UOL


São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A segunda-feira que sacudiu o pop

Divulgação
Stephen Morris, Bernard Sumner e Peter Hook; Gillian Gilbert não excursiona mais com o grupo



Há exatos 20 anos, "Blue Monday" era tocada pela 1ª vez em uma rádio e mudava a música de nossos dias


THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

No dia 16 de janeiro de 83, pouco antes da meia-noite, pelas mãos de um DJ da rádio Piccadilly, uma emissora de Manchester, era veiculada pela primeira vez na Inglaterra a "música nova de uma banda que vocês já devem conhecer", nas palavras do locutor. Sem saber, ele estava debutando o single que mudaria o pop desde então.
"Ouvir aquilo foi... estranho. E bem excitante", disse à Folha, por telefone, Tony Wilson, dono da Factory Records, a gravadora que lançava aquela canção: "Blue Monday", do New Order. "Aquilo foi uma linha separando a nova da velha música."
Um protótipo da canção havia sido tocado pela banda em um show australiano no final de 82. Mas foi com seu lançamento oficial, apenas em vinil, em março de 83, que ocorreu o rompimento definitivo do New Order com seu passado sombrio (o Joy Division e o suicídio do vocalista Ian Curtis, em 80). As batidas rítmicas secas, o baixo grave ao fundo, a letra ambígua, aquela canção transpunha a disco music dos 70 para um território de "credibilidade"; uniu fãs do The Jam e de Human League; fez hooligans e estudantes de arte se abraçarem.
Ali, o New Order antecipava e dava as coordenadas sonoras para o tecno e a house que viriam surgir de Detroit e Chicago, respectivamente. Com o auxílio de sintetizadores e bateria programada, Bernard Sumner, Peter Hook, Stephen Morris e Gillian Gilbert eram quatro garotos brancos tocando música negra para garotos brancos dançarem.
"Uma história conhecida sobre "Blue Monday'", conta Wilson, que foi o personagem principal do filme-documentário "A Festa Nunca Termina" ("24 Hour Party People"), "aconteceu com Neil Tennant [do duo Pet Shop Boys]. Ele entrou em choque quando ouviu a música em uma loja. Comprou o single e ficou trancado em casa por três semanas. Ele disse depois que aquilo era o que ele sempre sonhou fazer, mas outras pessoas haviam conseguido."
"Blue Monday" tornou-se o single de 12 polegadas (o vinil grande) mais vendido da história. Mas ninguém ganhou dinheiro. As idéias megalomaníacas de Tony Wilson e do designer Peter Saville fizeram com que o preço de custo da capa do vinil explodisse. "O disco nos custava 90 centavos. Vendíamos às distribuidoras por 92 centavos. Os dois centavos de lucro eram divididos igualmente entre a Factory e a banda. Só que, depois, ainda tínhamos que pagar os custos de divulgação. No final, acabávamos perdendo três centavos por cópia produzida", conta Wilson.
Hoje, 20 anos mais velha, "Blue Monday" ainda soa tão ou mais fresca do que praticamente tudo o que vem sendo feito por "descendentes" do New Order, como Ladytron e Fischerspooner.
Em 88, em sua única visita ao Brasil, o New Order tocou seu maior single em suas seis apresentações que fez por aqui (em São Paulo, Rio e Porto Alegre). A música pode ser encontrada, por exemplo, no disco "Power, Corruption and Lies" (83) e nas coletâneas "Substance" (87) e "The Best Of" (95), lançados no país.
"Blue Monday" foi um dos pilares que levantaram a house music mundial", afirma o DJ Renato Lopes, 40, um dos precursores da cena eletrônica brasileira.


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Comentário: Quarteto quebrou barreira entre rock e música para pista
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.