São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2005

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LANÇAMENTOS / DVD

COLEÇÃO

Pacote traz "JFK - A Pergunta que Não Quer Calar", "Assassinos por Natureza", "Entre o Céu e a Terra" e "Um Domingo Qualquer"

Caixa envereda pela América de Oliver Stone

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Para um país que diz prezar tanto a verdade, é de estranhar que os EUA tenham presidentes com mentiras no ponto de inflexão de seus mandatos. Ou então que esse seja o país em que elaborar teorias da conspiração é quase esporte nacional.
Nessa lógica, nada mais normal que, no cinema, os EUA tenham como espécies de "ombudsmen" nomes como Oliver Stone ou Michael Moore. Cada um deles usando estratégias de criação de verdades, como a manipulação da imagem (Stone) ou a incitação ao ridículo (Moore), para levar à tona questionamentos públicos.
A América e seus esqueletos de armário, também presentes no mais recente Stone, "Alexandre", recheiam a "Coleção Oliver Stone", caixa de quatro DVDs do diretor, que traz "JFK - A Pergunta que Não Quer Calar" (91), "Entre o Céu e a Terra" (93), "Assassinos por Natureza" (94) e "Um Domingo Qualquer" (99).
E é com "JFK" -aqui na versão "director's cut"-, um de seus maiores filmes, que o cineasta remove quaisquer dúvidas que poderiam existir sobre seus métodos de trabalho, ao abordar o momento em que os EUA perdem sua inocência -o assassinato do presidente John F. Kennedy.
Stone é, antes de mais nada, um obstinado manipulador de fatos, que usa a montagem como arma. A tese de Jim Garrison (Kevin Costner)/Stone nada mais é que o ato de um cineasta editando seu filme, tendo o registro de Zapruder como matéria-prima.
O mesmo homem perplexo com as ambigüidades de um país que vende a idéia de liberdade, mas ao mesmo tempo sonega informações sobre a morte de um presidente lança olhar crítico/oportunista sobre as relações entre a mídia e a violência, em "Assassinos". Afinal, neste "road movie", é quase impossível enxergar os limites entre a defesa de um cinema de violência e a ironia. Nos extras deste DVD -que traz documentário, cenas excluídas e final alternativo-, Stone se defende da acusação, dizendo que a estilização é para forçar o caráter cartum do filme e que o discurso é dos personagens, não dele.
Com "Entre o Céu e a Terra" e "Um Domingo Qualquer", Stone reafirma sua crença no poder transformador do ser humano e na sua capacidade de superar obstáculos. No primeiro, um melodrama, o diretor encerra sua trilogia sobre a Guerra do Vietnã ao adotar o ponto de vista do outro lado, na figura de uma garota oriental que passa por maus bocados. O DVD traz cenas excluídas.
Em "Domingo", ele vê o campo de futebol americano como microcosmo da sociedade dos EUA. Na figura de um treinador em fim de carreira, o cineasta avalia o romantismo dos "velhos tempos", destruído pela lógica capitalista. Na sua crítica à opressão e aos mecanismos escusos do poder, Stone reforça ao extremo a força do cinema enquanto usuário de procedimentos da TV, na tentativa de moldar o coro da opinião pública -a emoção, as lágrimas etc. Na ambigüidade, Stone é um grande norte-americano.


Coleção Oliver Stone
Assassinos por Natureza: 
Um Domingo Qualquer: 
Entre o Céu e a Terra:  
JFK - A Pergunta que Não Quer Calar:   
Quanto: R$ 100, em média (Warner)


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