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Crítica/"Beijo na Boca, Não"
Musical agradável ainda é pouco para Resnais
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O fascínio do francês
Alain Resnais pela música, a ponto de buscar
incorporá-la na própria matéria de seus filmes, já tinha ficado evidente em "Mélo" (1986) e
"Aquela Velha Canção" (1997).
Em "Beijo na Boca, Não!"
(2003) ele retoma esse namoro, desta vez numa chave
francamente retrô, adaptando
uma opereta de André Barde
(1874-1945).
Nesta farsa sobre os encontros e desencontros amorosos,
ambientada em 1925, os mal-entendidos giram em torno dos
dois maridos consecutivos da
madame Gilberte Valandray
(Sabine Azéma, mulher de
Alain Resnais).
O primeiro, o magnata americano Eric Thomson (Lambert
Wilson), por conta de um trauma de infância, não admite ser
beijado na boca. O segundo marido, que desconhece a existência do primeiro, é o empresário
francês Georges Valandray
(Pierre Arditi). Julgando-se o
primeiro amor de Gilberte, ele
tem uma tese que o deixa seguro quanto à fidelidade da esposa, apesar dos vários flertes
desta: a mulher sempre volta ao
homem a quem cedeu sua virgindade.
A ação se concentra no momento em que Valendray e
Thomson se encontram em Paris para fechar um negócio milionário. As peripécias de Gilberte para esconder o passado e
salvar o casamento se complicam com a intervenção de diversos personagens secundários, cada um deles com suas
motivações amorosas.
Leveza
Tudo se passa em dois únicos
cenários, ostensivamente artificiais e vistosamente decorados: a mansão dos Valendray e
uma garçonnière.
Quiproquós, reviravoltas,
canções marotas, frases de duplo sentido, o estofo usual desse tipo de espetáculo, tudo isso
o diretor conduz com segurança e uma certa leveza.
Resulta daí um filme agradável, valorizado pela eficiência
cômica de Arditi e Wilson (este
último rouba a cena com seus
tiques e sotaques), atores que,
ao lado de Sabine Azéma, fazem
parte da trupe habitual de Resnais. Mas é muito pouco para
um cineasta que já fez o que ele
fez ("Hiroshima, Meu Amor" e
"O Ano Passado em Marienbad", por exemplo).
Em seu filme seguinte, o um
tanto chocho e supervalorizado
"Medos Privados em Lugares
Públicos" (2006), também baseado numa peça teatral, pelo
menos o diretor encarou o tema espinhoso das relações pessoais contemporâneas. Agora,
aos 86 anos, Resnais finaliza
"Les Herbes Folles". É esperar
para ver.
BEIJO NA BOCA, NÃO!
Produção: França/Suíça, 2003
Direção: Alain Resnais
Com: Sabine Azéma, Audrey Tautou,
Pierre Arditi, Lambert Wilson
Onde: estreia hoje no HSBC Belas
Artes
Classificação: não indicado a menores
de 12 anos
Avaliação: regular
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