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Milton caminha de volta a Três Pontas
Cantor tem vida contada em biografia e apresenta, em DVD, novos músicos que descobriu em visitas à cidade mineira
Registro da maior turnê da carreira do artista, feito em homenagem à mãe adotiva, "Pietá" tem participação dos Meninos de Três Pontas
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Milton Nascimento anda vivendo um paradoxo: faz há
mais de três anos a maior turnê
de sua carreira, já tendo cantado em lugares como Hong
Kong e Finlândia, e diz nunca
ter ido tanto a Três Pontas desde que deixou, nos anos 60, a
pequena cidade mineira onde
cresceu. Os pólos do paradoxo
se unem em dois lançamentos.
No DVD "Pietà", ele registra
o show homônimo e apresenta,
nos extras, os Meninos de Três
Pontas, jovens que descobriu
no ano passado e com quem
quer fazer seu próximo disco.
Na biografia "Travessia - A
Vida de Milton Nascimento", a
jornalista trespontana Maria
Dolores relata em detalhes a infância e a adolescência do cantor e acompanha os caminhos
que o fizeram se tornar um nome internacional.
"Todo mundo diz que eu não
falo nada, mas a Maria conseguiu extrair. Quem é honesto
recebe sempre coisas boas", diz
Milton, 64, cuja família é próxima da de Dolores, 28.
Biógrafa e biografado garantem que nada foi censurado,
ainda que ele tenha feito uma
revisão final nos originais.
"Achei muito boa a história
da infância, entrevistei o pai do
Milton e resolvi contar essa
parte da vida dele, que pouca
gente conhece", diz Dolores.
Milton nasceu no Rio, filho
da doméstica Maria do Carmo.
O pai não assumiu a função, e a
mãe morreu de tuberculose
dois anos depois do parto. O
menino, que chegou a ser levado para a casa da avó materna
em Juiz de Fora, acabou criado
em Três Pontas por Lília, da família para a qual Maria do Carmo trabalhava, e seu marido,
Josino Campos.
Só aos 45 anos o cantor legalizou sua adoção, mas foi criado
como filho pelo casal, que lutou
contra o preconceito racial para que Milton tivesse uma ótima educação. Foi Lília -a homenageada de "Pietà"- quem
inventou o apelido Bituca, por
causa das caras feias que o menino fazia. Josino está vivo.
"Meu pai estava reclamando
que eu não ia mais a Três Pontas depois que minha mãe morreu. Passei a ir sempre. Mas fiquei assustado quando vi a cidade no mapa do livro "Música
do Brasil" [de Chris McGowan e
Ricardo Pessanha]. Pensei: depois de mim e do Wagner [Tiso], que músico de peso há em
Três Pontas?", conta Milton.
Pablo e outros filhos
Foi com esse pensamento e a
ajuda de um primo de Tiso que
ele começou a conhecer jovens
músicos da cidade. Acabou reunindo-os sob o título Meninos
de Três Pontas, que cantam
com ele e Lenine em "Paciência" -parte dos extras de "Pietà"- e deverão gravar um disco
com o padrinho.
"As pessoas falam: "Ah, seu filho...". Em vez de um filho, tenho milhares que vou semeando por aí. Sempre que alguma
coisa me toca, quero trazer para perto. É assim na música, na
vida, no palco", diz. Pablo nasceu em 1972, fruto do relacionamento com Káritas, socialite
paulistana. Milton conta no livro que as ameaças do regime
militar o obrigaram, por segurança, a se afastar do filho, com
quem não retomou o contato.
A paixão platônica por Elis
Regina, o alcoolismo nos anos
70, as agruras financeiras, a
proximidade da morte por causa da diabetes e o desejo de deixar a carreira nos anos 90 são
outros temas do livro.
Para 2007, além de um trabalho com o coreógrafo norte-americano David Parsons, Milton espera melhoras políticas.
"A reeleição é uma chance que
o Lula tem de tirar essa mancha
que está sobre todos nós e fazer
um negócio que o povo brasileiro mereça. Tenho esperança,
mas por enquanto é só", afirma.
DVD PIETÀ
Gravadora: Som Livre
Quanto: R$ 40, em média
Quando: (show de lançamento) sex. e
sáb., às 22h, no Canecão (av. Venceslau
Brás, 215, Rio, 0/xx/21/2105-2000); de R$ 60 a R$ 100
TRAVESSIA - A VIDA DE MILTON NASCIMENTO
Autora: Maria Dolores
Editora: Record
Quanto: R$ 53 (406 págs)
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