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CINEMA
Filme de Michael Winterbottom, atração em Berlim, conta história real
"Road to Guantánamo" critica os EUA
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
A crítica à política externa norte-americana definitivamente está marcando o Festival de Cinema
de Berlim. Seu momento mais
forte até agora ocorreu anteontem, com a exibição de "Road to
Guantánamo" (estrada para
Guantánamo), do diretor inglês
Michael Winterbottom.
O público da sessão para a imprensa aplaudiu com entusiasmo
o filme baseado na história verídica de quatro jovens muçulmanos
que vivem em Tipton, Inglaterra.
Na narrativa, dois deles são presos por mais de dois anos em
Camp Delta, na base americana
de Guantánamo, Cuba, acusados
de pertencerem ao Taleban, a milícia radical islâmica que controlava o Afeganistão até ser deposta
pelas tropas dos EUA.
Em setembro de 2001, Ruhal
Ahmed, Asif Iqbal, Shafiq Rasul e
Monir Ali partem para o Paquistão, onde Iqbal iria se casar. De lá,
com um primo de Iqbal, seguem a
Cabul, no Afeganistão, "para ver o
que se passa e ajudar de alguma
forma as pessoas", disse Ahmed,
em Berlim.
Em plena guerra, os jovens perceberam que era melhor voltar ao
Paquistão, comprando a viagem
de retorno num microônibus. Entretanto, eles vão parar em Cunduz, um dos últimos territórios
mantido pelo Taleban, e se perdem. Os rapazes conseguem voltar a Cunduz, mas a guerra já está
no auge. Monir se perde e o trio é
capturado pela Aliança do Norte,
força afegã que atuou ao lado dos
americanos para derrubar o Taleban, e levados para Guantánamo,
onde são mantidos por mais de
dois anos. Só foram liberados em
março de 2004.
Os quatro eram acusados de envolvimento na gravação de um vídeo de Osama bin Laden, mas foram liberados ao provar que, na
época da filmagem, Rasul trabalhava numa loja de fast food e os
demais estavam em Tipton.
A saga é narrada no filme de forma dupla: pelos depoimentos dos
rapazes e em assustadoras reconstituições. "Para transmitir a
experiência deles, tínhamos que
combinar ficção e realidade", disse Winterbottom. Na primeira cena de "Road...", George W. Bush
afirma: "Em Guantánamo há apenas pessoas ruins presas, que não
tem os mesmos valores que nós".
O que se vê em seguida é a desmontagem dessa tese e a existência de um campo de prisioneiros
mantido à base da violência.
"Com o filme, busco mostrar o
que pessoas inocentes passaram e
esse sistema perverso que viola os
direitos humanos, em Guantánamo, onde ainda estão mantidas
cerca de 500 pessoas", disse o diretor inglês, que assina a produção com Mat Whitecross.
O filme será exibido na televisão
inglesa no próximo mês, já que foi
financiado pelo Channel Four (o
custo declarado da produção é de
R$ 5,6 milhões), mas deve entrar
no circuito de cinema mundial.
Curiosamente, os rapazes retratados contaram que até participarem do filme nunca tinham ouvido falar de Winterbottom: "O que
nós gostamos é de Hollywood",
disse Rasul.
Brasileiros
Também anteontem foi a vez
dos brasileiros, em Berlim. "Casa
de Areia", de Andrucha Waddington, teve um início discreto:
sessão para imprensa vazia, apenas 40 pessoas numa sala de 400
lugares, e uma pequena resenha
nos jornais. Já a estréia do documentário "As Meninas", de Sandra Werneck e Gisela Camara, teve direito a sala lotada e tudo para
agradar ao público estrangeiro: a
história de quatro adolescentes,
entre 13 e 16 anos, que engravidam e moram em favelas.
O jornalista Fabio Cypriano viajou a
convite do evento
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