São Paulo, segunda, 15 de dezembro de 1997.




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TV
Sucesso dos novos programas não se reflete no faturamento da emissora, que deve se manter no mesmo patamar de 96
Boa audiência não põe fim à instabilidade do SBT

O elenco da novela 'Chiquititas', parceria entre a rede de TV argentina Telefe e a emissora de Silvio Santos da Reportagem Local

O SBT, a segunda maior emissora de TV do país, não consegue superar uma instabilidade crônica. Demissões, projetos cancelados e programas que entram ou saem do ar sem aviso prévio ainda fazem parte da rotina, apesar do sucesso das produções criadas no segundo semestre e da implantação do novo organograma da empresa.
Um exemplo disso é que, a duas semanas do Natal, a programação de especiais de fim de ano ainda está totalmente indefinida. O "Jornal do SBT", produzido pela CBS Telenotícias e que deve entrar no ar hoje à noite, teve sua estréia adiada inúmeras vezes por problemas internos do SBT.
Para justificar os seguidos adiamentos, foi divulgado até que Eliakim Araújo estaria com pneumonia -informação veementemente negada pelo apresentador, em entrevista à Folha.
Silvio Santos centraliza atualmente todas as decisões. Seu braço direito, Luciano Callegari, foi afastado da direção da emissora no final de novembro, tornando-se consultor informal do empresário.
Os principais assessores de Silvio Santos no momento são Rick Medeiros e o norte-americano Bob Morse (leia texto ao lado).
O produtor Albert Lewitinn, responsável pelo programa "Márcia" -um dos maiores fenômenos de audiência da nova safra do SBT-, vem ganhando terreno e desenvolve, com plenos poderes, quatro novos projetos para 98.
Enquanto Silvio Santos prestigia esses novos assessores, Guilherme Stoliar, ex-vice-presidente da emissora e atual diretor-executivo, está em baixa. Na sexta-feira, foram demitidos três dos principais executivos do SOL (SBT On Line), divisão da empresa que funciona como provedor de acesso à Internet e que é um dos negócios coordenados por Stoliar.
Sucesso relativo
Aparentemente, os novos formatos vêm funcionando. "Márcia", desde sua estréia, ameaça a liderança da "Terça Nobre", da Globo. Na última semana, por exemplo, o programa bateu o "Som Brasil - Tropicália" por 23 pontos a 17 (cada ponto de audiência corresponde a cerca de 80 mil telespectadores na Grande SP).
"Chiquititas", parceria do SBT com a rede argentina Telefe, vem obtendo médias de 18 pontos de audiência. Além disso, virou um fenômeno fonográfico, vendendo 1 milhão de cópias de seu primeiro CD em três meses. Em 98, a emissora quer lançar publicações com os personagens da novela.
"Alô Crystynah" e "Disney Club", também do horário nobre, oscilam entre 12 e 14 pontos.
Os índices de audiência mais que satisfatórios, no entanto, não refletem no desempenho financeiro. Após crescer 25% de 1995 para 1996, o faturamento deste ano do SBT não deve aumentar na mesma proporção. Segundo estimativas do mercado publicitário, vai se manter próximo dos mesmos US$ 400 milhões de 96.
A alta no ibope não trouxe novos patrocinadores nem resultou um aumento significativo nos valores cobrados pelas inserções publicitárias. Em fevereiro, um anúncio de 30 segundos veiculado na linha de shows do SBT custava R$ 20.865. Em novembro, o preço passou para R$ 22.182 -um aumento inferior a 10%.
Por tudo isso, o sucesso dos novos programas ainda não satisfaz os diretores da emissora. A avaliação é de que audiência é bom, mas não enche a barriga de ninguém.
Clones
As alterações de programação no SBT se refletiram nas outras emissoras do país e mudaram até a estratégia de outras redes.
As novelas de tramas simples e melosas -como a trilogia mexicana "Maria Mercedes", "Marimar" e "Maria do Bairro", que roubou parte da audiência do "Jornal Nacional"- influenciaram o padrão global.
O remake de "Anjo Mau" e a atual novela das oito da Globo, "Por Amor", apelam descaradamente para o folhetim mais básico e tradicional. As redes Bandeirantes e CNT também passaram a exibir dramalhões latinos.
A entrada do "Domingo Legal", de Gugu Liberato, no horário das 15h30 mexeu na audiência dominical. Liberato supera há dois meses o "Domingão do Faustão".
Para tentar conter o avanço do SBT, a Globo lançou mão de quadros apelativos, como a "reportagem" sobre restaurante japonês que servia sushi sobre o corpo de mulheres nuas. "Domingo Legal" gerou clones na Record ("Ratinho Show") e na Manchete ("Domingo Milionário").
Além de seguirem o modelo popular do SBT, as outras emissoras correram atrás de alguns astros da TV de Silvio Santos. Boris Casoy foi levado pela Record. Ana Paula Arósio, cria do núcleo de dramaturgia da casa, protagoniza "Hilda Furacão", uma das maiores apostas da Globo para o próximo ano.
Márcia Goldschmidt recebeu proposta para ancorar atração popular na Globo, e Hebe Camargo, a mais tradicional apresentadora do SBT, é sondada pela Band, que já levou Nilton Travesso.
Para 98, Silvio Santos deve apostar ainda mais nas fórmulas lançadas em 97. Resta saber se o resultado vai satisfazê-lo e, com isso, pôr fim à tal instabilidade.
(FRANCISCO MARTINS DA COSTA e MARIANA SCALZO)



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