São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

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No fim, "Favorita" deixa a lanterna no Ibope

Trama de autor novato, que acaba hoje, teve 2ª pior audiência das 21h na década

Para Lauro César Muniz, da Record, foi o melhor folhetim dos últimos anos; Silvio de Abreu diz que produção sofreu por inovar

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Com a exibição do último capítulo de "A Favorita", hoje à noite, a Globo se despede de um pesadelo. Por pouco a novela do novato João Emanuel Carneiro não foi encurtada. Escapou do "facão", mas poderia ser mais longa. Seu encerramento em janeiro, mês de férias, é totalmente atípico, porque isso pode prejudicar a sucessora.
"A Favorita" acumulava, até a última segunda, média de 39,3 pontos na Grande São Paulo. É a segunda pior audiência da faixa mais nobre da Globo nesta década. Só ganha de "Esperança" (2002), que registrou 38.
Parcialmente ofuscada por "Os Mutantes", da Record, "A Favorita" teve a pior estreia da história das novelas das oito. A Globo teve que relançá-la, dois meses depois, encerrando a ambiguidade sobre quem era vilã (Flora, Patrícia Pillar) e mocinha (Donatela, Cláudia Raia), em capítulo que parecia planejado para ser o último.
Mas sua recuperação só ocorreu mesmo após outubro, com o sucesso de Flora e a derrocada de "Os Mutantes".
"A Globo trabalhou muito por "A Favorita". Fez um fracasso para seus padrões parecer um grande sucesso. Tem um império de comunicação com esse propósito. É muito difícil concorrer com esse império", desculpa-se Tiago Santiago, autor de "Os Mutantes", que em agosto prometera fazer o possível para que "A Favorita" fosse o pior ibope das 21h da Globo. O bom trabalho de Patrícia Pillar é a única unanimidade. As opiniões sobre a novela se dividem. Uns a acham inovadora. Outros, superficial e toscA.
Para Silvio de Abreu, autor da Globo e ex-supervisor de João Emanuel Carneiro, "A Favorita" sofreu por ter arriscado. "A maneira de contar a história foi a novidade. A história evoluiu ao mesmo tempo em que os problemas eram encadeados, e os personagens iam se revelando de uma maneira sempre surpreendente. A narrativa foi subvertendo os mitos apresentados no início, como se fosse o reflexo contrário do espelho: a mocinha era a vilã, o homossexual gostava de uma mulher; o político corrupto encontra a redenção. Fugiu-se dos clichês", diz. Abreu, porém, diz que faltou humor à trama.
Lauro César Muniz, autor da Record, também elogia Carneiro. "Entre os jovens autores, é o mais promissor. Transita bem pela comédia e pelo drama policial. Mas falta coragem e depuração de estilo para se tornar um grande roteirista. Coragem para abandonar certas facilidades e livrar-se de estruturas esquemáticas", afirma, lembrando o excesso de cenas copiadas de filmes e séries (até "Chapolin" apareceu numa fala).
Para Muniz, "com todos os defeitos e problemas, "A Favorita" foi a melhor novela da Globo nos últimos anos".
Carneiro (que não quis falar com a Folha) indicou no site da Globo que Flora não morre. Muniz e Abreu aprovam. "Eu faria com que ela saísse impune e vitoriosa", sugere Abreu. "Flora merece passar o resto dos dias ouvindo em tempo integral "Beijinho Doce" cantado por Donatela e João Emanuel", propõe Muniz, cruel.


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