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No fim, "Favorita" deixa a lanterna no Ibope
Trama de autor novato, que acaba hoje, teve 2ª pior audiência das 21h na década
Para Lauro César Muniz, da Record, foi o melhor folhetim dos últimos anos; Silvio de Abreu diz que produção sofreu por inovar
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Com a exibição do último capítulo de "A Favorita", hoje à
noite, a Globo se despede de um
pesadelo. Por pouco a novela do
novato João Emanuel Carneiro
não foi encurtada. Escapou do
"facão", mas poderia ser mais
longa. Seu encerramento em
janeiro, mês de férias, é totalmente atípico, porque isso pode prejudicar a sucessora.
"A Favorita" acumulava, até a
última segunda, média de 39,3
pontos na Grande São Paulo. É
a segunda pior audiência da faixa mais nobre da Globo nesta
década. Só ganha de "Esperança" (2002), que registrou 38.
Parcialmente ofuscada por
"Os Mutantes", da Record, "A
Favorita" teve a pior estreia da
história das novelas das oito. A
Globo teve que relançá-la, dois
meses depois, encerrando a
ambiguidade sobre quem era
vilã (Flora, Patrícia Pillar) e
mocinha (Donatela, Cláudia
Raia), em capítulo que parecia
planejado para ser o último.
Mas sua recuperação só
ocorreu mesmo após outubro,
com o sucesso de Flora e a derrocada de "Os Mutantes".
"A Globo trabalhou muito
por "A Favorita". Fez um fracasso para seus padrões parecer
um grande sucesso. Tem um
império de comunicação com
esse propósito. É muito difícil
concorrer com esse império",
desculpa-se Tiago Santiago, autor de "Os Mutantes", que em
agosto prometera fazer o possível para que "A Favorita" fosse
o pior ibope das 21h da Globo. O
bom trabalho de Patrícia Pillar
é a única unanimidade. As opiniões sobre a novela se dividem. Uns a acham inovadora.
Outros, superficial e toscA.
Para Silvio de Abreu, autor da
Globo e ex-supervisor de João
Emanuel Carneiro, "A Favorita" sofreu por ter arriscado. "A
maneira de contar a história foi
a novidade. A história evoluiu
ao mesmo tempo em que os
problemas eram encadeados, e
os personagens iam se revelando de uma maneira sempre surpreendente. A narrativa foi
subvertendo os mitos apresentados no início, como se fosse o
reflexo contrário do espelho: a
mocinha era a vilã, o homossexual gostava de uma mulher; o
político corrupto encontra a redenção. Fugiu-se dos clichês",
diz. Abreu, porém, diz que faltou humor à trama.
Lauro César Muniz, autor da
Record, também elogia Carneiro. "Entre os jovens autores, é o
mais promissor. Transita bem
pela comédia e pelo drama policial. Mas falta coragem e depuração de estilo para se tornar
um grande roteirista. Coragem
para abandonar certas facilidades e livrar-se de estruturas esquemáticas", afirma, lembrando o excesso de cenas copiadas
de filmes e séries (até "Chapolin" apareceu numa fala).
Para Muniz, "com todos os
defeitos e problemas, "A Favorita" foi a melhor novela da Globo nos últimos anos".
Carneiro (que não quis falar
com a Folha) indicou no site da
Globo que Flora não morre.
Muniz e Abreu aprovam. "Eu
faria com que ela saísse impune e vitoriosa", sugere Abreu.
"Flora merece passar o resto
dos dias ouvindo em tempo integral "Beijinho Doce" cantado
por Donatela e João Emanuel",
propõe Muniz, cruel.
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