IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

Uma briga de compadres é a causa do novo disco de John Fogerty, cantor, guitarrista solo e único compositor da banda de rock'n'roll californiana Creedence Clearwater Revival (1968-1972).
"Premonition", CD ao vivo lançado agora no Brasil, é a grande arma de Fogerty para não perder terreno no pântano que virou a herança da banda -que inclui acusações de plágio, brigas pelos direitos das canções e processos contra o uso do nome do grupo.
Com exceção de algumas apresentações especiais, Fogerty não tocava músicas do Creedence em concertos desde que a banda acabou, em 1972.
Sua volta às origens aconteceu no ano passado, quando lançou "Blue Moon Swamp" (que ganhou o Grammy de melhor disco de rock do ano) e iniciou uma excursão mundial revezando as músicas novas com seus clássicos.
Em "Premonition", gravado em 12 e 13 de dezembro de 97, em Burbank, Califórnia, Fogerty apresenta dez músicas da antiga banda e oito de sua carreira solo. Vem acompanhado de dois guitarristas, um baixista e um baterista, nenhum deles ex-Creedence.
Esse hiato de 25 anos sem tocar regularmente as músicas antigas é culpa de um arrependimento contratual. Quando a banda terminou, a gravadora Fantasy Records ficou com os direitos sobre as músicas e liberou Fogerty de gravar outros álbuns, conforme tinha assinado. Insatisfeito, ele deixou de tocar as canções para não pagar royalties.
Apesar de Fogerty não admitir, não pode ser coincidência o fato de ele lançar um disco de clássicos ao vivo exatamente no mesmo dia em que seus ex-parceiros resolvem fazer o mesmo.
Desde 95, o baixista Stu Cook e o baterista Doug "Cosmo" Clifford -remanescentes da banda original- excursionam pelos EUA sob o nome Creedence Clearwater Revisited (e não Revival). Essa banda tocou em outubro no Chile e na Argentina e quase esteve no Brasil.
A dupla chegou a convidar Fogerty para reativar a banda -o quarto Creedence, Tom Fogerty, irmão de John, morreu em 90-, mas ele não apenas se recusou, como entrou na Justiça contra o uso do nome. Processo ou não, o Revisited gravou um disco duplo ao vivo com 22 músicas do Creedence em novembro do ano passado (um mês antes de Fogerty gravar o seu).
O CD se chama "Recollection" e foi lançado em 9 de junho nos EUA. O de Fogerty saiu no mesmo dia. Curiosamente, foi em junho de 68, 30 anos antes, que saiu o primeiro disco do Creedence Clearwater Revival.
Em entrevistas dadas no lançamento de "Premonition" nos EUA, Fogerty pegou pesado. Questionado sobre como eram as coisas no Creedence, explicou: "Eu sempre ensinava as partes deles. Na maioria das vezes, eles só iam ouvir a melodia quando o disco já estava pronto. Às vezes, eu não contava nem o nome das músicas."
"Eles queriam escrever músicas, dar opiniões sobre os arranjos e até cantar. Chegaram a colocar vocais e tamborins em "Proud Mary'. Ficou sofrível."



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