São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2010

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Paris recebe mostra de Lucian Freud

Considerado o maior pintor vivo, artista britânico é tema de exposição com 55 telas no Centre Georges Pompidou

Mostra é a primeira grande do neto de Sigmund Freud na França em 22 anos; foco é a experiência do ateliê na obra do artista britânico

ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Para uma parte da crítica, ele é o maior pintor em atividade no mundo. Para outra, não passa de um acadêmico consagrado. Para o mercado de arte, sua obra é uma mina de ouro. Para os museus, trata-se de um sucesso garantido de público, como se vê nas salas lotadas de "Lucian Freud - O Ateliê", aberta na última quinta em Paris, no Centre Georges Pompidou.
É a primeira grande mostra de Freud na França em 22 anos. Com curadoria de Cécile Debray, reúne 55 telas, algumas consideradas obras-primas, e a maioria pertencente a coleções particulares, o que torna a exibição (que vai até 21/7) ainda mais atrativa. Dela consta o quadro "Benefits Supervisor Sleeping", arrematada há dois anos por US$ 33 milhões (R$ 58 milhões) -um recorde para um artista vivo.
Neto do fundador da psicanálise, Lucian Freud nasceu em Berlim, em 1922. Sua família migrou para a Grã-Bretanha em 1934, e ele se naturalizou inglês em 1939, o mesmo ano da morte do avô Sigmund. Começou a estudar artes bastante jovem, mas foi o encontro com Francis Bacon, em 1945, que libertou a sua pintura das convenções que a dominavam.
Como ocorreu com Bacon e outros nomes da "escola de Londres", Freud passou, a partir dos anos 60, a pintar quase só no ateliê. Seu método de trabalho é baseado na observação detida do modelo, num processo lento de produção, com quatro ou cinco telas por ano, as quais ele pinta sempre de pé.
Dividida em salas, o foco da mostra é a experiência do ateliê na obra de Freud, o modo como ele transformou tal espaço em seu universo pictórico.
Na primeira, "Interior/ Exterior" predomina o "embate" entre o mundo da rua e o ambiente fechado do ateliê, situado atualmente no bairro Notting Hill. Ali, estão expostas raras paisagens urbanas feitas por Freud, quase hiperrealistas, mostrando terrenos vazios e fundos de prédios.
A sala "Reflexão" agrupa uma série de autorretratos em diferentes épocas, inclusive o famoso "Painter Working, Reflection" (1993), em que ele se pintou nu, aos 71 anos. O isolamento no ateliê transforma o próprio artista em tema crucial e o estimula a refletir sobre a sua relação de poder com o modelo, às vezes com ironia.
As releituras de clássicos que Freud admira, como Cézanne e Chardin, dominam a seção "Retomadas". Mas a sala de maior impacto é "Igual à Carne - Cenografias e Composição", com nus extraordinários que fizeram a fama de Freud.
Os modelos surgem em total entrega ao pintor, tombados em camas ou no chão, gordos, estranhos, desidealizados, dessublimados. As pinceladas firmes e densas acentuam os estragos feitos no corpo pelo tempo e pelo uso. "Eu trabalho a pintura para que ela seja igual à carne", disse o pintor.
É como se, para Freud, a carne fosse o último tema da pintura figurativa, a expressão derradeira do controvertido naturalismo do artista, sobre o qual o próprio amigo Bacon emitiu um dos juízos mais severos: "O problema com a obra de Lucian é que ela é realista sem ser real".

FOLHA ONLINE

Veja fotos de obras de Lucian Freud

www.folha.com.br/100742

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