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"Bicicletas" fortalecem tradição
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Às voltas com uma crise institucional e criativa intensificada pela
recusa da Pixar em renovar a dobradinha que lhe rendeu Nemos,
Monstros e afins, a Disney, maior
e mais tradicional estúdio de animação do mundo, já tentou de tudo. Não deu. "Home on the Range", desenho animado que estreou em 2 de abril nos EUA, poderá ser o último projeto em 2D
da companhia, ou seja: de agora
em diante, só computação gráfica.
O motivo da crise é técnico? As
pessoas estão cansadas dos tradicionais desenhos pintados a mão
e cenários bidimensionais que fizeram a fama de Walt Disney?
Sylvain Chomet, diretor da festejada co-produção franco-belga
"As Bicicletas de Belleville", que
estréia finalmente hoje no país,
depois de algumas poucas sessões
lotadas no Anima Mundi de 2003,
certamente diria que não.
Presente do começo ao final do
filme -que conta a epopéia bizarra de madame Souza em busca
de seu neto ciclista, seqüestrado
por mafiosos americanos-,
Chomet conseguiu chamar a
atenção de Cannes e da Academia
de Hollywood com uma animação das mais artesanais.
Foi derrotado no Oscar pelo arrasa-quarteirão "Procurando Nemo" -não por "Irmão Urso", da
Disney-, mas provou por a + b
que simplesmente trocar o lápis e
o papel por um supercomputador
como os da Pixar não basta.
"Para mim, a animação é como
um manifesto. Você tem um estilo, uma técnica, mas é uma arte e
você tem que se expressar por
meio dela", declarou em novembro à revista especializada "Animation World Magazine".
Sem dispensar o chamado "traço duro" do quadrinho europeu,
que Chomet aprendeu pelas mãos
de grandes desenhistas como
Hergé, Pichard e Nicolas de
Crécy, seu "manifesto" mistura
ainda elementos das animações
clássicas de Max Fleischer, da
Warner e da própria Disney.
Outro trunfo de "As Bicicletas
de Belleville" é a música. Praticamente sem diálogos, em seus 80
minutos de duração, o longa-metragem abre com um videoclipe
de "Belleville Rendez-Vous",
composta por Benoit Charest, que
rendeu a segunda indicação do
desenho ao Oscar neste ano e uma
vitória na categoria melhor música no prêmio Cesar de 2003.
Desde seu lançamento na França, em maio de 2003, "Bicicletas
de Belleville" foi vendido para
mais de 30 países. Ao contrário do
que os ventos da computação gráfica possam sugerir, ainda há
mercado de sobra para animações feitas do jeitinho que Disney
ensinou. Pena que eles estejam
prestes a abrir mão disso.
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