São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 2000

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CINEMA/ESTRÉIA

"OS TRÊS ZURETAS"

Cecilio Neto recria nostalgia da infância perdida



TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA



Godard sugeria que a poesia da infância só poderia ser captada por quem estivesse ciente de que as crianças são ao mesmo tempo anjos e demônios, capazes de fazerem de tudo por carinho ou por maldade. É essa consciência que Cecilio Neto demonstra em "Os Três Zuretas". Mas já não parece possível remontar a essa poesia sem reportá-la aos tempos em que se preservava a inocência desses anjos endiabrados.
Daí o necessário saudosismo do filme. "Os Três Zuretas" é a prova de que, com inteligência e comedimento, é possível dar um fim à ditadura perdulária e ostentatória dos filmes de direção de arte.
Trata-se aqui da história de um garoto paulistano que, por causa das querelas dos pais, vai passar um tempo com os avós no interior. Lá, sob a proteção do avô condescendente e a vigília da avó conservadora, ele retoma a amizade com dois garotos nativos.
Os três, de tanto serem tachados de demônios, passam a acreditar que têm um pacto com o "dito cujo". Coincidências reforçam a crença, mas quanto mais cultuam o demônio, mais se tornam benevolentes. Nostálgico, Neto recria o universo interiorano de uma infância perdida por meio de raros objetos de cena, uma música e uma palavra esquecidas... tudo muito modesto. É de filmes assim que o cinema nacional precisa.

Os Três Zuretas
   
Direção: Cecilio Neto
Produção: Brasil, 2000
Com: Cláudio Marzo, Walderez de Barros, Guto Coelho
Quando: a partir de hoje nos cines Cinesesc, Jardim Sul e circuito


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