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Sebos criam estratégias para evitar receptação de livros roubados em SP
DA REPORTAGEM LOCAL
O roubo de livros alimenta
tanto as estantes de ladrões
aventureiros ou cleptomaníacos quanto uma espécie de
mercado negro das letras.
No último caso, seu destino é
o troca-troca descuidado de volumes em sebos, camelôs e barracas em feiras de livros.
Muitos livreiros interpretam
a preferência de ladrões por
best-sellers como uma busca
por liquidez de mercado: um
sucesso de vendas nas livrarias
encontra clientela fora delas
com mais facilidade.
Frederico Zapelloni, 39, teve
uma barraca de livros na calçada do Espaço Unibanco de Cinema nos anos 90 antes de
abrir seu próprio sebo na galeria em frente. Com o tempo,
passou a reconhecer que até os
tipos mais insuspeitos tentavam revender livros furtados.
"Havia uma senhora de mais
ou menos 70 anos que, de tempos em tempos, surgia para revender livros novos, sempre em
número reduzido", lembra.
"Entre os donos de sebo da região, ela era conhecida como
Moll Flanders", diz, em alusão
à personagem de Daniel Dafoe
que vive de expedientes na Inglaterra do século 18.
Zapelloni criou um sistema
em que cataloga todos os que
surgem em seu sebo para vender livros. "Quem quer vender
livro roubado não vai querer
dar endereço e documento."
Para Rubem Sampaio, 69, do
sebo Traças e Troços, "o dono
de sebo que compra livros de
procedência duvidosa está estimulando algo que pode se voltar contra ele no futuro". Sua
técnica é não comprar livros
usados em pequenas quantidades. "Não compramos dois livros de ninguém. Fazemos negócio com quem chega com 20
ou 30 livros usados justamente
para evitar sermos receptadores de produtos roubados."
Rogério Akira, 39, dono do
sebo Sagarana, utiliza critérios
subjetivos. "Quando desconfio,
não compro." Há poucos meses, recebeu a visita do dono da
livraria Para Todos, que fica no
mesmo quarteirão de sua loja.
"Apareceu alguém aí querendo
vender dois "Harry Potter'? Sumiram da minha loja", perguntou ele. Ninguém havia passado
por ali daquela vez.
Apesar das precauções de alguns, muitos donos de sebos
admitem que colegas menos
cuidadosos acabam alimentando esse mercado ilegal.
(FM)
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