São Paulo, quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição, que abre amanhã, revisita produção artística dos anos 50 a partir do acervo do MAM de SP

"Cinqüenta 50" revê pluralidade de década

Marcelo Min/Folha Imagem
Montagem da exposição "Cinqüenta 50", que, a partir do acervo do MAM-SP, mostra a diversidade estilística dos anos 50


JANAINA FIDALGO
DA REDAÇÃO

No Brasil, após nove anos de ditadura do Estado Novo, Getúlio Vargas volta ao poder em 1950 por meio de eleições democráticas. No mundo, capitalistas alinhados aos EUA de um lado; comunistas liderados pela União Soviética de outro. Vive-se aqui um momento de abertura interna e ao mesmo tempo de não-alinhamento. Nas artes, a diversidade e a abertura das tendências estéticas ao debate marcam o período.
Assim foram, grosso modo, os anos 50, revisitados por meio do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo a partir de amanhã na exposição "Cinqüenta 50", com 75 obras de 38 artistas representantes da pluralidade estilística daqueles anos.
"É a primeira década que o Brasil vive a democracia. Preservar a pluralidade de ponto de vista é respeitar a diversidade no campo da arte como parte deste processo histórico", diz Felipe Chaimovich, curador e crítico da Folha.
Freqüentemente exaltada nos anos 50 como representante da arte brasileira, a abstração construtiva caminha lado a lado com outros estilos em "Cinqüenta 50". Desconstruir essa concepção arraigada foi um dos princípios norteadores do curador, tendo em mente a proposta de refletir sobre o acervo do MAM-SP.
"Foi uma visão construída nos anos 90 porque há um consenso internacional de que arte brasileira vem da experiência construtivista abstrata. É uma espécie de propaganda que tem no horizonte o debate da arte internacional e uma força de interpretação parcial da arte brasileira", explica.
Assim, a mostra exibe as diferentes estéticas presentes no acervo, organizadas em núcleos. A produção figurativa é representada por obras de Alfredo Ceschiatti, Lívio Abramo, Rasmus Skov, Samson Flexor e Sônia Ebling.
Os conflitos das classes sociais da metrópole, expressos pelo realismo urbano, são vistos no belo ensaio gráfico-poético "A Cidade Moderna" (1958), de Carlos Prado -o álbum traz 12 gravuras em metal, ao lado de poemas. No mesmo núcleo estão presentes fotos de German Lorca que retratam temas mais que atuais -da briga no futebol à procura de emprego. Há ainda uma fotografia externa da catedral da Sé, com vista para a praça, onde se vê o extinto edifício Santa Helena, onde se reunia o grupo de mesmo nome liderado pelo pintor Francisco Rebolo. O núcleo traz também um quadro de Mário Zanini, um desenho de Odilla Mestriner e ilustrações de Ademar, Darcy Penteado, Gerda Brentani, Hansen-Bahia e Marcelo Grassmann -publicados em "O Estado de S.Paulo" e doadas ao MAM.
Em menor número na exposição, o surrealismo se faz presente por obras como "Retrato de Samuel Koogan" (1956), de Alberto Guignard, "Nu no Chuveiro" (1955), do autodidata José Antônio da Silva, e por três gravuras de Antônio Henrique Amaral -parte de um lote de 50 peças adquiridas neste ano pelo MAM.
Dos construtivistas, "Cinqüenta 50" destaca a produção de Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Hermelindo Fiaminghi, Ivan Serpa, Lygia Clark, Lygia Pape. No núcleo de abstracionismo informal estão obras de Arthur Piza, Flávio Shiró, Heinz Kühn, Samson Flexor e Sérvulo Esmeraldo.
Imagens de Thomas Farkas que retratam a construção de Brasília e sua contribuição para o modernismo fecham a exposição. No ar, fica um elogio à diversidade e à riqueza da arte brasileira.

CINQÜENTA 50. Curador: Felipe Chaimovich. Onde: MAM-SP (parque Ibirapuera, portão 3, tel. 0/xx/11/5549-9688). Quando: abertura amanhã, às 19h30; ter., qua. e sex., das 12h às 18h; qui., das 12h às 22h; sáb., dom. e feriados, das 10h às 18h; até 22/12 e de 4/1 a 13/3. Quanto: R$ 5 (entrada franca aos domingos, o dia todo, e às quintas, a partir das 17h).


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