São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2010

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Brasileiro fará peça de Peter Brook

O mágico Célio Amino estará no elenco da próxima ópera dirigida pelo diretor inglês, "A Flauta Mágica", de Mozart

Após apresentar espetáculo que unia dramaturgia e mágica, artista é convidado a organizar série de shows no Festival de Teatro de Curitiba

GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O brasileiro que Peter Brook escolheu para integrar o elenco de "A Flauta Mágica" -ópera de Mozart que o diretor britânico deve estrear em outubro- não é nenhum Caco Ciocler. Tampouco tem a voz afinada de um Paulo Szot ou a ginga de um Nachtergaele.
Célio Amino era, até há pouco, um mágico de mãos hábeis e truques simples, mais conhecido por apresentações em eventos corporativos do que pela presença no palco propriamente. Neste Festival de Curitiba, também é ele quem faz curadoria do Mish Mash, série de apresentações performáticas.
Formado em física pela USP, tem 39 anos, voz baixa, fala pausada e uma formalidade de gestos que em nada se distancia dos antepassados japoneses.
Célio nunca havia representado em peças de teatro até 2008. Só que -surpresa!- sua primeira investida em um espetáculo que juntou dramaturgia e ilusionismo, naquele ano, tirou da cartola um algo a mais sobre seu próprio destino.
Célio levou seu espetáculo "Além da Mágica" para três salas da capital: o Tucarena, o Teatro Folha e o Alfa. Fez temporadas sempre cheias -a divulgação boca a boca, às vezes, cumpre bem o seu papel-, e um vídeo em DVD do espetáculo, mais tarde, foi parar nas mãos de Peter Brook.
No solo, os números de mágica ilustram pequenas histórias sobre um ilusionista japonês: "Estou sempre esquecido do essencial. Num momento de dificuldade -eu havia tirado notas ruins na escola- meu mestre me fez sua pergunta habitual: Yma, nesse instante, você sente que faz parte do mistério da vida?", diz seu personagem, pouco antes de um fio de areia vazar-lhe pela mão -e por quase um minuto esse fio permanece caindo. O texto é baseado em ensinamentos do monge zen japonês Shunryu Suzuki (1905-1971).
A escolha de Brook, por outro lado, não tem tanto mistério. É conhecido o hábito do diretor de "pescar fora de aquário". Em "Sizwe Banzi", que esteve em São Paulo em 2006, um dos protagonistas era interpretado por Pitcho Konga, rapper congolês radicado na Bélgica.
De qualquer forma, houve um encontro entre Célio e o diretor em janeiro de 2009 que fundamentou a decisão de ambos. Célio participou de um workshop em Paris junto com o elenco da montagem sob supervisão de Brook. O convite foi feito logo em seguida.
No workshop, o mágico fez, entre outros números, um objeto flutuar em cena. Mas diz que não foi essa a qualidade artística que determinou seu sucesso. "Ele não pediu para eu fazer mágica. Pediu para improvisar, contracenar com os cantores de forma livre."
Além dos futuros ensaios, Amino se dedica a organizar encontros de mágicos em Pinheiros (terças, às 21h, na rua Ferreira de Araújo, 601), em busca de novos caminhos para uma arte hoje considerada naïf. Para tanto, também iniciou pesquisa cujo tema é "fetiche".


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