São Paulo, sexta-feira, 16 de março de 2007

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"É claro que eu sou um dinossauro"

Garnier diz que não gosta das bandas da chamada new rave; "não conhecem história e não estão fazendo nada novo"

"No tecno minimal, algumas coisas são brilhantes, mas 85% é tremendamente chato, um lixo", afirma o DJ


DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a seguir, a continuação da entrevista com o francês Laurent Garnier. (THIAGO NEY)

 

FOLHA - Você não gosta dessas misturas que estão fazendo hoje na dance music?
LAURENT GARNIER -
Em mais de 20 anos de dance music, muita gente vem misturando diferentes estilos. Música indiana com dance, world music com dance. Isso existe há tempos. Mas essas fusões são rasteiras, porque quem faz isso normalmente não pertence a nenhum desses estilos. Quando eu toco drum'n'bass, não misturo com batidas de tecno. Gosto do d'n'b pelo que ele é. A mesma coisa com hip hop, dub, reggae.
O problemas com muitas dessas bandas de rock é que elas não têm bagagem. Outro dia, vi uma reportagem sobre new rave, como chamam na Inglaterra. Nenhuma dessas bandas me agrada, não conhecem a história. E não estão fazendo nada novo. Ninguém venha me dizer que é novo porque o New Order fazia isso há 20 anos, e fazia naturalmente.
Nos anos 80, quando a house music surgiu, e aquilo foi uma verdadeira revolução, você nem precisava tanto ter uma bagagem, porque ali a história estava sendo feita. A house foi algo realmente novo. Usaram a tecnologia de uma maneira inovadora, os vocais eram usados como um instrumento, como uma máquina. Hoje, quando uma banda mistura rock com dance music, dois estilos que têm uma história extensa, me desculpe, mas você tem obrigação de saber como tudo começou.

FOLHA - Além do electro-rock, a dance music vem sendo tomada pelo estilo minimalista...
GARNIER -
Hoje há duas ditaduras na dance music: a do electro-rock e a do tecno minimal. No tecno minimal, algumas coisas são brilhantes, mas 85% é tremendamente chato, vazio, um lixo. E ouvir isso por uma noite inteira é um pesadelo. Infelizmente, 80% dos clubes do mundo só tocam esses tipos de música. Porque está na moda.

FOLHA - Os novos softwares podem trazer algo de novo à música?
GARNIER -
Na década de 90, tínhamos artistas que eram verdadeiros gênios, como Aphex Twin, por exemplo. Hoje, os verdadeiros gênios são os cientistas que desenvolvem novos equipamentos e softwares. Os gênios não estão fazendo música, estão criando máquinas. O resultado disso é a música minimal. Porque o dance-rock está atrás apenas de energia.

FOLHA - No rock, artistas mais velhos, como os Stones, são chamados de dinossauros. Você tem medo de ser tratado como um dinossauro?
GARNIER -
Claro que sou um dinossauro! Me diga quem está fazendo algo novo hoje? Electro-rock? New rave? Me desculpe, mas já faziam isso há dez anos. Os jovens até podem achar que seja diferente, mas não é novo. Bandas como !!!, Shitdisco, Klaxons, são como filhotes do New Order. Não sou contra, acho que devem existir, mas não tente me dizer que isso é novo. Então, sim, claro que sou um dinossauro, sei que os mais novos pensam isso. Os Stones são dinossauros, Bowie é dinossauro, fico muito feliz em ser um dinossauro. Você precisa dos Stones, porque se não fossem eles, o rock and roll seria muito mais chato hoje. O que acho triste é que os jovens não estão vivendo uma verdadeira revolução. E eu realmente espero que algo novo aconteça. Estamos precisando.


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