|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA/ESTRÉIA
"OS TRÊS ZURETAS"
Cecilio Neto recria nostalgia da infância perdida
TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Godard sugeria que a poesia da infância só poderia ser
captada por quem estivesse ciente
de que as crianças são ao mesmo
tempo anjos e demônios, capazes
de fazerem de tudo por carinho
ou por maldade. É essa consciência que Cecilio Neto demonstra
em "Os Três Zuretas". Mas já não
parece possível remontar a essa
poesia sem reportá-la aos tempos
em que se preservava a inocência
desses anjos endiabrados.
Daí o necessário saudosismo do
filme. "Os Três Zuretas" é a prova
de que, com inteligência e comedimento, é possível dar um fim à
ditadura perdulária e ostentatória
dos filmes de direção de arte.
Trata-se aqui da história de um
garoto paulistano que, por causa
das querelas dos pais, vai passar
um tempo com os avós no interior. Lá, sob a proteção do avô
condescendente e a vigília da avó
conservadora, ele retoma a amizade com dois garotos nativos.
Os três, de tanto serem tachados
de demônios, passam a acreditar
que têm um pacto com o "dito cujo". Coincidências reforçam a
crença, mas quanto mais cultuam
o demônio, mais se tornam benevolentes. Nostálgico, Neto recria o
universo interiorano de uma infância perdida por meio de raros
objetos de cena, uma música e
uma palavra esquecidas... tudo
muito modesto. É de filmes assim
que o cinema nacional precisa.
Os Três Zuretas
Direção: Cecilio Neto
Produção: Brasil, 2000
Com: Cláudio Marzo, Walderez de
Barros, Guto Coelho
Quando: a partir de hoje nos cines
Cinesesc, Jardim Sul e circuito
Texto Anterior: "Atirem no Pianista": Truffaut revisita policial noir obscuro com destilada ironia Próximo Texto: Panorâmica - Cinema: Críticos de NY elegem "Traffic" Índice
|