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Mais assíduos recebem R$ 9.000 por mês
DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO
O que torna, afinal, uma cadeira na ABL tão concorrida e a
eleição para a vaga tão renhida?
""Esta é a mais equilibrada das
14 que eu já vi", segundo a acadêmica Ana Maria Machado,
secretária-geral e uma das mais
influentes da casa.
"Para mim o principal estímulo é o convívio. Onde vou
encontrar esse conglomerado
de inteligências? Pense na linhagem do poder. Essa casa já
teve Machado [de Assis], [Joaquim] Nabuco, Euclydes [da
Cunha], Rui Barbosa. Onde
mais você encontraria essa
plêiade de brasileiros?", opina
Nélida Piñon.
"Fiz uma lista com nomes
que são apontados como cotados para a academia e cheguei a
44. Mostra que a casa tem sedução, mas também a banaliza.
Difícil saber onde termina o
prestígio e começa o desprestígio", analisa o presidente da
ABL, Marcos Vinicios Vilaça.
Para a maioria dos acadêmicos ouvidos, o que mais conta
na decisão de concorrer são o
prestígio e a troca intelectual.
Mas há mais. Há um salário
de R$ 3.000 (chamado de "representação") para todos e jetons por presença nas sessões
às quintas (R$ 1.000) e conferências às terças (R$ 500). Antes das sessões, o imortal assina
a lista de presença e, ato contínuo, recebe um pequeno envelope com a féria. Cash.
Um acadêmico assíduo ganha, portanto, R$ 9.000 mensais, fora plano de saúde. Os diretores recebem um adicional e
têm motorista à disposição.
Tema tabu
Trata-se de um tema tabu entre os imortais. Quase todos, a
começar de Vilaça, desconversam quando questionados sobre dinheiro, sob a alegação que
a ABL é uma entidade privada e
que tocar no assunto é picuinha. "Não passa pela minha cabeça que alguém queira entrar
aqui por dinheiro", diz Vilaça.
"Ninguém fala que a academia distribuiu R$ 5 milhões em
prêmios nos últimos dez anos,
dos livros que editamos, do polo cultural que temos. A imprensa não dá a mínima para
essas coisas", queixa-se o ex-presidente Cícero Sandroni.
"Fingem que não querem [a
remuneração], mas adoram",
provoca Eduardo Portella.
Há também mimos eventuais. Recentemente, dentro da
política de Vilaça de tornar a
entidade "moderna sem ser
modernosa", a ABL comprou
cinco leitores de livros eletrônicos, que foram sorteados na
sessão da última quinta.
Aluguel de imóveis
Embora o presidente se recuse em informar a receita da
ABL, é fácil supor que não é pequena. Vem principalmente do
aluguel de imóveis próprios, a
começar de um prédio de 29
andares que pertence à academia no centro do Rio (dos quais
a academia usa só dois), repleto
de salas comerciais.
O edifício, chamado "Palácio
Austregésilo de Athayde", em
homenagem ao acadêmico que
dirigiu a ABL e foi pródigo em
arrecadar doações para a entidade, fica ao lado da sede antiga, o "Petit Trianon" das sessões e do chá das cinco. (Na
quinta passada, além da infusão, havia frutas, tortas e biscoitos variados, sanduíches, almôndegas, queijo coalho e bolo
de rolo, estes últimos uma exigência do pernambucano Vilaça.)
Na ata da penúltima sessão
(de 5 de março), publicada em
boletim interno da academia ao
qual a Folha teve acesso, está
registrado que o presidente Vilaça "disse ainda que a ABL está renovando os contratos de
locação do Palácio Austregésilo
de Athayde com um incremento acima de 40%".
Informa-se ali que "a ABL
conseguiu algumas ajudas relevantes para romper a barreira
das dificuldades". Bradesco Seguros e Previdência e Fiesp patrocinarão eventos da casa. Já
com CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e Sul América, a
ABL "está em negociações".
(FV)
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