São Paulo, quinta-feira, 15 de novembro de 2001

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FOTOGRAFIA

Salão prima pelo ecletismo e reúne imagens do século 19 até hoje, no maior evento do gênero realizado na Europa

"Paris Photo" mostra mídia em mutação

DANIELA ROCHA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM PARIS

Da foto-arte ao fotojornalismo e à foto de moda, a fotografia está em todos os lugares, como um mutante que se recria, se adapta aos meios e ganha novas formas. Esse é o viés que o 5º Salão Internacional Europeu da Fotografia, "Paris Photo", vai explorar, de hoje a domingo, no Carrousel do Museu do Louvre, em Paris.
Trata-se do maior e mais importante salão europeu de fotografia, com obras de profissionais representados por 97 galerias de 15 países, mostrando todos os nomes mais relevantes nessa mídia, do século 19 até hoje.
Com uma série de exposições temáticas, o salão tem como destaque a mostra da coleção Vivendi Universal sobre a vida urbana nos Estados Unidos do século 19 até 2001, com 809 fotos sobre o cotidiano nas cidades americanas feitas por 145 grandes nomes da fotografia, entre eles, Lee Friedlandler, Weegee e Arthur Siegel.
Mas a seção mais cobiçada da coleção Vivendi são as fotos inéditas do Universal Studios. Integram essa coleção fotos da Paramount (de filmes anteriores a 1950) e de Alfred Hitchcock. Entre as imagens, quase todas de autoria anônima, estão fotos inéditas de Marlene Dietrich, Audrey Hepburn, Burt Lancaster, Gary Cooper, François Truffaut, entre outras personalidades.
Outra mostra no "Paris Photo" deste ano será consagrada à jovem produção fotográfica na Alemanha, com seleção de Thomas Wetski, curador-chefe do Ludwig Museum. Por fim, a imagem ganha movimento em uma exposição dedicada à videoarte.
Entre os trabalhos expostos, estão 2.000 vídeos experimentais vindos do instituto The Video Data Bank, de Chicago, que registram a produção em vídeo desde os anos 60 -uma coleção que tem obras de pioneiros como Vito Acconci e Bruce Nauman.

Fim das fronteiras
No salão "Paris Photo", o tom de sépia de antigas cenas banais convive lado a lado com a foto em ultradefinição de uma imagem virtual. E o grande paradoxo é que a nostálgica imagem do século 19, por Suzuki, de um nobre com seu ajudante, ganha um aspecto atual, enquanto a foto contemporânea das "mitologias pessoais" presentes nos autoretratos de Cindy Sherman frequentemente nos remete ao passado.
Presente, passado e futuro tornam-se aleatórios em meio a uma profusão de novas tecnologias da imagem digital misturadas à dança das mídias: fotografia ganha status de arte nas manipulações do brasileiro Vik Muniz, quando este se apropria da foto de Jackson Pollock por Hans Namuth, transformando a imagem original em chocolate para enfim criar uma nova foto.
Não pára aí. A moda ganha status de arte nos trabalhos de Erwin Blumenfeld, retratista do glamour dos anos 50, de Juergen Teller, que transcodifica tendências de estilistas em comportamento, e de David LaChapelle, com suas imagens saturadas de preciosismo de cor, foco e produção. O fotojornalismo ganha status de arte na obra de Dorothea Lange, Weegee e de Sebastião Salgado. E artistas fazem sua arte em foto, caso de Andy Warhol, David Hockney, Manuel Alvarez Bravo, Geraldo de Barros, Andres Serrano, Sophie Calle e Andreas Gursky.
Cada vez mais híbrida e mestiça, a fotografia reina na era da imagem e ganha um reconhecimento simbólico e mercadológico sem precedentes. Se colecionadores de arte inicialmente hesitavam em comprar fotografia, hoje muitos deles olham para ela fascinados.
Resultado: reflexo imediato no mercado das artes. Exemplo: uma imagem da série "Film Still", de Cindy Sherman, que nos anos 80 não valia mais que US$ 200, atingiu em maio passado o valor de US$ 330 mil, em leilão na Christie's de Nova York.
Hoje se fala em foto-arte com a mesma ênfase com que a instalação foi coroada no cenário das artes desde os anos 50/60. A diferença é que a mídia fotografia reluta em ser datada. É a longa trajetória entre instante decisivo de Henri Cartier-Bresson e a total ausência de heroísmo na narração do cotidiano de Wolfgang Tillmans, entre o glamour de William Klein e a fotografia da intimidade de Nan Goldin, que está detalhadamente mapeada nesta edição eclética do "Paris Photo".


5º SALÃO INTERNACIONAL EUROPEU DA FOTOGRAFIA - PARIS PHOTO - Onde: Carrousel do Museu do Louvre. Quando: de hoje a domingo. Quanto: 90 francos (cerca de R$ 35). Catálogo: 360 págs., 150 francos (cerca de R$ 60). Na internet: www.parisphoto-online.com.


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