São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

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LITERATURA

Romance que sairá em junho nos EUA mostra um adolescente americano muçulmano como autor de um atentado

Novo livro de John Updike aborda terrorismo "caseiro"

4.ago.2001/Divulgação
O escritor americano John Updike, que prepara o livro "Terrorist"


DA REPORTAGEM LOCAL

O novo projeto do escritor John Updike promete causar polêmica. E não apenas nos círculos literários. Com o título de "Terrorist" [terrorista], seu novo romance encerra uma trama culturalmente desafiadora para os Estados Unidos após os ataques de 11 de setembro de 2001: o terrorista de Updike é um adolescente americano, que recebe do autor um tratamento solidário.
A ameaça não é anônima, estrangeira ou treinada no exterior por Osama Bin Laden. Trata-se de um garoto de 18 anos, filho de uma mãe irlandesa e um pai egípcio, que descobre o islã numa pequena escola ginasial, urbana, nos Estados Unidos.
"Minha tentativa é, de certa forma, lidar com o mundo de hoje", diz Updike numa entrevista à agência Reuters, referindo-se ao livro que ele pretende lançar em junho nos Estados Unidos.
"O terrorismo é um dos temas que mudaram a textura da vida americana de modo significante. Algo que certamente dá medo porque você pensa: "Bem, não sou um terrorista, mas alguém pode ser".", sustenta o autor.
Updike chegou a ter outro título em mente: "Land of Fear" [terra do medo]. "Mas alguém já havia pego esse, e "Terrorist" é mais interessante", diz ele. Algumas cenas se passam em Washington, num gabinete de governo ficcional, mas Updike toma cuidado para não entregar todo o enredo.
"Pensei que minha abordagem do assunto seria diferente de qualquer outra. Uma tentativa de entender a situação do ponto de vista do terrorista e fazendo dele um personagem simpático", revela o autor.

Contos
"Terrorist" é o mais recente título de um dos mais prolíficos autores dos Estados Unidos, recorrente vencedor do Prêmio Pulitzer, que, aos 73 anos, afirma que sua visão de si mesmo como um escritor tem mudado à medida que ele produz um volume crescente de arte e crítica literária. Seu último livro de ensaios, "Still Looking", publicado este ano, traça a trajetória de artistas americanos do século 18 ao 20 e representa uma continuação à coleção "Just Looking", de crítica de arte, lançada em 1989.
Instigado a dizer qual gênero prefere como escritor -contos, romances, poesia ou crítica-, Updike faz uma pausa.
"Se tivessem me perguntado isso há dez anos, eu diria que, com os contos, eu me sinto mais em casa. Não sei se me sinto mais assim", pondera. "Já publiquei uns 200 e não sei quanto mais se pode esperar. As idéias têm vindo cada vez mais raramente."
Morador de Massachusetts, Updike é conhecido por explorar temas com forte tensão sexual, angústia espiritual e moral, tendo pequenas cidades como cenário. Para muitos leitores, ele é talvez mais conhecido como uma fonte aparentemente inesgotável de contos, publicados na revista "The New Yorker".
"Num conto, você tem que fazer com que tudo se volte para um certo efeito no fim. É algo como um feito muscular, para o qual eu perdi os músculos. Mas, de qualquer forma, eu ainda estou tentando", diz.
"Tornei-me mais um crítico literário e de artes do que havia planejado. Ao menos há um conforto quando sei que, depois que me sento para escrever tais críticas, elas serão publicadas e eu receberei por elas. O que não é sempre o caso dos contos."

Com as agências internacionais

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