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Paris recebe mostra de Lucian Freud
Considerado o maior pintor vivo, artista britânico é tema de exposição com 55 telas no Centre Georges Pompidou
Mostra é a primeira grande do neto de Sigmund Freud na França em 22 anos; foco é a experiência do ateliê na obra do artista britânico
ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Para uma parte da crítica, ele
é o maior pintor em atividade
no mundo. Para outra, não passa de um acadêmico consagrado. Para o mercado de arte, sua
obra é uma mina de ouro. Para
os museus, trata-se de um sucesso garantido de público, como se vê nas salas lotadas de
"Lucian Freud - O Ateliê", aberta na última quinta em Paris, no
Centre Georges Pompidou.
É a primeira grande mostra
de Freud na França em 22
anos. Com curadoria de Cécile
Debray, reúne 55 telas, algumas consideradas obras-primas, e a maioria pertencente a
coleções particulares, o que
torna a exibição (que vai até
21/7) ainda mais atrativa. Dela
consta o quadro "Benefits Supervisor Sleeping", arrematada
há dois anos por US$ 33 milhões (R$ 58 milhões) -um recorde para um artista vivo.
Neto do fundador da psicanálise, Lucian Freud nasceu em
Berlim, em 1922. Sua família
migrou para a Grã-Bretanha
em 1934, e ele se naturalizou
inglês em 1939, o mesmo ano
da morte do avô Sigmund. Começou a estudar artes bastante
jovem, mas foi o encontro com
Francis Bacon, em 1945, que libertou a sua pintura das convenções que a dominavam.
Como ocorreu com Bacon e
outros nomes da "escola de
Londres", Freud passou, a partir dos anos 60, a pintar quase
só no ateliê. Seu método de trabalho é baseado na observação
detida do modelo, num processo lento de produção, com quatro ou cinco telas por ano, as
quais ele pinta sempre de pé.
Dividida em salas, o foco da
mostra é a experiência do ateliê
na obra de Freud, o modo como
ele transformou tal espaço em
seu universo pictórico.
Na primeira, "Interior/ Exterior" predomina o "embate"
entre o mundo da rua e o ambiente fechado do ateliê, situado atualmente no bairro Notting Hill. Ali, estão expostas raras paisagens urbanas feitas
por Freud, quase hiperrealistas, mostrando terrenos vazios
e fundos de prédios.
A sala "Reflexão" agrupa
uma série de autorretratos em
diferentes épocas, inclusive o
famoso "Painter Working, Reflection" (1993), em que ele se
pintou nu, aos 71 anos. O isolamento no ateliê transforma o
próprio artista em tema crucial
e o estimula a refletir sobre a
sua relação de poder com o modelo, às vezes com ironia.
As releituras de clássicos que
Freud admira, como Cézanne e
Chardin, dominam a seção
"Retomadas". Mas a sala de
maior impacto é "Igual à Carne
- Cenografias e Composição",
com nus extraordinários que
fizeram a fama de Freud.
Os modelos surgem em total
entrega ao pintor, tombados
em camas ou no chão, gordos,
estranhos, desidealizados, dessublimados. As pinceladas firmes e densas acentuam os estragos feitos no corpo pelo
tempo e pelo uso. "Eu trabalho
a pintura para que ela seja igual
à carne", disse o pintor.
É como se, para Freud, a carne fosse o último tema da pintura figurativa, a expressão
derradeira do controvertido
naturalismo do artista, sobre o
qual o próprio amigo Bacon
emitiu um dos juízos mais severos: "O problema com a obra
de Lucian é que ela é realista
sem ser real".
FOLHA ONLINE
Veja fotos de obras de Lucian Freud
www.folha.com.br/100742
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