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TV
Sucesso dos novos programas não se reflete no faturamento da emissora, que deve se manter no mesmo patamar de 96
Boa audiência não põe fim à instabilidade do SBT
O elenco da novela 'Chiquititas', parceria entre a rede de TV argentina Telefe e a emissora de Silvio Santos
da Reportagem Local
O SBT, a segunda maior emissora de TV do país, não consegue superar uma instabilidade crônica.
Demissões, projetos cancelados e
programas que entram ou saem do
ar sem aviso prévio ainda fazem
parte da rotina, apesar do sucesso
das produções criadas no segundo
semestre e da implantação do novo organograma da empresa.
Um exemplo disso é que, a duas
semanas do Natal, a programação
de especiais de fim de ano ainda
está totalmente indefinida. O
"Jornal do SBT", produzido pela
CBS Telenotícias e que deve entrar
no ar hoje à noite, teve sua estréia
adiada inúmeras vezes por problemas internos do SBT.
Para justificar os seguidos adiamentos, foi divulgado até que Eliakim Araújo estaria com pneumonia -informação veementemente
negada pelo apresentador, em entrevista à Folha.
Silvio Santos centraliza atualmente todas as decisões. Seu braço
direito, Luciano Callegari, foi afastado da direção da emissora no final de novembro, tornando-se
consultor informal do empresário.
Os principais assessores de Silvio
Santos no momento são Rick Medeiros e o norte-americano Bob
Morse (leia texto ao lado).
O produtor Albert Lewitinn, responsável pelo programa "Márcia" -um dos maiores fenômenos de audiência da nova safra do
SBT-, vem ganhando terreno e
desenvolve, com plenos poderes,
quatro novos projetos para 98.
Enquanto Silvio Santos prestigia
esses novos assessores, Guilherme
Stoliar, ex-vice-presidente da
emissora e atual diretor-executivo,
está em baixa. Na sexta-feira, foram demitidos três dos principais
executivos do SOL (SBT On Line),
divisão da empresa que funciona
como provedor de acesso à Internet e que é um dos negócios coordenados por Stoliar.
Sucesso relativo
Aparentemente, os novos formatos vêm funcionando. "Márcia", desde sua estréia, ameaça a
liderança da "Terça Nobre", da
Globo. Na última semana, por
exemplo, o programa bateu o
"Som Brasil - Tropicália" por 23
pontos a 17 (cada ponto de audiência corresponde a cerca de 80 mil
telespectadores na Grande SP).
"Chiquititas", parceria do SBT
com a rede argentina Telefe, vem
obtendo médias de 18 pontos de
audiência. Além disso, virou um
fenômeno fonográfico, vendendo
1 milhão de cópias de seu primeiro
CD em três meses. Em 98, a emissora quer lançar publicações com
os personagens da novela.
"Alô Crystynah" e "Disney
Club", também do horário nobre,
oscilam entre 12 e 14 pontos.
Os índices de audiência mais que
satisfatórios, no entanto, não refletem no desempenho financeiro.
Após crescer 25% de 1995 para
1996, o faturamento deste ano do
SBT não deve aumentar na mesma
proporção. Segundo estimativas
do mercado publicitário, vai se
manter próximo dos mesmos US$
400 milhões de 96.
A alta no ibope não trouxe novos
patrocinadores nem resultou um
aumento significativo nos valores
cobrados pelas inserções publicitárias. Em fevereiro, um anúncio
de 30 segundos veiculado na linha
de shows do SBT custava R$
20.865. Em novembro, o preço
passou para R$ 22.182 -um aumento inferior a 10%.
Por tudo isso, o sucesso dos novos programas ainda não satisfaz
os diretores da emissora. A avaliação é de que audiência é bom, mas
não enche a barriga de ninguém.
Clones
As alterações de programação no
SBT se refletiram nas outras emissoras do país e mudaram até a estratégia de outras redes.
As novelas de tramas simples e
melosas -como a trilogia mexicana "Maria Mercedes", "Marimar" e "Maria do Bairro", que
roubou parte da audiência do
"Jornal Nacional"- influenciaram o padrão global.
O remake de "Anjo Mau" e a
atual novela das oito da Globo,
"Por Amor", apelam descaradamente para o folhetim mais básico
e tradicional. As redes Bandeirantes e CNT também passaram a exibir dramalhões latinos.
A entrada do "Domingo Legal", de Gugu Liberato, no horário das 15h30 mexeu na audiência
dominical. Liberato supera há dois
meses o "Domingão do Faustão".
Para tentar conter o avanço do
SBT, a Globo lançou mão de quadros apelativos, como a "reportagem" sobre restaurante japonês
que servia sushi sobre o corpo de
mulheres nuas. "Domingo Legal" gerou clones na Record
("Ratinho Show") e na Manchete
("Domingo Milionário").
Além de seguirem o modelo popular do SBT, as outras emissoras
correram atrás de alguns astros da
TV de Silvio Santos. Boris Casoy
foi levado pela Record. Ana Paula
Arósio, cria do núcleo de dramaturgia da casa, protagoniza "Hilda
Furacão", uma das maiores apostas da Globo para o próximo ano.
Márcia Goldschmidt recebeu
proposta para ancorar atração popular na Globo, e Hebe Camargo, a
mais tradicional apresentadora do
SBT, é sondada pela Band, que já
levou Nilton Travesso.
Para 98, Silvio Santos deve apostar ainda mais nas fórmulas lançadas em 97. Resta saber se o resultado vai satisfazê-lo e, com isso, pôr
fim à tal instabilidade.
(FRANCISCO MARTINS DA COSTA e
MARIANA SCALZO)
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