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COMIDA
Sucesso do jovem chef francês Piège, discípulo de Alain Ducasse, reforça tendência de bons restaurantes
dentro de hotéis
Hotel de estrelas
JOSIMAR MELO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Paris, vetusta e clássica, ao mesmo tempo se renova sempre -e
na cozinha, onde reside uma de
suas principais artes, isso não deixaria de acontecer. E entre suas
novas estrelas está Jean-François
Piège, que, aos 35 anos, vem passando por uma ascensão acelerada, desde que assumiu, em 2004, o
restaurante Les Ambassadeurs,
do luxuoso hotel de Crillon, e não
parou de acumular estrelas e premiações. Nada mal para quem,
até então, vivia à sombra de um
mestre -ele era o chef de cozinha
permanente do restaurante do estreladíssimo (e itinerante) chef
Alain Ducasse, no hotel Plaza
Athénée, em Paris.
Em poucos meses, Piège adquiriu duas estrelas do guia "Michelin" -algo significativo, pois o
centenário guia costuma ser lento
em consagrar novos nomes. O
chef ganhou galardões também
em outros guias e publicações ao
mostrar seu trabalho-solo.
O fato de estar sendo tão incensado mostra que novos nomes
não param de proliferar na cozinha francesa (que hoje enfrenta o
prestígio ascendente de cozinhas
concorrentes, como a espanhola);
mas mostra também outro fenômeno: o peso crescente dos restaurantes de hotel no cenário gastronômico.
Se, no início do século 20, os hotéis sediaram grandes cozinhas na
Europa, com o passar das décadas
seus restaurantes tornaram-se
burocráticos e antiquados, voltados para os hóspedes preguiçosos. Mas, no final do século, o alto
custo da manutenção de restaurantes de luxo começou a ficar pesado demais para os chefs-proprietários. Para um grande hotel,
que tem custos de ingredientes e
equipamentos pulverizados entre
vários restaurantes, bares e serviço de quarto, fica mais fácil conseguir melhores preços e mesmo
abrir mão de ter lucro com seu
restaurante principal, que serve
como uma grife que vale a pena
sustentar.
Na França, essa tendência desenhou-se nos anos 90: num período em que nenhum restaurante
de hotel tinha três estrelas no "Michelin", eis que o Louis 15, restaurante do Hotel de Paris (em Mônaco), ganhou a cotação máxima,
com a cozinha dirigida por Alain
Ducasse.
Depois, ele ganharia igual cotação em Paris, em outro hotel, o
Plaza Athénée, e, neste ano, mais
três estrelas em Nova York, também num hotel, o Essex House.
Na França e fora, outros hotéis começaram a se destacar -o único
três estrelas de Roma, La Pergola
(do chef Heinz Beck), fica no hotel
Cavalieri Hilton; e, em Londres, o
chef Gordon Ramsey, além da casa que leva seu nome, assina o restaurante do hotel Claridge.
Mas Jean-François Piège pensa
diferente. "A grande cozinha não
custa caro, basta ter ótimos ingredientes e chefs", disse ele à Folha,
em Paris. Ele cita outros chefs
emergentes que, como ele, praticam uma cozinha inovadora, mas
não dentro de um hotel -caso de
Pascal Barbot, do L'Astrance, que
acaba de ganhar sua segunda estrela. Não é o caso de Piège, que
decolou nos hotéis, com Ducasse:
primeiro em Mônaco, em 1992,
depois no Plaza Athénée, em
2000, e agora no Crillon.
Pode ser um acaso que ele esteja
neste faustoso endereço da place
de la Concorde, no edifício construído em 1758 por Luís 15, e onde
pode servir iguarias como seu vaporoso blanc-manger com trufas,
seu trio de delicadas variações em
torno do presunto, suas penetrantes versões do timo de vitelo,
seu refrescante doce de chocolate,
banana e limão... De fato, o luxo
que envolve a grande arte da cozinha não é fundamental, mas a tradição tem consagrado o ambiente, equipamento e serviço apoteóticos, o que é um problema real. E
que grandes hotéis mostram poder enfrentar.
Josimar Melo viajou a Paris a convite da
Air France e do hotel de Crillon
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