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MÚSICA
Cantora e compositora volta a se apresentar em São Paulo depois de período de estudos e parcerias em Nova York
Beatriz Azevedo repete saga do migrante brasileiro
DA REPORTAGEM LOCAL
Você já ouviu essa história várias vezes. No Brasil, a artista brasileira ficou penando atrás de auto-expressão, vagando meio errante entre teatro, literatura, música, poesia etc. Feito a Iracema de
Chico Buarque, resolveu migrar
para o dito Primeiro Mundo e lá
se reencontrou consigo própria.
A paulistana Beatriz Azevedo é
quem segue hoje esse argumento
de conto de fadas, fazendo agora o
périplo de volta e vindo se reapresentar ao público local num show
único, hoje, no Sesc Pinheiros.
Em São Paulo, na fase anterior,
ela estudou artes cênicas na Unicamp, encenou Bernard-Marie
Koltès, trabalhou com Zé Celso
Martinez Corrêa, gravou e lançou
dois CDs independentes etc. Ficou guardada no circuito dito alternativo paulistano, ao qual continua a pertencer até hoje.
Mas já não pertence só a ele.
Concluído o primeiro ciclo, raspou-se para os EUA, segundo ela
relata: "Ganhei a Bolsa Virtuose e
fui para Nova York. Estudei música, harmonia, canto, violão, ritmo. Conheci músicos do mundo
inteiro. Tive tempo para me aperfeiçoar sem o compromisso do resultado imediato. O compromisso era comigo mesma".
O sonho de Cinderela não é daqueles de ter virado explosão planetária. Lá ela também foi alternativa ou, nos dizeres gringos,
"underground" -o que adquire
dimensões maiores sob os óculos
de Nova York. Logo no começo,
recebeu convite para cantar no
Joes Pub, de que ela própria não
tinha qualquer referência prévia.
Diz que ficou ressabiada e hesitou
antes de entender que se tratava
do "espaço de música do famoso
Public Theater".
"Estava nervosa no dia do show,
quando entro para cantar, quem
vejo na primeira fila, de cara? David Byrne. Nossa, foi foda, meu
inglês estava tipo "gudi naite éveribódi", e toda essa pressão logo
de cara. Mas sobrevivi e estou
aqui. E foi lá que, além de Byrne,
conheci Robert Garza."
Ela se refere a um dos integrantes da dupla de música eletrônica
Thievery Corporation, que transita pelo ambiente da bossa nova e
gravou parceria e participação de
Beatriz em seu próximo álbum.
A artista, percebe-se, vai se integrando àquela cena meio underground, meio eletrônica, meio
"soft Brazilian" que seduz a América do Norte e tem Bebel Gilberto
como expressão mais conhecida.
Eis Beatriz, então, defronte do
tema inevitável: por que existem
esses brasileiros que são menos
aceitos no Brasil que no exterior?
Ela não demonstra saber a resposta -talvez ninguém saiba-, mas
especula sobre o assunto:
"Do ponto de vista artístico,
acho ótimo ter carreira internacional, é um desafio a mais. Mas
do ponto de vista sociopolítico
acho uma pena o Brasil continuar
nessa de que a melhor saída para
o artista brasileiro é o aeroporto".
Exemplifica citando Vinicius
Cantuária e Cyro Baptista, "grandes músicos com quem trabalhei
lá, que são respeitadíssimos, premiados, homenageados como
merecem, que arrasam lá fora,
mas aqui ninguém conhece".
À conclusão: "É lamentável.
Mas, queira ou não, a gente é artista brasileiro, com toda a honra.
O que sei é que eu quero poder
existir no meu próprio país. Eu
quero criar aqui, trabalhar aqui,
ter condições para expandir minha música aqui dentro". Beatriz
já sabe que não será fácil, o mistério da rejeição em casa própria
permanece. Se quiser conhecê-la,
hoje a chance mora no Sesc Pinheiros -e até é de graça.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
BEATRIZ AZEVEDO. Onde: Sesc
Pinheiros (r. Paes Leme, 195, SP, tel. 0/
xx/11/3095-9400). Quando: hoje, às
18h30. Quanto: entrada franca.
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