseca havia comprado o sampler duas semanas antes de a gente mixar o disco. Começamos a
ilustrar o disco com sampler. Foi,
para mim, o pontapé inicial de
uma linguagem que eu estava começando e sentia que não ia
abandonar. E os anos 90 foram
maravilhosos. Acho que foi a afirmação da mistura.
Folha - Você dialogava diretamente com as novidades de fora
-Soul 2 Soul, Neneh Cherry. Seguindo nesse passo, hoje você estaria fazendo tecno, não?
Fernanda - Me incomodava uma
base eletrônica e tecno que podia
ser de qualquer lugar do mundo.
Achei superlegal, mas depois já ficava achando que poderia ter alguma coisa que diferenciasse no
som a minha música. Quando
"Rio 40 Graus" (92) pintou no estúdio, senti que aquilo dava goma. Dali saiu o "Da Lata" (95).
Folha - Fale sobre seu encontro
com Fausto Fawcett.
Fernanda - A Blitz terminou em
março de 86, em junho pintou o
show com ele, que era meu amigo
desde a PUC. E havia uma história
enorme, uma ópera-rock, que era
"Kátia Flávia". Até que Fausto resolveu fazer o primeiro disco,
"Fausto Fawcett e Os Robôs Efêmeros" (87). Esse background influenciou minhas letras.
Folha - Onde você se insere na cena pop nacional de hoje?
Fernanda - Ainda me considero
totalmente pop. Só que comecei a
ouvir coisas mais tecno e a me interessar por sonoridades e timbres diferentes. E em vez de tentar
fazer uma coisa que imitasse ou
copiasse, comecei a tentar entender a estrutura da linguagem, a
utilização de efeitos. Minha base
de groove ainda é a música black.
Folha - No seu começo, houve o
paralelo com Madonna. Hoje, as
duas, em suas músicas de trabalho,
voltam chamando o "mr. DJ"...
Fernanda - Graças a Deus saiu na
mesma época. Foi sorte minha, se
saísse dois meses depois eu realmente teria copiado ela, para as
pessoas. Não sei, acho que Madonna tirou essa idéia de "hey,
mr. DJ" do mesmo lugar que eu,
aquela música dos anos 80 "Last
Night a DJ Saved My Life".
Folha - O que você achou da postura das bandas que decidiram
abandonar o festival?
Fernanda - Achei um pouco ingênuo. O Rappa estava escalado
para fazer às seis da tarde, o que
era absurdo. Mas Medina já sabia
que era absurdo e já ia trocar. Isso
tudo é uma fofocada, mas pelo
que sei eles fizeram várias reivindicações a Medina, e parece que
ele estava atendendo a todas,
quando um dia eles chegaram e
disseram que queriam sair.
Folha - Você não faria isso?
Fernanda - Faria, se fosse o caso.
O que combinei em contrato é
que a qualidade técnica será igual.
Não posso duvidar antes. Pode
ser que eu chegue à passagem de
som e não seja isso. Mas até então
não tenho por que sair do Rock in
Rio. A não ser que fosse um movimento. Seria até bacana se fosse
uma questão política.
Folha - Por que essa obsessão pela temática urbana, que aparece
em todas as faixas do CD?
Fernanda - É para mim o começo de uma trilogia, que é cidade,
casa e quarto. Parou no tempo essa história de que a cidade oprime
o ser humano e tudo é uma merda
e infelizmente temos de viver nesse caos urbano. Quis, partindo
daí, fazer umas crônicas, com um
lado bem otimista, de não querer
muitas respostas.
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