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Brasileiro fará peça de Peter Brook
O mágico Célio Amino estará no elenco da próxima ópera dirigida pelo diretor inglês, "A Flauta Mágica", de Mozart
Após apresentar espetáculo que unia dramaturgia e mágica, artista é convidado a organizar série de shows no Festival de Teatro de Curitiba
GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O brasileiro que Peter Brook
escolheu para integrar o elenco
de "A Flauta Mágica" -ópera
de Mozart que o diretor britânico deve estrear em outubro-
não é nenhum Caco Ciocler.
Tampouco tem a voz afinada de
um Paulo Szot ou a ginga de um
Nachtergaele.
Célio Amino era, até há pouco, um mágico de mãos hábeis e
truques simples, mais conhecido por apresentações em eventos corporativos do que pela
presença no palco propriamente. Neste Festival de Curitiba,
também é ele quem faz curadoria do Mish Mash, série de
apresentações performáticas.
Formado em física pela USP,
tem 39 anos, voz baixa, fala
pausada e uma formalidade de
gestos que em nada se distancia
dos antepassados japoneses.
Célio nunca havia representado em peças de teatro até
2008. Só que -surpresa!- sua
primeira investida em um espetáculo que juntou dramaturgia e ilusionismo, naquele ano,
tirou da cartola um algo a mais
sobre seu próprio destino.
Célio levou seu espetáculo
"Além da Mágica" para três salas da capital: o Tucarena, o
Teatro Folha e o Alfa. Fez temporadas sempre cheias -a divulgação boca a boca, às vezes,
cumpre bem o seu papel-, e
um vídeo em DVD do espetáculo, mais tarde, foi parar nas
mãos de Peter Brook.
No solo, os números de mágica ilustram pequenas histórias
sobre um ilusionista japonês:
"Estou sempre esquecido do
essencial. Num momento de
dificuldade -eu havia tirado
notas ruins na escola- meu
mestre me fez sua pergunta habitual: Yma, nesse instante, você sente que faz parte do mistério da vida?", diz seu personagem, pouco antes de um fio de
areia vazar-lhe pela mão -e
por quase um minuto esse fio
permanece caindo. O texto é
baseado em ensinamentos do
monge zen japonês Shunryu
Suzuki (1905-1971).
A escolha de Brook, por outro
lado, não tem tanto mistério. É
conhecido o hábito do diretor
de "pescar fora de aquário". Em
"Sizwe Banzi", que esteve em
São Paulo em 2006, um dos
protagonistas era interpretado
por Pitcho Konga, rapper congolês radicado na Bélgica.
De qualquer forma, houve
um encontro entre Célio e o diretor em janeiro de 2009 que
fundamentou a decisão de ambos. Célio participou de um
workshop em Paris junto com o
elenco da montagem sob supervisão de Brook. O convite foi
feito logo em seguida.
No workshop, o mágico fez,
entre outros números, um objeto flutuar em cena. Mas diz
que não foi essa a qualidade artística que determinou seu sucesso. "Ele não pediu para eu
fazer mágica. Pediu para improvisar, contracenar com os
cantores de forma livre."
Além dos futuros ensaios,
Amino se dedica a organizar
encontros de mágicos em Pinheiros (terças, às 21h, na rua
Ferreira de Araújo, 601), em
busca de novos caminhos para
uma arte hoje considerada naïf.
Para tanto, também iniciou
pesquisa cujo tema é "fetiche".
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