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CRÍTICA
De perto, eles são bem mais normais
DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
É como assistir a uma fita de
casamento sem haver estado
na festa, mas tendo ao lado alguém próximo o suficiente dos
noivos para detalhar -sem envolvimento emocional- aquilo
que não aparece na filmagem.
"A Volta do Poderoso Chefão",
de Mike Winegardner, se ocupa
da trajetória de Michael Corleone
(interpretado nas telas por Al Pacino), filho que assume o controle
do grupo mafioso após a morte de
Don Vito Corleone, e que -como o espectador bem deve se
lembrar- se revelaria muito
mais implacável que o pai.
À semelhança do não-italiano
Tom Hagen -o garoto adotado
por Vito e transformado num intocado conselheiro (levado ao cinema por Robert Duvall)-, Winegardner é um americano descendente de irlandeses que só foi
admitido na "famiglia" após haver superado idiossincráticas provas. O resultado é que, convidado
a mergulhar nesse universo, mas
sem nunca haver de fato pertencido a ele, o escritor consegue dar
frescor aos Corleone.
Ao focar no período 1955-1962,
portanto num antes-e-depois
imediato aos ocorridos ilustrados
em "O Poderoso Chefão 2"
(1974), constrói uma teia menos
de fatos do que de sentimentos.
Os motivos para o inepto Fredo
haver sido assassinado pelo próprio irmão não importam tanto
quanto as frustrações acumuladas
entre os dois. O filho de Michael,
Anthony, deixa evidente o rechaço em relação ao pai não só por
haver crescido longe de seus
olhos, mas por saber a que ponto
chega a crueldade daquele que todos reverenciam por medo. Além
disso, em subtramas, personagens à primeira vista acessórios
terminam por ser a causa das
muitas desgraças vividas pela família, para além das óbvias rixas.
Winegardner conecta ainda os
Corleone ao que acontecia à época nos EUA. Entre outros feitos, o
grupo de Michael se infiltra na
nova estrutura de poder que se ergue quando um descendente de
irlandeses torna-se presidente e
distribui favores a um cantor e
ator popularíssimo, algumas das
muitas piscadelas do escritor ao
leitor, que identifica nessas passagens figuras como John Kennedy
ou Frank Sinatra. Em outros momentos, Hitchcock cruza na rua
com um dos homens de Michael,
a mulher de Hagen apresenta
Andy Warhol à elite de Las Vegas
e Mae West comparece ao enterro
de um líder do submundo.
Quando do anúncio do processo de seleção que deu origem a essa "Volta", seus promotores declararam ter como objetivo continuar a história "de modo divertido". Se foi essa a prova de fogo,
como um "soldato" perspicaz Winegardner cumpriu a missão.
A Volta do Poderoso Chefão
Autor: Mark Winegardner
Editora: Record (588 págs.)
Quanto: R$ 62, em média
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