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TELEVISÃO
Telecine exibe hoje "O Enfermeiro', que inicia série de adaptações de textos de autores brasileiros para as telas
Autran brilha em conto cruel de Machado
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
O Telecine exibe hoje, às 22h30, o
média-metragem "O Enfermeiro",
baseado no conto homônimo de
Machado de Assis.
Dirigido por Mauro Farias, o filme é o primeiro de uma série de
adaptações de contos brasileiros
que o canal por assinatura pretende colocar no ar.
O próximo a ser filmado deverá
ser "Dona Custódia", de Fernando
Sabino. Depois virão contos de Rachel de Queiroz, Rubem Braga,
Carlos Drummond de Andrade e
Eric Nepomuceno, entre outros.
Todos serão dirigidos por Farias.
Tomara que todos sejam tão
bons quanto "O Enfermeiro". Tendo como matéria-prima uma diabólica parábola machadiana sobre
o conflito entre a consciência ética
e o interesse material, Farias foi
humildemente fiel ao texto original e fez um filme inteligente, sutil
e divertido.
O conto foi publicado originalmente em 1884, na "Gazeta de Notícias", e recolhido no ano seguinte
no livro "Várias Histórias". Um
pouco na linha do famoso "A Causa Secreta", explora os aspectos
mais sombrios da alma humana,
mas aqui com um humor cruel que
beira o sarcasmo.
A história é narrada retrospectivamente pelo protagonista, Procópio Valongo (Matheus Nachtergaele). Depois de trabalhar como
secretário de um padre, ele aceita a
incumbência de servir de enfermeiro a um velho doente, o coronel Felisberto (Paulo Autran), numa cidadezinha do interior.
Rabujento, mimado, iracundo, o
velho já trocou de enfermeiro inúmeras vezes. Nenhum deles suportou suas ofensas e manias.
Movido em parte pelas virtudes
recomendadas pelo vigário local
("mansidão e caridade") e em parte pelo salário, Procópio resiste a
xingamentos e bengaladas, até que
um dia sua raiva explode e... não
cabe antecipar o que acontece.
Basta dizer que, a partir daí, a
moral da parábola se aprofunda. O
que era uma briga de gato e rato
entre o sadismo de um personagem e a paciência de outro transforma-se numa luta interna ainda
mais violenta, a da justificação
moral de um ato criminoso.
Não será exagero dizer que todo
o cinismo da elite proprietária brasileira é radiografado na trajetória
de Procópio.
Mérito de Machado, claro, mas
mérito também do diretor Mauro
Farias, que condensou os conflitos
morais do conto num duelo entre
dois atores excepcionais.
Se não tivesse outras qualidades,
"O Enfermeiro" já valeria só pela
oportunidade de ver o grande Paulo Autran em estado de graça.
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Filme: O Enfermeiro
Direção: Mauro Farias
Com: Paulo Autran, Matheus Nachtergaele
Quando: hoje, às 22h30, no Telecine
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