|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOTOGRAFIA
Salão prima pelo ecletismo e reúne imagens do século 19 até hoje, no maior evento do gênero realizado na Europa
"Paris Photo" mostra mídia em mutação
DANIELA ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM PARIS
Da foto-arte ao fotojornalismo e
à foto de moda, a fotografia está
em todos os lugares, como um
mutante que se recria, se adapta
aos meios e ganha novas formas.
Esse é o viés que o 5º Salão Internacional Europeu da Fotografia,
"Paris Photo", vai explorar, de hoje a domingo, no Carrousel do
Museu do Louvre, em Paris.
Trata-se do maior e mais importante salão europeu de fotografia, com obras de profissionais
representados por 97 galerias de
15 países, mostrando todos os nomes mais relevantes nessa mídia,
do século 19 até hoje.
Com uma série de exposições
temáticas, o salão tem como destaque a mostra da coleção Vivendi Universal sobre a vida urbana
nos Estados Unidos do século 19
até 2001, com 809 fotos sobre o cotidiano nas cidades americanas
feitas por 145 grandes nomes da
fotografia, entre eles, Lee Friedlandler, Weegee e Arthur Siegel.
Mas a seção mais cobiçada da
coleção Vivendi são as fotos inéditas do Universal Studios. Integram essa coleção fotos da Paramount (de filmes anteriores a
1950) e de Alfred Hitchcock. Entre
as imagens, quase todas de autoria anônima, estão fotos inéditas
de Marlene Dietrich, Audrey
Hepburn, Burt Lancaster, Gary
Cooper, François Truffaut, entre
outras personalidades.
Outra mostra no "Paris Photo"
deste ano será consagrada à jovem produção fotográfica na Alemanha, com seleção de Thomas
Wetski, curador-chefe do Ludwig
Museum. Por fim, a imagem ganha movimento em uma exposição dedicada à videoarte.
Entre os trabalhos expostos, estão 2.000 vídeos experimentais
vindos do instituto The Video Data Bank, de Chicago, que registram a produção em vídeo desde
os anos 60 -uma coleção que
tem obras de pioneiros como Vito
Acconci e Bruce Nauman.
Fim das fronteiras
No salão "Paris Photo", o tom
de sépia de antigas cenas banais
convive lado a lado com a foto em
ultradefinição de uma imagem
virtual. E o grande paradoxo é que
a nostálgica imagem do século 19,
por Suzuki, de um nobre com seu
ajudante, ganha um aspecto atual,
enquanto a foto contemporânea
das "mitologias pessoais" presentes nos autoretratos de Cindy
Sherman frequentemente nos remete ao passado.
Presente, passado e futuro tornam-se aleatórios em meio a uma
profusão de novas tecnologias da
imagem digital misturadas à dança das mídias: fotografia ganha
status de arte nas manipulações
do brasileiro Vik Muniz, quando
este se apropria da foto de Jackson Pollock por Hans Namuth,
transformando a imagem original
em chocolate para enfim criar
uma nova foto.
Não pára aí. A moda ganha status de arte nos trabalhos de Erwin
Blumenfeld, retratista do glamour
dos anos 50, de Juergen Teller,
que transcodifica tendências de
estilistas em comportamento, e de
David LaChapelle, com suas imagens saturadas de preciosismo de
cor, foco e produção. O fotojornalismo ganha status de arte na obra
de Dorothea Lange, Weegee e de
Sebastião Salgado. E artistas fazem sua arte em foto, caso de
Andy Warhol, David Hockney,
Manuel Alvarez Bravo, Geraldo
de Barros, Andres Serrano, Sophie Calle e Andreas Gursky.
Cada vez mais híbrida e mestiça,
a fotografia reina na era da imagem e ganha um reconhecimento
simbólico e mercadológico sem
precedentes. Se colecionadores de
arte inicialmente hesitavam em
comprar fotografia, hoje muitos
deles olham para ela fascinados.
Resultado: reflexo imediato no
mercado das artes. Exemplo: uma
imagem da série "Film Still", de
Cindy Sherman, que nos anos 80
não valia mais que US$ 200, atingiu em maio passado o valor de
US$ 330 mil, em leilão na Christie's de Nova York.
Hoje se fala em foto-arte com a
mesma ênfase com que a instalação foi coroada no cenário das artes desde os anos 50/60. A diferença é que a mídia fotografia reluta
em ser datada. É a longa trajetória
entre instante decisivo de Henri
Cartier-Bresson e a total ausência
de heroísmo na narração do cotidiano de Wolfgang Tillmans, entre o glamour de William Klein e a
fotografia da intimidade de Nan
Goldin, que está detalhadamente
mapeada nesta edição eclética do
"Paris Photo".
5º SALÃO INTERNACIONAL EUROPEU DA FOTOGRAFIA - PARIS PHOTO -
Onde: Carrousel do Museu do Louvre.
Quando: de hoje a domingo. Quanto: 90
francos (cerca de R$ 35). Catálogo: 360
págs., 150 francos (cerca de R$ 60). Na
internet: www.parisphoto-online.com.
Texto Anterior: O exílio de Nan Goldin Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|