São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

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Crítica/"Beijo na Boca, Não"

Musical agradável ainda é pouco para Resnais

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O fascínio do francês Alain Resnais pela música, a ponto de buscar incorporá-la na própria matéria de seus filmes, já tinha ficado evidente em "Mélo" (1986) e "Aquela Velha Canção" (1997). Em "Beijo na Boca, Não!" (2003) ele retoma esse namoro, desta vez numa chave francamente retrô, adaptando uma opereta de André Barde (1874-1945).
Nesta farsa sobre os encontros e desencontros amorosos, ambientada em 1925, os mal-entendidos giram em torno dos dois maridos consecutivos da madame Gilberte Valandray (Sabine Azéma, mulher de Alain Resnais).
O primeiro, o magnata americano Eric Thomson (Lambert Wilson), por conta de um trauma de infância, não admite ser beijado na boca. O segundo marido, que desconhece a existência do primeiro, é o empresário francês Georges Valandray (Pierre Arditi). Julgando-se o primeiro amor de Gilberte, ele tem uma tese que o deixa seguro quanto à fidelidade da esposa, apesar dos vários flertes desta: a mulher sempre volta ao homem a quem cedeu sua virgindade.
A ação se concentra no momento em que Valendray e Thomson se encontram em Paris para fechar um negócio milionário. As peripécias de Gilberte para esconder o passado e salvar o casamento se complicam com a intervenção de diversos personagens secundários, cada um deles com suas motivações amorosas.

Leveza
Tudo se passa em dois únicos cenários, ostensivamente artificiais e vistosamente decorados: a mansão dos Valendray e uma garçonnière. Quiproquós, reviravoltas, canções marotas, frases de duplo sentido, o estofo usual desse tipo de espetáculo, tudo isso o diretor conduz com segurança e uma certa leveza.
Resulta daí um filme agradável, valorizado pela eficiência cômica de Arditi e Wilson (este último rouba a cena com seus tiques e sotaques), atores que, ao lado de Sabine Azéma, fazem parte da trupe habitual de Resnais. Mas é muito pouco para um cineasta que já fez o que ele fez ("Hiroshima, Meu Amor" e "O Ano Passado em Marienbad", por exemplo).
Em seu filme seguinte, o um tanto chocho e supervalorizado "Medos Privados em Lugares Públicos" (2006), também baseado numa peça teatral, pelo menos o diretor encarou o tema espinhoso das relações pessoais contemporâneas. Agora, aos 86 anos, Resnais finaliza "Les Herbes Folles". É esperar para ver.


BEIJO NA BOCA, NÃO!
Produção: França/Suíça, 2003
Direção: Alain Resnais
Com: Sabine Azéma, Audrey Tautou, Pierre Arditi, Lambert Wilson
Onde: estreia hoje no HSBC Belas Artes
Classificação: não indicado a menores de 12 anos Avaliação: regular



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