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LIVROS
Crítica/"Outros Critérios"
Obra marca a história da crítica de arte
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Como uma imensa nuvem que turva a visão
em dias ensolarados, a
crítica formalista de Clement
Greenberg (1909-1994) praticamente determinou os parâmetros para a observação da arte em grande parte da segunda
metade do século 20.
Sua força foi tamanha que
mesmo outras possibilidades
de análise tiveram de partir
desse ponto de vista, para então
negá-lo, como é o caso do crítico Leo Steinberg e seu ensaio
"Outros Critérios".
O texto, publicado pela primeira vez em 1972, na revista
norte-americana "Artforum",
dá título agora a uma coletânea
lançada no Brasil pela editora
Cosac&Naify.
O atraso para a chegada de
Steinberg ao Brasil, apesar de o
texto "Outros Critérios" ter sido publicado em "Clement
Greenberg e o Debate Crítico"
(Jorge Zahar, 208 págs.), organizado por Glória Ferreira e
Cecília Cotrin, em 1997, possivelmente ocorreu pelo fato de o
próprio Greenberg ter tido aqui
menos alcance.
Foi posto em segundo plano
por Mário Pedrosa (1901-1991),
crítico nada formalista, precursor do conceito de pós-moderno, que diminuiu entre nós a
necessidade de Steinberg, ao
menos na década de 70.
Vigor renovado
Isso não retira a importância
da publicação, visto que o formalismo, favorável à autonomia da arte, defendida Greenberg, acabou se fortalecendo no
pensamento artístico nacional,
levando as idéias de Steinberg a
ganhar mais vigor no contexto
atual.
O autor -que nasceu em
1920, em Moscou, mas desde o
fim da Segunda Guerra Mundial vive nos Estados Unidos-
rebelou-se contra um dos pilares do pensamento greenberguiano, que é a crítica como
uma lente de princípios sólidos
e imutáveis.
Escreve Steinberg em "Outros Critérios": "O crítico interessado numa nova manifestação mantém afastados seus critérios e seu gosto. Uma vez que
foram formulados com base na
arte anterior, ele não presume
que sejam adequados para a arte de hoje. Enquanto busca
compreender os objetivos subjacentes à nova arte produzida,
nada é excluído ou julgado irrelevante a priori".
A estocada aí é manifesta, já
que todo o pensamento de
Greenberg está baseado na filosofia kantiana.
Em outro momento, o golpe
é mais profundo, investindo
contra a noção de Greenberg,
que escreve que é só no modernismo que a arte realiza auto-análise: "Toda arte de importância, pelo menos desde os
Trezentos, preocupa-se com a
autocrítica. A arte é sempre sobre arte, sejam quais forem
suas outras preocupações".
Em outros ensaios, Steinberg
exercita, então, os seus critérios, analisando artistas essencialmente modernos, como Picasso e Rodin, nomes da cena
norte-americana, como Jasper
Johns e Robert Rauschenberg,
ou o grande motivo de Greenberg: Jackson Pollock.
No conjunto, eles representam um manifesto de um período específico, fundamental para abrir uma nova forma de crítica na história da arte.
OUTROS CRITÉRIOS
Autor: Leo Steinberg
Tradução: Célia Euvaldo
Editora: Cosac Naify
Quanto: R$ 79 (464 págs.)
Avaliação: bom
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