São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Bicicletas" fortalecem tradição

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Às voltas com uma crise institucional e criativa intensificada pela recusa da Pixar em renovar a dobradinha que lhe rendeu Nemos, Monstros e afins, a Disney, maior e mais tradicional estúdio de animação do mundo, já tentou de tudo. Não deu. "Home on the Range", desenho animado que estreou em 2 de abril nos EUA, poderá ser o último projeto em 2D da companhia, ou seja: de agora em diante, só computação gráfica.
O motivo da crise é técnico? As pessoas estão cansadas dos tradicionais desenhos pintados a mão e cenários bidimensionais que fizeram a fama de Walt Disney?
Sylvain Chomet, diretor da festejada co-produção franco-belga "As Bicicletas de Belleville", que estréia finalmente hoje no país, depois de algumas poucas sessões lotadas no Anima Mundi de 2003, certamente diria que não.
Presente do começo ao final do filme -que conta a epopéia bizarra de madame Souza em busca de seu neto ciclista, seqüestrado por mafiosos americanos-, Chomet conseguiu chamar a atenção de Cannes e da Academia de Hollywood com uma animação das mais artesanais.
Foi derrotado no Oscar pelo arrasa-quarteirão "Procurando Nemo" -não por "Irmão Urso", da Disney-, mas provou por a + b que simplesmente trocar o lápis e o papel por um supercomputador como os da Pixar não basta.
"Para mim, a animação é como um manifesto. Você tem um estilo, uma técnica, mas é uma arte e você tem que se expressar por meio dela", declarou em novembro à revista especializada "Animation World Magazine".
Sem dispensar o chamado "traço duro" do quadrinho europeu, que Chomet aprendeu pelas mãos de grandes desenhistas como Hergé, Pichard e Nicolas de Crécy, seu "manifesto" mistura ainda elementos das animações clássicas de Max Fleischer, da Warner e da própria Disney.
Outro trunfo de "As Bicicletas de Belleville" é a música. Praticamente sem diálogos, em seus 80 minutos de duração, o longa-metragem abre com um videoclipe de "Belleville Rendez-Vous", composta por Benoit Charest, que rendeu a segunda indicação do desenho ao Oscar neste ano e uma vitória na categoria melhor música no prêmio Cesar de 2003.
Desde seu lançamento na França, em maio de 2003, "Bicicletas de Belleville" foi vendido para mais de 30 países. Ao contrário do que os ventos da computação gráfica possam sugerir, ainda há mercado de sobra para animações feitas do jeitinho que Disney ensinou. Pena que eles estejam prestes a abrir mão disso.


Texto Anterior: "Anjos da Noite": Lobisomens e vampiros se perdem em roteiro
Próximo Texto: Crítica: Filme encanta ao mostrar apego a valores do passado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.